Retirada de civis de Mariupol volta a falhar na Ucrânia

Cerca de 290 mil pessoas teriam deixado a cidade no sul do país desde o início da guerra, mas outras 170 mil ainda estão presas ali

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Embora a operação maior tenha falhado, Cruz Vermelha conseguiu retirar cerca de 3.000 pessoas da cidade
Sitiada, sem acesso à ajuda humanitária e principal exemplo dos impactos da guerra, a cidade portuária de Mariupol assistiu nesta sexta (1º) a mais uma tentativa de retirada de civis ser frustrada. A equipe da Cruz Vermelha que se dirigia para o local, com o objetivo de possibilitar a passagem segura das pessoas, teve de recuar.
Em nota, a organização humanitária explicou que a equipe, composta por três veículos e nove pessoas, voltou para a cidade de Zaporíjia porque "condições impossibilitaram" a continuidade da missão. E declarou: "Para o sucesso da operação, é fundamental que as partes respeitem os acordos e forneçam garantias de segurança".
O Ministério da Defesa da Rússia anunciou na quinta (31) que abriria um corredor humanitário na cidade localizada no sul da Ucrânia. Moscou alegou estar atendendo a pedidos do presidente da França, Emmanuel Macron, e do premiê da Alemanha, Olaf Scholz. A Cruz Vermelha também pleiteava que a operação fosse realizada.
Ao longo desta sexta, porém, os indícios de que a retirada dos civis seria mais uma vez impossibilitada começaram a surgir. O governador da região de Donetsk, no Donbass, Pavlo Kirilenko, acusou tropas russas de impedirem que o corredor humanitário fosse operacional.
A cidade é considerada estratégica por Moscou, uma vez que permitiria criar uma ponte terrestre entre a península da Crimeia, anexada em 2014, e as autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass, que Moscou reconheceu dias antes de iniciar a invasão.
Autoridades locais afirmam que mais de 5.000 civis morreram na cidade desde 24 de fevereiro, quando teve início a guerra. Somente o ataque a um teatro que servia de abrigo para deslocados internos do conflito teria deixado 300 pessoas mortas. A confirmação das cifras por organizações internacionais, porém, é difícil, justamente pela impossibilidade de acessar a região.
A prefeitura da cidade diz estima que 90% dos edifícios foram danificados e 40%, completamente destruídos. Cerca de 290 mil pessoas teriam deixado Mariupol desde o início da guerra, mas outras 170 mil ainda estão presas ali.
O escritório de direitos humanos das Nações Unidas diz que, até a noite de quinta, 1.276 civis haviam morrido em todo o país e outros 1.981 ficaram feridos - reconhece, porém, que as cifras são subnotificadas. Das vítimas, ao menos 115 seriam crianças.