Incêndio em Notre Dame de Paris derruba parte da catedral

Procuradoria francesa já abriu uma investigação para determinar o que iniciou o fogo

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The steeple of the landmark Notre-Dame Cathedral collapses as the cathedral is engulfed in flames in central Paris on April 15, 2019. - A huge fire swept through the roof of the famed Notre-Dame Cathedral in central Paris on April 15, 2019, sending flames and huge clouds of grey smoke billowing into the sky. The flames and smoke plumed from the spire and roof of the gothic cathedral, visited by millions of people a year. A spokesman for the cathedral told AFP that the wooden structure supporting the roof was being gutted by the blaze. (Photo by Geoffroy VAN DER HASSELT / AFP)
Atualizada às 18h21.
Um incêndio atinge, nesta segunda-feira (15), a Catedral de Notre Dame, no centro de Paris, uma das igrejas mais visitadas do mundo e o monumento histórico mais visitado da Europa. Imagens mostram fumaça saindo do topo da catedral medieval. Uma grande operação está em curso, de acordo com o Corpo de Bombeiros da capital francesa. Minutos depois do início do incêndio, a torre e o teto da igreja colapsaram completamente.

VÍDEOS JC: Catedral em chamas e a comoção dos parisienses

De acordo com o porta-voz de Notre Dame, o incêndio foi declarado às 18h50min do horário local (13h50 de Brasília), praticamente na mesma hora em que acabava o horário de visitação (18h45). A polícia isolou a área e está retirando os muitos turistas que estavam dentro da catedral, diz a agência Efe.
Segundo o corpo de bombeiros, o incêndio provavelmente está ligado a reformas do edifício que estão em curso. A procuradoria francesa já abriu uma investigação para determinar o que iniciou o fogo.
"Um terrível incêndio está em curso na Catedral Notre Dame de Paris. Os bombeiros estão tentando controlar as chamas. Estamos mobilizados no local em estreita ligação com a diocese de Paris. Convido todos a respeitar o perímetro de segurança", escreveu em seu Twitter a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.

Bombeiros realizam grande operação para apagar incêndio na edificação. Foto Bertrand Guay/AFP/JC

"Está tudo queimando, não restará nada da estrutura, que data do século XIX de um lado e do XIII do outro", lamentou pouco antes André Finot, porta-voz da catedral.
O presidente da França, Emmanuel Macron, cancelou um discurso à nação que faria nesta tarde por conta do incêndio. Ele se dirige ao local, assim como o primeiro-ministro Édouard Philippe. "Como todos os nossos compatriotas, estou entristecido nesta tarde de ver esta parte de nós queimar", disse o presidente.
No ano passado, a Igreja Católica na França lançara um apelo urgente pela mobilização de fundos para salvar a igreja, que estava começando a desmoronar. A catedral gótica, rodeada pelas águas do Rio Sena, recebe em média 12 milhões de visitantes ao ano, mais até do que a Torre Eiffel.
Em 2013, a igreja completou 850 anos. É também famosa por ser o cenário do romance Nossa Senhora de Paris, do escritor Victor Hugo.
O edifício foi construído ao longo de 200 anos entre 1163, durante o reinado de Luis VII, e 1345. Dentro da igreja, há um acervo de importância artística inestimável, incluindo um órgão do século XVII ainda em funcionamento. Há também pinturas e gravuras que relatam a História da catedral e da cidade de Paris. Dezesseis estátuas de bronze haviam sido removidas na semana passada por conta das obras em curso.
Com agências internacionais, O Globo, Estadão Conteúdo e Folhapress.

Construção da catedral levou 180 anos

Saqueada em várias ocasiões, a Catedral de Notre-Dame de Paris, símbolo do triunfo da arte gótica sobre a barbárie, completaria 857 anos em dezembro deste ano. A primeira pedra da Notre-Dame de Paris (Nossa Senhora de Paris) foi assentada durante o reinado de Luis VII, enquanto a cidade medieval de Paris crescia em população e em importância como centro político e econômico do reino da França.
Foi Victor Hugo que, em seu livro Notre-Dame de Paris, publicado em 1831, lançou o grito de alarme, alertando que a histórica catedral, menosprezada durante longo tempo, estava em ruínas.
Protagonizada pelo Corcunda de Notre-Dame, que vive no campanário da catedral, entre os gárgulas, o romance é impregnado pela paixão de Victor Hugo pela esplêndida construção gótica, uma proeza tecnológica da época medieval.
A construção da Notre-Dame na Île de la Cité, uma pequena ilha no centro de Paris, rodeada pelas águas do rio Sena, levou 180 anos: desde 1163, quando começou a construção no local de uma catedral romana, até 1345.
Em meados do século 12, essa catedral romana era muito pequena para a população de Paris, cujo crescimento havia disparado.
Surgiu então o projeto de construir uma imensa catedral, de 135 metros de largura e 40 metros de altura, uma testemunha da prosperidade relativa do momento, quando a fome e as epidemias diminuíram.
A tentação de perfurar, para ganhar luminosidade, os espessos muros da arquitetura romana -únicos capazes até então de resistir à pressão das abóbodas emparelhadas, parecia naquela época uma loucura.
Seria necessário construir mais alto, transformando as abóbodas de ogiva em arcos, perfurando as paredes com imensos vitrais que difundiriam a luz do dia em um arco-íris de cores.
Em uma época em que 99% da população era analfabeta, a catedral era um "catecismo de pedra", disse Christian Citeau, guia da associação, acrescentando que por isso foi construída uma esplanada, um espaço de transição entre o mundo dos homens e de Deus, "onde se poderia encontrar as mensagens" religiosas.
Nestes quase oito séculos, a Catedral dedicada à Virgem Maria foi restaurada e sofreu acréscimos em várias ocasiões-a maior parte delas nos séculos 17 e 18.
Importantes modificações fizeram com que a catedral evoluísse do estilo gótico primitivo ao gótico superior, com a construção de terraços que substituíram os tetos inclinados, enquanto a parte superior dos arcos foi reformada para permitir a saída das águas da chuva.
No Renascimento, a Notre-Dame perdurou em meio a um desinteresse geral pelas catedrais chamadas "góticas", um termo depreciativo que designa um estilo "godo", ou seja, de "selvagens".
Desde Francisco I até Napoleão, os soberanos esconderam o estilo original da catedral, camuflando seus pilares e multiplicando as estátuas barrocas, sem prestar atenção à harmonia de seu estilo.
Os reis celebravam ali os grandes acontecimentos, até o século 13, um século negro para a catedral. Os líderes religiosos, estimando que os coloridos vitrais "comiam a luz", substituíram muitos deles por cristais brancos. Por sorte sobreviveram as rosetas.
Com a revolução, a catedral foi fechada, nacionalizada, profanada, despojada metodicamente. Seus tesouros foram roubados e a construção foi usada para armazenar alimentos.
A catedral de Notre-Dame foi restaurada para celebrar o acordo entre a França e a Santa Sé, em 1801, e para a coroação de Napoleão Bonaparte, em 1804. Mas em 1831 voltou a ser saqueada e seus vitrais foram quebrados.
Na época romântica, que enaltecia a expressão artística de outras épocas, a Notre-Dame foi vista com novo interesse. Foi então que Victor Hugo despertou a consciência com seu livro "Notre-Dame de Paris".
A ressurreição da construção começou em 1844, guiada pelo arquiteto francês Eugène Viollet-le-Duc.