Evo Morales diz que direita tenta dar golpe de Estado na Bolívia

OEA considera como melhor opção a realização de um segundo turno

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Presidente falou pela primeira vez sobre os protestos no país
Candidato ao quarto mandato, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse, ontem, que há uma tentativa de golpe de Estado contra ele. "Denuncio ante o povo boliviano: está em processo um golpe de Estado. Ele foi preparado pela direita, com apoio internacional. Até agora, temos aguentado e suportado com paciência para evitar violência", declarou em entrevista coletiva.
Apesar das acusações, Evo não apresentou nenhuma evidência para sustentar seu argumento. "Não estamos em tempos de colônia. Vamos defender a democracia, o povo organizado recuperou a democracia. Quero dizer à direita boliviana: não sejam responsáveis pelo enfrentamento boliviano, não semeiem o ódio. Somos todos uma grande família", acrescentou.
Foi a primeira vez que o presidente falou após os protestos que se espalharam pelo país nos últimos dias, culminando com a convocação de uma greve geral por prazo indefinido e uma grande marcha nas principais ruas de La Paz na noite de terça-feira. As manifestações provocaram incêndios e vandalismo. Ao afirmar que estava em gestação um golpe de Estado, Evo disse que isso estaria ocorrendo com a interrupção forçada da contagem de votos em algumas centrais, que foram atacadas por manifestantes.
Evo foi dado como vencedor pelo governo faltando contar 4% dos votos, que o presidente afirma que dariam a ele "uma maior vantagem". Com o placar, o atual presidente sairia vencedor contra Carlos Mesa, com uma estreita margem de 10,1% dos votos. Na Bolívia, para ganhar em primeiro turno é preciso ter 50% dos votos mais um ou 40%, desde que o segundo colocado esteja dez pontos percentuais atrás do primeiro.
A apuração dos resultados gerou protestos pelo país e levou o próprio governo a pedir, na terça-feira, uma auditoria externa da votação. Convocada a auditar os resultados, a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou ontem que considera como "melhor opção" a realização de um segundo turno.

O imbróglio da apuração dos votos

Dois métodos
No domingo, após o fechamento das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral começou a apuração usando dois métodos: somando os votos registrados em atas, que traziam os totais de cada mesa, e contando os votos um a um. Apenas os resultados do primeiro foram divulgados.
Empate técnico
Às 22h40min de domingo, com 89% das urnas apuradas, Evo tinha 45,7% contra 37,8% de Mesa - o resultado levaria a um segundo turno, cenário previsto por pesquisas de intenção de votos.
Apuração suspensa
Durante a noite, nenhum voto foi computado, e a contagem feita pelas atas foi interrompida. Na segunda-feira pela manhã, o tribunal afirmou que a apuração um a um mostrava resultados diferentes; o jornal oficial El Cambio publicou manchete dando vitória a Evo.
Nova contagem
Diante das divergências, a contagem passou a ser feita, novamente, pelo método um a um.
Retorno às atas
Na noite de segunda-feira, com 95,22% das urnas apuradas, Evo foi anunciado vencedor no primeiro turno com 46,86% dos votos, contra 36,73% de Mesa. O adversário não reconheceu os resultados das atas.