Crise no Afeganistão eleva risco de terrorismo na Europa, dizem analistas

Mas chances de EI se tornar uma ameaça para países europeus são menores

Por

Atenção voltará para jhadistas com o julgamento dos ataques em Paris
A tomada de poder pelo grupo fundamentalista islâmico Taleban no Afeganistão aumenta o risco de terrorismo na Europa. Mas, segundo especialistas em atividades extremistas e na prevenção de atentados, as ações devem ser mais pontuais que as das décadas passadas.
A possibilidade de que grandes operações sejam preparadas no país da Ásia Central e realizadas na Europa "parece estar excluída", principalmente porque as agências antiterrorismo se fortaleceram muito após os atentados do 11 de setembro, diz o ex-agente de inteligência francês Claude Moniquet, que dirige o Centro Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança. A recriação de uma base de retaguarda da Al-Qaeda no Afeganistão para atentados terroristas no Ocidente também é vista como pouco provável no curto prazo pelo islamologista e professor de ciência política e criminologia da Universidade de Liège, na Bélgica, Alain Grignard.
Segundo o professor, o Taleban fará tudo para evitar que o Afeganistão seja visto como território livre para terroristas. "Foi justamente devido à Al-Qaeda que o emirado islâmico construído pelo Taleban em 1996 foi destruído", afirma Grignard, que atuou na divisão antiterrorismo da Polícia Judiciária Federal belga e integra o Centro de Estudos de Terrorismo e Radicalização da Universidade de Liège.
O islamologista diz que o
Essa visibilidade pode estimular apoiadores mais ou menos próximos da causa a cometer ataques improvisados, como os que ocorreram no ano passado, durante o julgamento do atentado contra os jornalistas da publicação satírica Charlie Hebdo.

Estratégia atual do Taleban também pode conter riscos

Para Maaroufi, a crise no Afeganistão deveria mostrar a líderes ocidentais que é ingenuidade acreditar em um Taleban "mais moderno e inclusivo". "Fundamentalistas querem impor suas visões de mundo pela força e pela coerção", diz a educadora, que trabalha na prevenção à radicalização islâmica em Bruxelas.
Moniquet também vê riscos na estratégia atual do Taleban de se mostrar menos radical, para obter reconhecimento e garantir a continuidade do regime. Segundo o especialista, para convencer os líderes ocidentais, terão que fazer concessões em relação a direitos das mulheres e, em menor medida, liberdade de expressão, o que deve desagradar membros mais radicais - "e são muitos" - e dividir o movimento.
"Se grandes partes do país escapassem de seu controle, grupos como a Al Qaeda ou EI-Khorasan (braço afegão do EI) poderiam florescer e planejar ações, pelo menos regionais, que se materializariam em ataques em países vizinhos ou contra interesses ocidentais nesses Estados", afirma Moniquet.
A transformação do Afeganistão em local seguro para grupos terroristas, como antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, seria um risco no longo prazo, afirma Pauwels, do Instituto para a Paz. "Vários combatentes estrangeiros ocidentais que lutaram com o Estado Islâmico na Síria e no Iraque ainda não voltaram para casa e podem continuar lutando ou recebendo treinamento militar em outros locais, incluindo o Afeganistão", diz ela, o que pode representar uma ameaça direta à Europa se esses cidadãos decidirem voltar aos países de origem para promover atentados.
Por fim, "outro problema se agiganta", segundo Maaroufi: a possibilidade de que extremistas islâmicos se instalem na Europa durante os esforços para acolher refugiados políticos. "O direito de asilo é fundamental, mas será preciso exercer vigilância e prudência", afirma ela. Essa é uma preocupação já manifestada pela comissária responsável por imigração no bloco europeu, Ylva Johansson.
Em 2013, a Comissão Europeia tentou criar um sistema de registro obrigatório para todos os ingressantes no bloco, a partir do Eurodac, um amplo banco de dados com impressões digitais, mas a proposta foi atacada por entidades de direitos humanos. Moniquet é mais um a não descartar a possibilidade de que "elementos terroristas infiltrados sob a cobertura de pessoas retiradas ou refugiados" realizem ações em Paris, Londres ou Nova York, ainda que em menor escala.