Mais de 3 mil pessoas morreram tentando chegar à Europa por mar em 2021, diz ONU

A cifra é o dobro da observada em 2020, quando 1.544 mortes foram relatadas no Mediterrâneo e no Atlântico

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Libyan health workers recover bodies of drowned migrants, who were hoping to travel to Europe by sea, after a shipwreck off the beach in Sabratha, some 120 kilometres west of the Libyan capital Tripoli, on November 25, 2021. (Photo by AFP)
Mais de 3.000 pessoas morreram ou desapareceram no ano passado quando tentavam chegar à Europa por rotas marítimas no Mediterrâneo e no Atlântico, mostra relatório divulgado pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) nesta sexta (29).
A cifra é o dobro da observada em 2020, quando 1.544 mortes foram relatadas nas duas rotas, ainda de acordo com o alto comissariado. O braço das Nações Unidas começou a divulgar relatórios consolidados sobre o assunto em 2019 e, desde então, os números anuais cresceram. Até aqui, o ano de 2022 registrou 478 mortes ou desaparecimentos de pessoas que tentavam chegar, por mar, ao continente.
De acordo com o Acnur, a pandemia de Covid e o fechamento das fronteiras na tentativa de conter o vírus impactaram diretamente os fluxos migratórios. Sem outras alterativas, muitos imigrantes recorreram a traficantes para tentar deixar seus países rumo à Europa.
"Temos insistido que é preciso fortalecer ações humanitárias de desenvolvimento para lidar com os fatores que forçam as pessoas a migrarem", disse Shabia Mantoo, porta-voz do Acnur, durante entrevista coletiva em Genebra. A organização tem insistido para que governos desenvolvam alternativas para que imigrantes não fiquem à mercê de traficantes ou que coloquem suas vidas em risco.
O relatório mais recente indica que mais de 53 mil pessoas chegaram à Itália por mar no ano passado, número que supera em 83% aquele observado um ano antes. Outras 23 mil pessoas desembarcaram nas ilhas Canárias, número similar ao de 2020.
Houve aumento de 61% no número daqueles que emigram por mar da Tunísia no ano passado em comparação com o ano anterior. Para a Líbia, o salto foi de 150% no mesmo período. Já as saídas da Argélia aumentaram cerca de 3%. Marrocos, Mali, Guiné, Eritreia, Egito e Senegal também são pontos de atenção do material.
A maioria das travessias marítimas, que podem chegar a durar 10 dias, é feita com botes infláveis superlotados e em péssimo estado de conservação - muitas embarcações desinflam ou viram no oceano, o que provoca a morte e o desaparecimento dos migrantes.
As cifras coletadas pelo Acnur não incluem aqueles migrantes que desaparecem ou morrem durante rotas terrestres, como as que percorrem o deserto do Saara, nem os que ficam detidos em centros administrados por contrabandistas, onde os sobreviventes relatam casos de violência sexual, casamento e trabalho forçados.
O Mediterrâneo é a rota migratória mais mortal do mundo. Desde 2014, projeto da OIM (Organização Internacional para as Migrações) documentou pelo menos 17 mil mortes e desaparecimentos no trajeto.
A australiana Shabia Mantoo acrescentou que a morte não é o único perigo para os imigrantes, que também enfrentam violações de direitos humanos, como execuções extrajudiciais, detenções ilegais e arbitrárias, violências sexuais, trabalho forçado e análogo à escravidão.
O Acnur solicitou US$ 163,5 milhões para ajudar a potencializar a assistência humanitária aos que precisam de proteção internacional e aos sobreviventes de abusos de direitos humanos. O maior montante iria justamente para o norte da África e para a Costa do Marfim.
A organização também disse que fatores como a instabilidade política, a deterioração socioeconômica e a emergência climática tendem a provocar aumento da migração para a Europa nos próximos anos.