Sri Lanka culpa jihadistas por ataques

Número de mortos em explosões ocorridas no domingo de Páscoa chega a 290 pessoas

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Ontem pela manhã, uma van explodiu próximo a uma igreja em Colombo
O governo do Sri Lanka apontou o grupo jihadista NTJ (National Thowheeth Jama'ath, ou Organização Nacional Monoteísta, em tradução livre) como responsável pelos ataques a igrejas e hotéis que deixaram 290 mortos e 500 feridos no domingo de Páscoa. O país não registrava um cenário de tamanha violência desde o fim da guerra civil, há dez anos.
Desde ontem, o país está em estado de emergência. A medida decretada pelo governo aumenta os poderes das forças de segurança, que poderão interrogar e prender suspeitos sem ordem judicial.
Até a tarde de ontem, 24 pessoas haviam sido detidas por suspeita de relação com os ataques. Rajitha Senaratne, ministra da Saúde, disse que os atentados tiveram participação estrangeira. "Os documentos de inteligência reportam que organizações terroristas estrangeiras estão por trás dos terroristas locais", disse ela, em entrevista coletiva. O Sri Lanka pediu ajuda de outros países para investigar os ataques.
Apontado como autor dos ataques, o NTJ era conhecido no Sri Lanka por vandalizar estátuas budistas. Em 2016, seu secretário, Abdul Razik, foi preso por incitar racismo. Não estão descartados o envolvimento da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, pela complexidade e coordenação entre os ataques.
Nenhum grupo reivindicou a autoria das ações. Investigadores disseram que sete homens-bomba participaram dos ataques. Dois deles se explodiram no hotel de luxo Shangri-La, em Colombo. Os outros miraram três igrejas e outros dois hotéis. A maioria das explosões do domingo ocorreu durante missas de Páscoa ou em salões de hotéis, onde os hóspedes tomavam café da manhã.
Uma nova explosão ocorreu ontem pela manhã em uma van que estava perto de uma igreja em Colombo. A bomba detonou enquanto agentes tentavam desarmá-la, segundo a agência Reuters. Não há informações sobre feridos. Também nesta segunda-feira, a polícia encontrou 87 detonadores de bombas em um terminal de ônibus da cidade.
Dez dias antes dos ataques, um policial avisou as autoridades de segurança sobre uma possível ameaça do grupo NTJ às igrejas. O documento com a denúncia foi visto por agências de notícias. O comando da segurança do Sri Lanka disse que não chegou a receber o alerta.
O país tem um histórico de tensão entre a maioria budista e as minorias hindu, muçulmana e cristã. Segundo o censo de 2012, 75% da população do Sri Lanka é budista, 12,6% hindu, 9,7% muçulmana e 7,6% cristã (sendo a maioria católica). Após o ataque, o governo decretou um toque de recolher e bloqueou acesso a redes sociais e a aplicativos de mensagens, como Facebook e WhatsApp, com a intenção de evitar o surgimento de boatos.

Empresário dinamarquês perdeu três de seus quatro filhos nos atentados

Acredita-se que a maioria das vítimas era natural do Sri lanka, mas ao menos 35 eram estrangeiros. Perderam suas vidas oito britânicos, cinco indianos, três dinamarqueses, dois turcos, dois australianos, um português, uma pessoa de Bangladesh, além de "diversos cidadãos norte-americanos", nas palavras do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
A chef de cozinha do Sri Lanka Shantha Mayadunne e sua filha, Nisanga Mayadunne, estão entre as vítimas. Shantha era uma personalidade famosa no país: foi a primeira mulher a apresentar um show gastronômico ao vivo na TV. Sua filha, que tinha por volta de 30 anos, estudava na Universidade de Londres, cidade onde morava.
Empresário do ramo de moda e homem mais rico da Dinamarca, Anders Holch Povlsen, perdeu três de seus quatro filhos durante os ataques. Povlsen é proprietário do grupo Bestseller, que possui marcas como Vero Moda e Jack & Jones. As mortes foram confirmadas pela empresa, mas a identidade e a idade das vítimas não foram reveladas. "Pedimos que a privacidade da família seja respeitada e não faremos outros comentários", declarou à AFP Jesper Stubkier, gerente de comunicações da Bestseller.