Eleições EUA: Trump destrói tradições e deixa marca conservadora no Judiciário

Ações do presidente norte-americano nos últimos quatro anos impactaram políticas nacionais e internacionais

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Ações do presidente norte-americano nos últimos quatro anos impactaram políticas nacionais e internacionais
Há oito meses, a candidatura de Donald Trump à reeleição era considerada imbatível: a economia estava pujante, o desemprego, no menor nível em 50 anos, e 4,5 milhões haviam deixado a pobreza. Mas o

Medidas internacionais de Trump afetaram relações com outros países

No cenário global, os EUA encolheram de forma vertiginosa. Trump rompeu com a política externa em vigor desde o fim da Segunda Guerra, segundo a qual o país deveria se envolver em problemas mundiais, mesmo aqueles que não os afetasse diretamente. Em contrapartida, ganhava influência para determinar as regras globais, diz coordenadora do programa de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Fernanda Magnotta.
Sob Trump, os EUA deixaram acordos de redução de armas e o pacto nuclear com o Irã,
 
O mais impactante foi, de longe, a guerra comercial e tecnológica com a China. Trump impôs tarifas sobre US$ 550 bilhões em produtos chineses, e os EUA sofreram retaliação com taxas sobre US$ 185 bilhões em produtos americanos. Exportadores de soja americanos e parte da indústria sofreram as consequências, e a guerra não trouxe indústrias de volta, como Trump prometera.
 
Os dois países chegaram em janeiro a um acordo preliminar, no qual a China se comprometia a aumentar, em dois anos, as compras de produtos americanos no valor de US$ 200 bilhões. Mas o país asiático está longe de cumprir a promessa. Os EUA continuam a registrar déficit comercial com a China, e o acordo fechado com Xi Jinping não toca nas questões mais complicadas, como exigência de transferência de tecnologia de empresas americanas para se instalarem na China, subsídios para empresas estatais e roubo de propriedade intelectual.
 
No front tecnológico, os EUA impuseram inúmeras sanções contra a Huawei, fornecedora chinesa de infraestrutura de 5G, e ameaçaram banir aplicativos como TikTok e WeChat. As relações entre os países pioraram durante a pandemia, e os líderes dos dois países não se falam desde março.
 

Derrota de Trump pode significar novos desafios para o Partido Republicano

Se críticos destacam aspectos negativos do mandato, apoiadores de Trump têm o que comemorar. O republicano conseguiu estabelecer uma guinada conservadora no Judiciário - nomeou 217 magistrados federais, além de três juízes da Suprema Corte, que agora pende de forma acentuada para a direita. Isso pode ter impacto em questões caras à base do republicano, como direito ao aborto e casamento gay. Mesmo que Trump perca, ele deixará essa marca no país, celebrada por conservadores.
Já o futuro do Partido Republicano, no caso de derrota de Trump, é mais incerto. Com o presidente, a legenda se moveu cada vez mais para longe dos princípios conservadores de Margareth Thatcher e Ronald Reagan: política fiscal ortodoxa (dívida atingiu recorde) política externa que pregava a expansão da democracia no mundo (o líder norte-americano foi hostil a aliados da Otan e se aproximou de autocratas como o russo Vladimir Putin, o húngaro Viktor Orbán e o turco Recep Tayyip Erdogan) e livre comércio (é um dos presidentes mais protecionistas da história).
Na realidade, essa transformação começou antes de Trump, com a ascensão do movimento populista Tea Party a partir de 2009. Mas, com o atual presidente, saiu das margens e consumiu o partido. É fato que Trump capturou o espírito do tempo e percebeu que a ortodoxia na economia e no livre comércio alienava uma parcela importante de seu eleitorado, que estava perdendo seus empregos e suas indústrias devido à China e à globalização
Conciliar os valores fundamentais do Partido Republicano - que não incluem simpatia a supremacistas brancos nem hostilização de aliados - com a preocupação com os empregos e a classe média, e não apenas com Wall Street e as elites, será um desafio para os republicanos pós-Trump.