Com desmate recorde, Amazônia supera mil km2 de destruição em abril pela 1ª vez

Ao todo, foram 1.012 quilômetros quadrados perdidos, número 74% maior do que o recorde anterior para o mês

Por Agência Estado

Aerial picture showing a deforested piece of land in the Amazon rainforest near an area affected by fires, about 65 km from Porto Velho, in the state of Rondonia, in northern Brazil, on August 23, 2019. - Bolsonaro said Friday he is considering deploying the army to help combat fires raging in the Amazon rainforest, after news about the fires have sparked protests around the world. The latest official figures show 76,720 forest fires were recorded in Brazil so far this year -- the highest number for any year since 2013. More than half are in the Amazon. (Photo by CARL DE SOUZA / AFP) floresta amazônica Amazônia
O desmatamento na Amazônia bateu novo recorde. Pela primeira vez, a área derrubada da floresta ficou acima de mil quilômetros quadrados em abril, segundo dados de alertas do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Ao todo, foram 1.012 quilômetros quadrados perdidos, número 74% maior do que o recorde anterior para o mês (580 km quadrados, atingidos em abril do ano passado). Na gestão Jair Bolsonaro, houve uma escalada na destruição do bioma, o que tem motivado críticas ao governo no Brasil e no exterior.
O valor da perda deve ser ainda maior, uma vez que os dados do Inpe são para 29 dias do mês. O resultado final deve sair na próxima semana. Abril ainda é um mês chuvoso, o que chama ainda mais atenção para o avanço do desmatamento. Comparado à série histórica dos meses de abril, a área desmatada é 165% maior. Desde agosto do ano passado, os alertas de desmate vêm batendo recordes: em outubro, janeiro, fevereiro e agora em abril.
Além de esvaziar os órgãos de fiscalização ambiental, a gestão Bolsonaro também tem reivindicado abrir a floresta para a exploração econômica, como em sua defesa do garimpo em áreas protegidas, como terras indígenas.
Falta de fiscalização
Para a secretária executiva do Observatório do Código Florestal, Roberta Del Giudice, os dados mostram o impacto da falta de fiscalização. "Se houvesse expectativa de punição pelo descumprimento da lei, certamente não estaríamos vendo a destruição da floresta para abertura de novas áreas para lavoura e pecuária. A expectativa de impunidade é um vetor crucial de destruição da Amazônia que pode ser revertido, pois temos a legislação para todos. É preciso que a lei seja cumprida.", diz ela.
"As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro", critica Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. "O próximo presidente terá uma dificuldade extrema de reverter esse quadro, porque o crime nunca esteve tão à vontade na região como agora", afirma.
"O contexto forma uma tempestade perfeita", diz Raul Valle, diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil. "Internamente, temos três anos de impunidade, com redução das ações de controle, fiscalização e autuação, agravados em 2021 por um discurso ainda mais permissivo por causa da temporada eleitoral. E, com a guerra, a escassez de produtos aumenta o valor das commodities e vigora a falsa ideia de que é necessário desmatar mais para produzir mais, o que é um equívoco", acrescenta.