Morre aos 90 anos Carlos Menem, presidente da Argentina de 1989 a 1999

O peronista, que permaneceu 10 anos no poder, surfou em apoio popular no momento em que a maioria dos argentinos estava fascinada pela política de câmbio fixo

Por Folhapress

Menem pavimentou caminho para a maior crise econômica do país
Morreu neste domingo (14), aos 90 anos, o ex-presidente da Argentina Carlos Saúl Menem, líder que pavimentou o caminho para a maior crise econômica e social que a Argentina já conheceu. Ele estava internado há meses por problemas respiratórios e cardíacos e faleceu em uma clínica de Buenos Aires, segundo a imprensa argentina.
O peronista, que permaneceu 10 anos no poder, surfou em apoio popular no momento em que a maioria dos argentinos estava fascinada pela política de câmbio fixo - US$ 1 equivalia a 1 peso -, adotada para pôr fim à hiperinflação. Na prática, no entanto, a estratégia gerou um ilusório intervalo de estabilidade.
A crise já havia consumido o mandato de seu antecessor, Raúl Alfonsín, que acabou renunciando em julho de 1989, seis meses antes do previsto. Naquele ano, a inflação saltou de 460% em abril a 764% em maio.
O suposto milagre operado pelo câmbio fixo deu a Menem, já como presidente, força suficiente para negociar com Alfonsín, líder da União Cívica Radical, tradicional adversária do peronismo, uma mudança que lhe permitiu tentar a reeleição, até então vetada pela Constituição.
O segundo mandato oferecia as condições para romper as amarras do câmbio fixo que, se por um lado, controlava a inflação - o governo não podia emitir um único peso a mais do que gerava com suas receitas -, por outro destruía o tecido econômico, especialmente o industrial. Era mais barato importar casacos de pele da Alemanha do que produzi-los localmente, embora o setor tivesse tradição no país.
A população, porém, desconfiada de sua própria moeda, não queria nem ouvir falar em liberar o câmbio.
Quando Menem deixou a Casa Rosada, em 1999, a recessão já havia se instalado e ganharia força nos anos seguintes. O caminho iniciado pelo peronista terminaria em uma fogueira política e social que obrigaria o sucessor Fernando de la Rúa a fugir de helicóptero, abandonando o poder.
A impopularidade de medidas econômicas como a do "corralito" - sequestro de poupanças e contas de milhões de argentinos - e da maxidesvalorização do peso levaram a grandes protestos de rua, nos quais confrontos entre forças de segurança e manifestantes causaram a morte de 39 pessoas.

Mandato foi marcado por privatizações e escândalos de corrupção

Advogado de família libanesa, nascido em Anillaco, na província de La Rioja, em 10 de julho de 1930, Menem marcou a política argentina ao rasgar a cartilha do heterogêneo movimento peronista, nacionalista e estatizante, para adotar políticas ultraliberais. Elegeu-se prometendo um "salariazo", ou seja, salários gigantes, e governou entregando privatizações em massa.
Seu período na Presidência foi marcado por denúncias de corrupção - uma delas, o escândalo de exportação de armas ao Equador e à Croácia, entre 1991 e 1996, que teria gerado transferências de cerca de US$ 10 milhões (R$ 53,7 milhões, na cotação atual) para contas na Suíça, acabou levando-o brevemente à prisão domiciliar, em 2001.
Em 2013, devido ao episódio, foi condenado a sete anos de prisão. O mesmo aconteceu dois anos mais tarde, quando voltou a ser condenado em outro caso, de suborno a autoridades com dinheiro público.
Ainda assim, Menem se elegeu senador em 2005 e seguiu se reelegendo ao final de cada mandato, sempre por La Rioja. Mas seu papel no peronismo em nível nacional limitou-se ao de votar, quase sempre a favor, das propostas elaboradas pelo peronismo kirchnerista, herdeiro do caos que o peronismo menemista provocou na Argentina.
Em 2018, no entanto, diferiu da bancada kirchnerista votando contra a Lei do Aborto, colaborando para que fosse vetada pelo Congresso.