Das empresas tradicionais às startups, solução trouxe uma série de lições

Home office consolida nova forma de trabalho


Das empresas tradicionais às startups, solução trouxe uma série de lições

Até a chegada da pandemia do novo coronavírus, em 2020, uma empresa era constituída por produtos ou serviços e por um espaço físico onde funcionários trabalhavam. A cultura do home office ou do trabalho remoto, inclusive, era vista, em algumas áreas, com certo preconceito no Brasil. Isso, todos sabem, mudou drasticamente nos últimos meses.
Até a chegada da pandemia do novo coronavírus, em 2020, uma empresa era constituída por produtos ou serviços e por um espaço físico onde funcionários trabalhavam. A cultura do home office ou do trabalho remoto, inclusive, era vista, em algumas áreas, com certo preconceito no Brasil. Isso, todos sabem, mudou drasticamente nos últimos meses.
Esse novo entendimento foi decisivo, especialmente nas empresas mais tradicionais, considera a editora do blog Adoro Home Office, Marcia Breda, de Porto Alegre. "Elas eram comandadas por gestores controladores que preferem o funcionário no escritório por oito horas, mesmo que ele não trabalhe muito, do que em casa, fazendo as entregas necessárias", interpreta.
Marcia foca no tema desde muito antes do termo Covid dominar as pesquisas do Google. Em 2015, quando começou a trabalhar no modelo, observou que não tinha muito conteúdo em português sobre home office. "Vi de cara a necessidade de me conectar, conversar. Tive a chance de criar uma comunidade em torno disso e, de quebra, fazer vários amigos", celebra.
Se há seis anos a jornalista se sentia solitária, em pleno 2021 o normal é cada um trabalhando do seu quarto ou da sala. Até companhias internacionais adotaram o modelo de forma permanente. Conforme Marcia, nos últimos meses, muita gente buscou dicas e fórmulas para se adaptar. "De uma hora para a outra, todo mundo tinha uma lição, então foi um pouco trabalhoso separar o que era realmente válido", analisa.

Dicas para o home office ideal

Qual o maior benefício de se trabalhar em casa?
Isso é bem pessoal e cada um vai gostar mais de uma coisa. De forma geral, não precisar se deslocar até o escritório é um dos principais benefícios, especialmente em cidades grandes, onde é normal levar até duas horas para se chegar ao escritório.
Qual o cenário ideal para que funcione bem tanto para a empresa quanto para os funcionários?
Os cenários adequados podem variar bastante de acordo com o modelo e a natureza de cada empresa, mas o importante é existir um planejamento, uma estrutura de apoio, regras claras de acompanhamento de metas. O funcionário precisa saber exatamente como vai trabalhar, quais apoios vai receber da empresa e o que a empresa espera dele. Com as cartas todas na mesa, o home office pode ser eficiente e seguro para ambos os lados.
Como a empresa espalha sua cultura entre os funcionários que estão em home office?
Esse é um dos maiores desafios empresariais, que se intensificou muito durante a pandemia. Antes, com a possibilidade de encontros presenciais eventuais, isso era facilmente resolvido com uma convenção anual ou semestral reunindo todos os funcionários. Agora, é mais difícil, mas a maioria das empresas migrou esse tipo de experiência para o virtual, fazendo eventos, festas e até shows para a equipe. Um bom programa de onboarding também é essencial para cativar e transmitir detalhes da cultura. Uma coisa interessante de se perceber é que, independentemente do funcionário estar no escritório ou em trabalho remoto, empresas com uma cultura forte e bem organizadas conseguem impactar sua equipe de qualquer jeito.
 

Grandes empresas não voltarão atrás

O Grupo Heineken deu um mergulho no novo formato de trabalho durante a pandemia. A partir da última semana de janeiro de 2021, todos os colaboradores das áreas corporativas no Brasil passaram a atuar na modalidade remota. A decisão está alinhada à estratégia de Digital & Tecnologia da empresa e foi tomada após pesquisas terem confirmado a boa aceitação do home office pelos times, que estão confinados desde março de 2020.
Cerca de 1,3 mil pessoas que atuam nas áreas corporativas dos escritórios Heineken localizados nas cidades de São Paulo e Itu estão em teletrabalho. Para se ajustar à nova modalidade, a empresa adequou sua política de benefícios e os contratos de acordo com a regulamentação para o teletrabalho, que prevê a realização do expediente fora das dependências da empresa por, no mínimo, três vezes por semana.
A diretora de Recursos Humanos do grupo, Juliana Wei, diz que a Heineken oferece subsídios para que os colaboradores realizem a adaptação ergonômica do espaço de trabalho, como a compra de mesa, cadeira e qualquer outro utensílio que auxilie em suas atividades. Também adiciona um benefício para as despesas de consumo domiciliar, tais como internet, energia e água.
"O home office já estava estabelecido para os colaboradores corporativos, que podiam tirar um dia da semana para trabalhar de forma remota. A partir das restrições da pandemia, que nos fez repensar as formas de trabalho, e do resultado das pesquisas internas realizadas nos primeiros meses de isolamento, quando nos dispusemos a cocriar uma dinâmica que fosse mais adequada à realidade da maioria das pessoas, decidimos adotar o teletrabalho de forma definitiva", explica Juliana.
A profissional está segura de que essa é, além de tudo, uma maneira para acelerar a transformação digital de todas as áreas, dos processos e, principalmente, do mindset. "As lições ainda estão e continuarão sendo tiradas. É um movimento recente, já muito bem aceito pelos times, e que reforça a importância de estarmos próximos, ouvindo as expectativas das nossas pessoas, independentemente da distância física. Estamos distantes, mas nunca estivemos tão unidos. Foi uma decisão tomada a muitas mãos: liderança, RH e colaboradores", detalha ela.
O Grupo Heineken percebe que os gestores ficaram mais próximos de seus times e que o home office não comprometeu a produtividade e o engajamento das equipes. Os modelos mais flexíveis de trabalho, segundo Juliana, são uma tendência mundial que veio para ficar. "Esses novos formatos não são imprescindíveis apenas agora, neste momento desafiador da pandemia, mas ajudam a dinamizar o dia a dia de colaboradores que possuem carga horária diferenciada. O teletrabalho proporciona mais bem-estar, oportunidade de conexão com suas famílias, economia de tempo em deslocamentos e mais atitudes sustentáveis, segurança e possibilidade de mais flexibilidade da jornada, o que contribui com a diversidade e com a inclusão e a atração de talentos. O controle dá cada vez mais espaço para a confiança - para nós, por exemplo, o controle de jornada de trabalho será abolido. Mais produtividade com flexibilidade", afirma.
Para que o processo seja positivo para todas as pontas, a empresa inaugurou a plataforma Heineken Cuida, oferecendo suporte mental, emocional e físico em qualquer hora do dia, conteúdos e informações, além de treinar lideranças para identificar problemas.
 

Formato foi a solução para a atração de talentos

Se, em uma grande companhia, a migração para as reuniões online foi um processo complexo, para a maioria das startups isso trouxe vantagens. Agora, não há mais limites geográficos para deixar a equipe qualificada.
A Deskfy, que tinha escritório no Tecnosinos, em São Leopoldo, nasceu em 2018 com o propósito de transformar a rotina dos times de marketing, por meio das otimizações dos processos internos. Foi desenvolvido um software de gestão de ativos das marcas, que ajuda os times de marketing a escalonarem suas demandas, centralizando-as em um único lugar. Entre as companhias gaúchas que são clientes estão Tramontina, Bibi Calçados, Unisinos e Arezzo.
"Nosso principal diferencial é otimizar os processos que envolvem customização de layouts, gerenciamento de demandas, arquivos e comunicados internos, além de definir regras de acesso e permissão do que pode ou não ser alterado em customizações", explica Victor Dellorto, CEO da Deskfy.
O escritório da startup era típico do setor: ambiente inovador e descontraído, com mesa de ping pong, videogame, chopeira e área de descanso. E não havia a cultura do home office. Dellorto conta que foi cogitada até a abertura de um escritório em São Paulo em 2020 para contratação de pessoas, já que os talentos não queriam se mudar para o Rio Grande do Sul.
O home office solucionou esse problema. "Com isso, não tivemos mais dificuldades em contratar pessoas de outras regiões. Agora, temos colaboradores em alguns estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Goiás", lista o CEO. Ter um time espalhado pelo País, segundo ele, proporciona a diversidade necessária para a inovação.
Dellorto considera que a grande lição de ter deixado o escritório para trás é que a produtividade não está diretamente ligada ao presencial. Além disso, o home office se alinha a um dos valores da startup: liberdade com responsabilidade.
"O benefício mais direto que podemos observar foi a economia dos custos como aluguel, luz e internet, além dos alimentos de escritórios. Devido a essa economia, pudemos realocar esses investimentos na implementação de benefícios como Plano de Saúde e auxílio home office. Além disso, notamos que a nossa produtividade e a conexão como time melhorou. Há uma sensação de trabalharmos mais unidos e alinhados do que quando estávamos todos presentes em um local físico."