Entenda o que o resultado do 1º turno na França diz sobre a política do país

Macron e Le Pen agora cortejam a significativa parcela dos eleitores que escolheram o representante do partido França Insubmissa

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This picture taken on April 12, 2022, in Paris, shows a voter's card and ballot papers for French presidential candidates Emmanuel Macron, incumbent president of the centrist La Republique en Marche (LREM) party, and Marine le Pen, of the far-right Rassemblement National (RN) party. - Macron and Le Pen face each other in a presidential run-off vote on April 24, 2022. (Photo by JOEL SAGET / AFP) Caption
O duelo pela presidência da França entre Emmanuel Macron, 44, e Marine Le Pen, 53, trará às cédulas do segundo turno no próximo dia 24 os nomes dos mesmos candidatos que disputaram um mandato para o Palácio do Eliseu em 2017.
A votação do último domingo (10) permite inferir, porém, que os últimos cinco anos provocaram mudanças significativas no cenário político francês. Parte da transformação se deve ao conjunto de crises com o qual Macron teve que lidar desde que foi eleito, em especial as dos últimos dois anos: primeiro, a pandemia de coronavírus e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia.

Pontos-chave das eleições presidenciais na França

Macron e Le Pen repetem disputa, mas ambos estão mais fortes

De acordo com a

Mélenchon surpreendeu e quase chegou ao 2º turno

Considerado a maior surpresa do 1º turno da votação, Jean-Luc Mélenchon, 70, obteve 21,95% dos votos. O esquerdista radical ficou, portanto, a 1,2 ponto de Le Pen - o equivalente a pouco mais de 420 mil votos. Parte de seu bom desempenho se deve à constatação do eleitorado de que ele seria o único nome viável na esquerda dividida, que contava ainda com o verde Yannick Jadot, o comunista Fabien Roussel e a socialista Anne Hidalgo - sem contar outros nanicos. Sozinho, Mélenchon teve mais que o dobro de votos desses três outros esquerdistas somados.
Macron e Le Pen agora cortejam a significativa parcela dos eleitores que escolheram o representante do partido França Insubmissa. Mélenchon pediu que sua base apoie o atual presidente, mas de acordo com uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), só 33% indicaram que seguiriam a diretriz. A maior parte (44%) reúne os que pretendem se abster, votar em branco ou anular a participação, e os outros 23% cruzarão o espectro político para votar em Le Pen.

Ausência de ideais em debate levou à alta abstenção

Das últimas 11 eleições presidenciais na França, que abrangem um período de quase 60 anos, esta foi a que teve o segundo maior índice de abstenção. De acordo com o Ministério do Interior, 25,1% dos franceses não compareceram às urnas. A taxa só não foi maior que a do pleito de 2002, de 28,4%.
Houve mais franceses abrindo mão do direito ao voto na eleição - direito não obrigatório no país - do que votando em Le Pen, por exemplo. Para analistas, o baixo comparecimento se deve, ao menos em partes, à ausência de grandes ideais em jogo. Enquanto o pleito de 2017 acentuou a polarização e, por consequência, mobilizou mais os eleitores, a campanha atual foi ofuscada pela guerra da Ucrânia.
Macron, à frente na disputa, fez um único comício e só confirmou sua candidatura na véspera do prazo final. O atual presidente e sua opositora não fizeram nenhum embate público direto e têm se limitado a trocar farpas por meio de entrevistas, pronunciamentos e publicações em redes sociais.

Guerra na Ucrânia teve pouco impacto na campanha

Desde antes do início do conflito entre Rússia e Ucrânia, Macron buscou se projetar como uma espécie de porta-voz da Europa ao negociar com o presidente Vladimir Putin. Ao longo do conflito, seu papel de mediador trouxe em certa medida um caráter mais global à eleição na França.
O foco de Le Pen, por sua vez, sempre foi o discurso nacionalista. Mas mesmo os seus antigos comentários pró-Putin, no mesmo tom dos que comprometeram Zemmour, não lhe impuseram um desgaste político devido a sua agilidade em condenar a invasão russa no conflito atual.