Pandemia deve ampliar em 48% mortes por fome no mundo

Brasil, que deixou o Mapa da Fome em 2014, tem grave problema de acesso à comida, mesmo produzindo bastante

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Programas de auxílio emergencial enfrentam dificuldades para chegar a todos os necessitados atingidos pela pandemia
Até o fim de 2020, o número de mortes relacionadas à fome no mundo chegará a 37 mil por dia. A previsão consta no relatório da ONG Oxfam, divulgado na quarta-feira (8), com base em dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2019, as mortes diárias em razão da crise alimentar chegaram a 25 mil, mas os efeitos da pandemia de coronavírus devem ampliar em 12 mil o total neste ano - alta de 48%.
O estudo identifica que os casos mais graves se concentram em nove países e uma região onde vivem 65% da população global em situação de crise alimentar. A maior parte está em áreas de conflito, na África e no Oriente Médio, mas países como Brasil, Índia e África do Sul também terão de lidar com aumento da fome. "Veremos um aumento das pessoas passando fome no Brasil e precisamos tomar as medidas necessárias. Agora e depois da pandemia", afirmou Maitê Guato, gerente de programas da Oxfam Brasil.
De acordo com ela, programas como o auxílio emergencial enfrentam dificuldades para atingir todos os necessitados, e milhares de cidadãos não têm celular, acesso à internet ou e-mail para se cadastrar e receber o recurso. "Os impactos sociais e econômicos vão perdurar por um tempo mais longo que a pandemia. Se suspendermos esses auxílios, tanto o emergencial quanto o apoio para manutenção de emprego e renda, empurraremos milhões de pessoas para a extrema pobreza e a fome", disse.
Para o Brasil, que deixou o Mapa da Fome em 2014, a Oxfam faz um alerta.
Em seu relatório, a Oxfam cita seis ações necessárias para reduzir a insegurança alimentar no mundo, que em 2019 afetou a vida de 821 milhões de pessoas - quatro vezes a população do Brasil. Com a pandemia, mais 122 milhões podem entrar na estatística, chegando a mais de 900 milhões de indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade.

 

Medidas Propostas

Uma das medidas propostas é financiar o envio de ajuda humanitária da ONU, considerada fundamental para garantir a vida e a subsistência de milhões em países pobres. Em um contexto de recrudescimento do nacionalismo, a Oxfam considera as ações multilaterais coordenadas.
Um segundo ponto é o fortalecimento de sistemas alimentares, deixando-os mais sustentáveis e menos suscetíveis a interrupções, como fechamento de fronteiras. "Vivemos em um mundo que produz mais alimentos do que seria necessário e ainda assim temos índices altíssimos de fome", afirmou o economista Walter Belik, professor da Unicamp, especializado em segurança alimentar e um dos criadores do Programa Fome Zero no Brasil.
 

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