ONU aponta Maduro e ministros como responsáveis por crimes contra humanidade na Venezuela

Entre as práticas mencionadas no documento estão assassinatos, uso sistemático de tortura, desaparecimentos forçados e detenções arbitrárias

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Entrevistas com sobreviventes indicaram como tortura espancamento, choques elétricos e uso de drogas para induzir confissões
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e alguns de seus ministros mais importantes estão ligados a possíveis crimes contra a humanidade, afirma um relatório divulgado nesta quarta-feira (16) pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Maduro e ministros ordenaram diretamente ou contribuíram para crimes com o objetivo de silenciar a oposição. FOTO: JHONN ZERPA/Venezuelan Presidency/AFP/JC

De acordo com Marta Valiñas, presidente da comissão formada para investigar as denúncias, existem "motivos razoáveis para acreditar que as autoridades venezuelanas e as forças de segurança planejaram e executaram graves violações dos direitos humanos desde 2014".
Entre as práticas mencionadas no documento estão assassinatos, uso sistemático de tortura, desaparecimentos forçados e detenções arbitrárias. "Longe de serem atos isolados, esses crimes foram coordenados e cometidos de acordo com as políticas do Estado, com o conhecimento ou o apoio direto de comandantes e altos funcionários do governo", afirma Marta.
Segundo os investigadores, além de Maduro, os ministros Néstor Reverol (Interior) e Vladimir Padrino López (Defesa) ordenaram diretamente ou contribuíram para os crimes documentados no relatório com o objetivo de silenciar a oposição.
O conselho da ONU também concluiu que oficiais do Exército, da polícia e do Serviço Nacional de Inteligência cometeram uma série de execuções extrajudiciais. Mais de 5 mil mortes foram investigadas e, embora nem todas tenham sido arbitrárias, os investigadores dizem que a Venezuela tem uma das taxas mais altas de mortes provocadas por agentes do Estado na América Latina.
"Essas execuções extrajudiciais não podem ser atribuídas à falta de disciplina das forças de segurança", diz Marta. "Os assassinatos parecem fazer parte de uma política de eliminação de membros indesejados da sociedade sob o pretexto de combater o crime."
Ainda segundo o relatório, a investigação encontrou indícios de que agentes venezuelanos forjaram evidências para simular confrontos e tentar incriminar suas vítimas.

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Um dos capítulos do relatório completo, ao qual a Folhapress teve acesso, é dedicado a elencar "fatores estruturais que contribuem para as violações". Segundo o texto, a
A líder dos investigadores também sugere que entidades como o Tribunal Penal Internacional (TPI) considerem ações judiciais contra indivíduos responsáveis pelas violações de direitos humanos na Venezuela. O TPI é o principal órgão responsável pelo julgamento de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, de agressão entre Estados e de genocídios.
O embaixador da Venezuela nas Nações Unidas, Jorge Valero, disse, nesta terça-feira (15), que está cooperando com o gabinete de Michelle Bachelet, alta comissária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, e que autoridades venezuelanas estavam facilitando visitas às prisões.
Os investigadores, entretanto, dizem que o país não respondeu aos pedidos de informação e às solicitações de visitas. As entrevistas foram remotas e a comissão também analisou uma série de documentos confidenciais e arquivos de processos judiciais.