Um mês após eleição presidencial, Peru ainda não declarou vencedor

Apuração apontou o esquerdista Pedro Castillo como vitorioso; ele terminou a disputa 44 mil votos à frente da líder da direita radical, Keiko Fujimori

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Castillo já trabalha nos bastidores para formar equipe de governo
O Peru realizou em 6 de junho o segundo turno da eleição que decidirá o próximo presidente do país. Passados 30 dias, porém, o resultado oficial ainda não foi anunciado, e o futuro do país segue indefinido.
A novela continua apesar de o Onpe, órgão eleitoral do país, ter concluído áudios nos quais Montesinos conversa, da prisão, com um militar aposentado sobre um possível suborno a juízes do JNE para garantir a vitória de Keiko. As acusações de interferência do ex-chefe da inteligência estão sendo investigadas pela procuradoria do país e, ao menos por enquanto, nenhum dos juízes do tribunal foi afastado por envolvimento no caso.
Mesmo assim, a divulgação dos áudios serviu para mostrar à opinião pública peruana que o fujimorismo vem atuando nos bastidores para ajudar a eleger Keiko. Entre as conversas vazadas há ainda diálogos nos quais Montesinos debate estratégias políticas com Kenji, irmão da candidata.

De esquerda, Castillo sinaliza que adotará tom mais moderado

Do outro lado, Castillo tem sinalizado que deixará o discurso mais radical de esquerda e pretende adotar, como presidente, tom mais moderado. Apesar de insistir na ideia de reformar a Constituição e instaurar um novo tribunal eleitoral, afirmou que respeitará a atual Carta, o Congresso e a propriedade privada.
Trata-se de uma posição bem mais amena que as apresentadas na campanha, durante a qual assustou as principais mineradoras instaladas no país. O Peru tem no cobre, no petróleo e em outros recursos naturais seus principais produtos de exportação, e os rumores de uma nacionalização nos moldes da promovida por Evo Morales na Bolívia alarmou empresas chinesas, americanas, espanholas e canadenses.
Em outro sinal para acalmar o mercado internacional, Castillo afirmou que pedirá a Julio Velarde, atual presidente do Banco Central, que continue no cargo, indicando continuidade na política macroeconômica.
Nessa área, Castillo tem confiado o tema a Pedro Francke, assessor que defende um modelo para o Peru parecido ao da Frente Ampla, coalizão de esquerda que governou o Uruguai durante 15 anos.
Por outro lado, opositores do virtual eleito veem com preocupação a figura de Vladimir Cerrón, presidente do Perú Libre, partido de Castillo. Mais radical e líder de grupos de "ronderos" - grupo paramilitar com forte presença no interior e que segue uma agenda de esquerda mais datada, dos anos 1970 -, ele viu uma acusação de corrupção cair na semana passada, o que o deixa livre para ocupar cargos públicos. Assim, pode liderar um dos ministérios, ainda que seu nome provoque grandes divisões até mesmo na esquerda.
Enquanto isso, Keiko apelou a Sagasti para que solicite à Organização dos Estados Americanos (OEA) uma auditoria do processo eleitoral. O presidente interino se recusou, alegando, entre outras coisas, que a própria organização já havia acompanhado a eleição sem detectar nenhuma irregularidade. Além da OEA, observadores independentes e o governo dos EUA afirmaram que o pleito ocorreu sem sobressaltos.
O atual ministro da Justiça, Eduardo Vega, também disse que o governo, "pelo princípio de neutralidade, deve respeitar as instituições do Estado e, por isso, não atenderá ao pedido". Antes, Sagasti já havia se recusado a receber uma carta de militares aposentados com mais de cem assinaturas em favor da realização de uma nova eleição no país.