Populista Rodolfo Hernández dispara e ameaça mudar eleição presidencial na Colômbia

De estilo populista, discurso xenofóbico e misógino, além de frases curtas de efeito, vídeos populares no TikTok e estilo extravagante, Rodolfo Hernández escala rapidamente nas sondagens

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Colombian independent presidential candidate Rodolfo Hernandez (C) speaks next to former presidential candidate Ingrid Betancourt (R) during a press conference in Barranquilla, Colombia, on May 20, 2022. - Betancourt announced her coalescence to Hernandez, ahead of the May 29 general election. (Photo by Jeison Gutierrez / AFP)
Os colombianos vão às urnas neste domingo (29) escolher o próximo presidente do país. Nos últimos meses, as pesquisas mostraram poucas mudanças, indicando um segundo turno quase certo entre o esquerdista Gustavo Petro e o direitista Federico "Fico" Gutiérrez. Agora, porém, um novo personagem vem ganhando força. De estilo populista, discurso xenofóbico e misógino, além de frases curtas de efeito, vídeos populares no TikTok e estilo extravagante - chegou a dar uma entrevista à CNN de pijama -, Rodolfo Hernández escala rapidamente nas sondagens.
Desbancou do terceiro lugar o centrista Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín conhecido por reformas urbanísticas que tornaram a cidade um modelo, e agora rouba votos de Fico - Petro, por sua vez, perdeu três pontos percentuais. No último levantamento da Invamer, Petro seguia em primeiro, com 40,6%, Fico tinha 27,1%, e Hernández, 20,9%, índice bem superior ao que possuia em março, quando somava apenas 9%.
Para Daniel Coronell, principal analista político da Colômbia e editor do site Los Danieles, Hernández encarna um voto de protesto "perfeitamente compreensível". "Há muitos que não querem ver a impunidade dos poderosos premiada nem o novo manchado pela guerra", afirmou ele, em referência tanto à direita quanto à esquerda. "O eleitor de Hernández está cansado das fricções políticas desses grupos. Mas não parece pensar a longo prazo, já que o remédio de última hora que oferece pode acabar pior que a doença".
Carlos Lemoine, do Centro Nacional de Consultoria, afirma, por sua vez, que o crescimento de Hernández demonstra que a mensagem dele está se conectando com o que parte da população pensa.
Entre as promessas do candidato estão o corte de gastos - eliminando carros e motoristas de congressistas, por exemplo -, a redução do número de embaixadas e consulados e, de maneira genérica, "o fim da corrupção". Ele também prometeu fazer uma "limpeza" na Federação Colombiana de Futebol, que considera corrupta. Por outro lado, é a favor da legalização das drogas, como forma de acabar com o narcotráfico.
Quando questionado sobre o uso de palavrões e adjetivos pouco delicados, afirmou ser espontâneo, alguém que "fala dessa maneira com amigos". Por se expressar assim, foi processado em Bucaramanga - e perdeu. Hernández disse que o Corpo de Bombeiros local era formado por "gordos e preguiçosos".
Seu estilo de campanha, que guarda semelhanças com os eventos de Jair Bolsonaro no Brasil, é novidade na Colômbia: nas redes sociais, convoca marchas de motos e caminhonetas, as "rodolfonetas". Nos comícios, apoiadores usam camisetas com frases como "eu apoio o velhinho", referência aos 76 anos de idade de Hernández. Em cada lugar que visita, usa chapéus e roupas locais.
Assim como outros populistas, costuma dizer que não está na política por dinheiro. Isso, afirma ele, já tem. "Trabalhei para comprar as coisas que hoje possuo", afirmou, referindo-se à cobertura em que vive no bairro mais nobre de Bucaramanga. Alguns veículos de comunicação o chamam de "Trump colombiano".
Filho de um alfaiate e de uma gerente de tabacaria, Hernández fez fortuna no ramo imobiliário no departamento de Santander, no norte do país. Apesar de se vender como "outsider", não é um desconhecido no meio político. Foi prefeito de Bucaramanga, capital da região, e deixou o cargo bem avaliado, com cerca de 50% de aprovação popular, mesmo após ter sido alvo de uma investigação por irregularidades na contratação de serviços públicos e favorecimento de familiares. Quando convocado a responder o processo referente ao caso, renunciou. O caso ainda não foi concluído.

Hernández promete mais empenho para implementar o acordo de paz com as Farc

Em sua trajetória, há também eventos trágicos. Em 1994, a extinta guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) sequestraram seu pai, e Hernández pagou o resgate. Dez anos depois, o Exército de Libertação Nacional (ELN), guerrilha ainda ativa, sequestrou sua filha, morta pelos criminosos.
Ainda assim, Hernández não tem uma postura vingativa e promete mais empenho para implementar o acordo de paz com as Farc e retomar a negociação com o ELN. As críticas dirigidas ao atual presidente, Iván Duque, fortes, acusam-no de pouco fazer para pacificar o país.
Fico, atual segundo colocado, é apoiado apenas por parte dos uribistas, por não ser um afilhado direto do ex-presidente Álvaro Uribe. Se o bloco transferir seu apoio para Hernández, ele poderia virar uma ameaça maior ao esquerdista Petro em um eventual segundo turno, já que Fico estagnou nas sondagens.
Nos últimos dias, o empresário recebeu o