A guerra dos tanques, aviões e metralhadoras

Diplomacia não conseguiu evitar que nações buscassem resolver diferenças nas armas

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INT - Soldado francês segura um crânio em um campo de batalha da Primeira Guerra Mundial - internacional (FILES) Undated picture released by the International Contemporary Documentation Library (BDIC) shows a French soldier holding a human skull on a battlefield during the First World War. - World War I's deadliest and most decisive battles were fought in Europe, on the Western Front slashing through the muddy fields of northern France and Belgium. The front line stretched more than 700 kilometres (435 miles), from the North Sea to the Vosges mountains near Switzerland. (Photo by STR / Coll. BDIC / AFP)
O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando gerou forte reação por parte de Áustria-Hungria. O império buscou um confronto com a Sérvia, e, em 23 de julho, um ultimato foi apresentado a Belgrado, que recusou um dos termos. Cinco dias depois, o império austro-húngaro declarou guerra à Sérvia. Essa foi a primeira de uma série de declarações que vieram a seguir. A diplomacia tentou evitar o uso das armas, mas não conseguiu se impor aos chefes militares. Assim, no dia 1 de agosto de 1914, a Alemanha declarou guerra à Rússia, e, no dia 3, à França. Tinha início a Primeira Guerra Mundial.
A Alemanha acreditava que a Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia) se fortalecia e estaria em superioridade em 1916-1917. Era preciso, portanto, antecipar a ação. Além disso, os germânicos apostavam em uma neutralidade britânica. O plano alemão era derrotar a França em uma investida rápida através da Bélgica e, depois disso, investir todas as forças contra a Rússia.
O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Paulo Visentini aponta três erros alemães: acreditar que teria facilidade para cruzar a Bélgica; subestimar os britânicos; e menosprezar os russos. Com o ingresso de Londres e Moscou no conflito, a guerra se espraiou de Leste a Oeste. Nos meses iniciais, as diplomacias tentavam conquistar aliados. O Império Otomano aderiu à Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália), enquanto o Japão juntou-se à Entente.
O fim do primeiro ano de conflito foi de guerra de posições na frente ocidental, com construção de fortificações, trincheiras, barreiras de arame farpado, blindagens, pontos de observação e campos minados. "Iniciava-se uma guerra de desgaste, tensão e esgotamento das forças humanas, técnicas e industriais", destaca Visentini.

Dois milhões de mortos em apenas duas batalhas

O equilíbrio no Ocidente e a insistência alemã em derrotar os russos no Leste marcaram 1915. O ano seguinte, no entanto, presenciou os dois embates mais sangrentos do conflito. Travada de fevereiro a dezembro de 1916, a Batalha de Verdun deixou um gigantesco saldo de mortes - entre 714 mil e 976 mil cadáveres de ambos os lados. Já a Batalha do Somme se deu na região do rio de mesmo nome, também no Nordeste francês. De julho a novembro, mais de 1,1 milhão de soldados morreram (mais de 500 mil alemães, 420 mil britânicos e 202 mil franceses). A carnificina - a maior da guerra - resultou em um avanço de apenas dez quilômetros nos territórios ocupados pelas forças germânicas.
Até 1917, a guerra era, essencialmente, um conflito europeu, havendo fronts secundários nos Bálcãs no Oriente Médio e em colônias africanas alemãs, como Togo, Namíbia, Camarões e Tanzânia. Abril de 1917 marcou a entrada dos Estados Unidos na guerra. Os norte-americanos lucraram com o conflito. Visentini observa que, com empréstimos para França e Grã-Bretanha na casa dos US$ 11 bilhões, somado ao fornecimento de insumos e materiais ao Velho Continente, os EUA tiveram um salto econômico, e o coração do mercado financeiro mundial saiu de Londres e passou a bater em Nova Iorque.
Se o início de 1917 foi de reforço para Entente, com ingresso dos norte-americanos, o final foi de perda, com a saída dos russos do conflito após a tomada do poder pelos bolcheviques - o Tratado de Brest-Litovsk, que oficializou a retirada russa, foi assinado em 3 de março de 1918. Antes disso, em janeiro de 1918, o presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson anunciou a proposta de paz que ficou conhecida como os Quatorze Pontos. O espírito da proposta consistia em incentivo ao livre comércio, direito de autodeterminação dos povos, publicização de tratados, redução dos contingentes militares e criação de uma organização internacional que promovesse e garantisse a paz (a Sociedade das Nações).
Com o fim dos combates no Leste, a Alemanha reforçou suas tropas no Oeste, realizando grandes ofensivas contra Paris em março, maio e julho de 1918, sem êxito. Com a chegada dos EUA, a Entente avançou, e os germânicos recuaram. Uma solicitação de armistício foi ignorada, e, em 20 de setembro, o Kaiser Guilherme II enviou um pedido de paz ao presidente dos Estados Unidos, que não foi respondido. Ciente da superioridade, a Entente fez questão de demonstrar, no campo de batalha, que era a vencedora da guerra.
Em 30 de outubro, o Império Otomano capitulou. A Áustria vinha perdendo terreno e viu operários tomarem Budapeste e proclamarem a independência da Hungria em 31 de outubro. Em 3 de novembro, o Império Austro-Húngaro pediu um armistício. A Aliança ruía.
Na Alemanha, um movimento de contestação se instalou. Uma rebelião de marinheiros em 3 de novembro insuflou o país, desencadeando uma greve geral em Berlim, no dia 8. A Entente havia conseguido o que queria e, assim, respondeu ao pedido de fim de hostilidades. Com um crescimento dos grupos que exigiam o fim da monarquia, um movimento de parte do Partido Socialdemocrata alemão com a elite industrial proclamou a república no país.
Em 11 de novembro, o armistício era assinado, com os alemães tendo de abandonar os territórios franceses e belgas que ainda dominavam, desmilitarizar o território na fronteira ocidental e entregar boa parte do armamento. Mais de quatro anos depois do início, a Primeira Guerra chegava ao fim, com um saldo de 17 a 19 milhões de mortos - sendo 9 milhões de civis.
 

As inovações da guerra

  • METRALHADORAS Eram divididas em modelos leves (de 9kg a 14kg) e pesados (de 40kg a 69kg). No início da guerra, foram utilizadas apenas as metralhadoras pesadas, que eram apoiadas em tripés, exigiam de três a seis homens para operá-las e disparavam até 500 tiros por minuto.
  • TANQUES Os blindados supriram três necessidades das tropas: locomoção, segurança e poder de fogo. O veículo britânico Mark I, de 1916, pesava 28 toneladas e media oito metros de comprimento, possuindo duas versões, uma com um canhão e outra com metralhadoras.
  • ARMAS QUÍMICAS O gás clorídrico foi utilizado a partir de 1915, mas o mostarda era o mais temível, pois provocava queimaduras, abcessos com pus, irritação de mucosas e cegueira, contaminando pelo contato com a pele. Causava uma morte dolorosa e exigia a descontaminação do terreno.
  • AVIÕES A aviação atuou no reconhecimento do terreno. Foi utilizada para bombardeios do solo e combates aéreos. No início, as bombas eram lançadas com as mãos e os tiros, disparados com pistolas e rifles. Em 1918, a aviação de caça já existia, com aviões carregando até 1,5 tonelada de explosivos.