Oposição no Chile entra com pedido de impeachment de Piñera por caso Pandora Papers

Processo deve ser aprovado por ao menos 78 dos 155 deputados; votação ocorreria na primeira semana de novembro

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Opositores, maioria na Câmara, assinaram pedido nesta quarta-feira
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, tornou-se alvo de uma "acusação constitucional" - equivalente a um pedido de impeachment - movida pela oposição nesta quarta-feira (13) em decorrência de possíveis irregularidades cometidas em um caso revelado pelos Pandora Papers.
Embora Piñera não seja um candidato nas eleições presidenciais de novembro, o avanço do processo de acusação constitucional representaria mais uma derrota política para o líder conservador. De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, o candidato esquerdista Gabriel Boric segue na liderança das intenções de voto, enquanto o governista Sebastián Sichel tem perdido apoio e vê a vaga no segundo turno ameaçada pelo candidato da ultradireita, José Antonio Kast.
Piñera nega qualquer irregularidade. No dia seguinte à publicação das primeiras reportagens baseadas nos Pandora Papers, ele disse desconhecer a transação milionária apontada nos documentos.
Segundo a investigação jornalística, o comprador da mineradora - Carlos Alberto Délano, amigo íntimo de Piñera - que pertencia à família do presidente exigiu que fosse barrada a criação de uma área de proteção ambiental na zona de operação da empresa, o que atrapalharia a extração de minérios na região.
A negociação, ainda de acordo com a reportagem, movimentou US$ 152 milhões (R$ 838 milhões) e foi dividida em três parcelas, sendo que a última apenas seria liberada caso não fosse estabelecida a área de proteção.
À época, Piñera estava no primeiro ano de seu primeiro mandato na presidência do Chile e acabou não delimitando a região como zona verde. O pagamento, portanto, teria sido confirmado. Além disso, todo o acordo foi conduzido nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe. Em tese, esse tipo de atividade financeira não é ilegal, mas pode ser usado para evitar o pagamento de impostos, esconder a real identidade do proprietário e facilitar lavagem de dinheiro para atividades ilícitas.

Pandora Papers revelou políticos que mantêm contas em paraísos fiscais

Capitaneada por mais de 140 veículos jornalísticos de 117 países, a investigação - batizada de Pandora Papers em referência ao mito grego da caixa que continha todos os males da humanidade -, expõe desde o início de outubro centenas de empresários, celebridades e políticos que possuem contas em paraísos fiscais - como Suíça, Singapura, Chipre, Belize e Ilhas Virgens Britânicas.
Entre os principais líderes mundiais que apareceram nas apurações estão, além de Piñera, o presidente russo, Vladimir Putin; o rei Abdullah, da Jordânia; o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski; e Guillermo Lasso, presidente do Equador.
No Brasil, foram expostos o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. No caso de Guedes, as investigações apontam que ele abriu, em 2014, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas em que depositou US$ 9,55 milhões (R$ 23 milhões na época).