ONU teme grave crise migratória com retomada do poder pelo Taleban

Na ausência de paz e desenvolvimento, mais pessoas serão forçadas a deixar suas casas no Afeganistão e buscar proteção em outros locais ou países

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(FILES) In this file photo internally displaced Afghan children stand outside their temporary mud house at a refugee camp in Kabul on November 23, 2020. - The United States said on August 2, 2021 it will take in thousands more Afghan refugees, fearing for the safety of people with US associations as America ends its longest war. The State Department said it will expand the eligibility of refugee admissions beyond the roughly 20,000 Afghans who have already applied -- with some being evacuated out -- under a program for interpreters who assisted US forces. (Photo by WAKIL KOHSAR / AFP)
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), aponta o risco de uma grande crise humanitária de deslocamento forçado após os
O Afeganistão já é, atualmente, a terceira maior origem de pessoas refugiadas no mundo, atrás apenas da Síria e da Venezuela. De acordo com a última edição do relatório anual Tendências Globais do Acnur, publicado no final de 2020, há 2,6 milhões de pessoas que saíram do país em busca proteção internacional. Há também um enorme fluxo interno. Três milhões de famílias foram obrigadas a deixar suas casas: 65% das pessoas que precisaram se mudar para outras cidades são crianças e jovens.

Retirada dos Estados Unidos, depois de 20 anos, intensificou a situação

Os novos deslocamentos registrados neste ano o presidente afegão Ashraf Ghani deixou o país e o controle do palácio presidencial foi assumido pelos rebeldes.
Diante do cenário, os EUA montaram uma operação para acelerar a conclusão do processo de saída de seus cidadãos do país. As tropas norte-americanas ainda controlam o aeroporto e tentam organizar o embarque de diplomatas e cidadãos dos EUA. Nesta semana, imagens que ganharam repercussão internacional mostraram um cenário de caos no local, com milhares de civis desesperados para deixar o país, correndo e tentando se agarrar aos aviões.
Parte da população está apavorada devido ao histórico dos talebans, que governaram o país entre 1996 e 2001. Na ocasião, o grupo extremista promoveu execuções de adversários e aplicou sua interpretação da Sharia, a lei islâmica. Um violento sistema judicial foi implantado: pessoas acusadas de adultério podiam ser condenadas à morte e suspeitos de roubo sofriam punições físicas e até mesmo mutilações.
O uso de barba se tornou obrigatório para os homens e as mulheres não poderiam ser vistas publicamente desacompanhadas dos maridos. Além disso, elas precisavam vestir a burca, cobrindo todo o corpo. Televisão, música e cinema foram proibidos e as meninas não podiam frequentar a escola. Embora venha apresentando um discurso moderado, há receio de que o Taleban volte a exercer o poder com violência.
 
 
 

Acnur abre campanha de doações e monta estratégias para ajudar

Diante da possibilidade de uma crise migratória, o Acnur desenvolve ações específicas para o Afeganistão e já há uma campanha de doação aberta. Em nota, a agência pede que seja garantido ao trabalho humanitário livre acesso aos civis e comunidades que estejam em situação de vulnerabilidade no país.
O texto também cobra a responsabilidade das nações, para que permitam que as pessoas que fogem da guerra possam ter acesso aos seus territórios e encontrem proteção. "Embora os campos de refugiados possam ser usados como uma medida temporária no caso de grandes massas de refugiados, o Acnur defende a busca por alternativas mais sustentáveis no longo prazo no que diz respeito à recepção e à acolhida", registra a nota. O Acnur também recomenda cautela com processos de deportação de afegãos nesse momento.
A agência se mantém exclusivamente com a ajuda financeira de pessoas físicas, governos e empresas privadas. "Diante da complexidade de crises humanitárias, as doações são fundamentais para ampliar o alcance e o impacto dos programas do Acnur na vida de milhares de crianças, homens e mulheres", diz Godinho.