Olaf Scholz é eleito chanceler da Alemanha para suceder Angela Merkel

Novo governo promete aplicar a 'maior modernização industrial' da história recente da Alemanha

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Scholz, além de ministro das Finanças, foi vice-chanceler no quarto mandato de Merkel
Dois meses e meio depois das eleições na Alemanha, o social-democrata Olaf Scholz foi eleito nesta quarta-feira (8) chanceler, o que significa o retorno da centro-esquerda ao poder após 16 anos de governo da conservadora Angela Merkel. Scholz, 63 anos, recebeu 395 votos a favor dos 736 deputados do Bundestag, que foram eleitos na votação de 26 de setembro.
"Sim", respondeu Scholz à presidente do Parlamento, Bärbel Bas, ao ser questionado se aceitava o resultado da votação. O presidente da República, Frank-Walter Steinmeier, entregou ao social-democrata o documento que oficializa sua nomeação e marca o início de seu mandato.
O ex-ministro das Finanças dirigirá uma coalizão inédita em mais de seis décadas, composta pelo SPD (Partido Social-Democrata), Verdes e os liberais do FDP. No sistema político da Alemanha, um governo que pretende ser estável precisa contar com mais de 50% dos deputados do Parlamento. Como raramente um partido consegue sozinho essa marca, entra a costura de coalizões.
Apesar dos programas eleitorais muitas vezes divergentes, SPD, Verdes e FDP conseguiram estabelecer uma agenda que se concentra na proteção do clima, no rigor orçamentário e na questões da Europa.
Antes de assumir o cargo, Scholz, além de ministro das Finanças, foi vice-chanceler no quarto mandato de Merkel.
O primeiro governo liderado pela centro-esquerda em 16 anos também será o primeiro com um ministério distribuído igualmente entre mulheres e homens. Seguindo uma promessa de campanha de Scholz, oito pastas serão ocupadas por mulheres, e oito, por homens.
O vice-chanceler será o copresidente do Partido Verde Robert Habeck, de 52 anos, que assumirá também um superministério da Economia e Clima.
Já o Partido Liberal Democrático ficará com o mais poderoso dos ministérios, o das Finanças, que será comandado pelo presidente da sigla, Christian Lindner, de 42 anos. Ele deverá dar continuidade a uma política de austeridade fiscal, sem aumento de impostos.
O ministério do Interior será liderado pela primeira vez por uma mulher, a também social-democrata Nancy Faeser, de 51 anos. Já a copresidente do Partido Verde, Annalena Baerbock, ficou com a pasta do Exterior.

Novo governo assume em meio à 4ª onda de Covid-19

O novo governo alemão assume em um momento extremamente delicado, com a 4ª onda da pandemia do novo coronavírus pressionando o sistema de saúde de diversos estados do país e com seguidos recordes de novas infecções. A Alemanha registrou nesta quarta-feira 527 mortos pela doença, o maior número desde fevereiro de um total de 104 mil óbitos.
O SPD nomeou o deputado e epidemiologista Karl Lauterbach como ministro da Saúde. Lauterbach se tornou uma figura conhecida durante a pandemia, defendendo a vacinação e a imposição de lockdowns em diversas entrevistas. Ele também já defendeu tornar a vacina obrigatória e restringir ainda mais a locomoção dos não vacinados. No momento, apenas 69,1% da população está totalmente vacinada.
Scholz já manifestou ser favorável a uma obrigatoriedade, e o novo governo deve começar a impor a exigência para trabalhadores da área da saúde e funcionários de lares de idosos, que terão até março para estarem totalmente imunizados. A pandemia "vai exigir toda a nossa força e energia", afirmou ele.
No plano externo, Scholz também terá que lidar com as recentes ações da Rússia para desestabilizar a Ucrânia. Na terça-feira, ele já havia exortado a Rússia a respeitar a integridade da fronteira ucraniana e descreveu a situação criada pela movimentação de tropas russas como "muito grave". "Para nós, a inviolabilidade das fronteiras é inquestionável", disse Scholz na sua primeira conferência de imprensa depois da assinatura, em Berlim, do acordo de coligação entre SPD, verdes e os liberais do FDP.
No plano interno, o novo governo alemão terá que lidar com as cobranças crescentes para que o país faça mais para a proteção climática, especialmente na transição para uma matriz energética mais limpa. Também estão na pauta o combate ao extremismo de direita, especialmente no seio das forças de segurança, a modernização da infraestrutura na Alemanha e o combate à desigualdade.
Scholz ainda tem um desafio pessoal adicional: assumir o mesmo papel de liderança na Europa que Merkel interpretou com destreza por 16 anos. Analistas apontam que, até ele consolidar seu poder, é provável que outros líderes europeus, como o presidente francês, Emmanuel Macron, enxerguem uma oportunidade para assumir papéis mais assertivos de liderança, aproveitando o vácuo deixado por Merkel.
Como estabelece a tradição, Scholz reservará sua primeira visita ao exterior ao presidente francês, que deve recebê-lo na sexta-feira.
 

Era Angela Merkel chega ao fim após 16 anos

O resultado da votação marca o