Levantamento geológico em Porto Alegre deve identificar 200 áreas de risco

Com a meta de atualizar as informações, nova versão elaborada por Defesa Civil e Serviço Geológico do Brasil deve ser entregue até o final de 2022

Por Fabrine Bartz

Bairro Hípica, na Zona Sul, é atingido pela água do arroio do Salso
Embora a redução de riscos de desastres seja um dever da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios previsto pela Lei nº12.608, a estimativa é que 44.632 porto-alegrenses vivam em 119 áreas de risco, de acordo com o mapeamento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) entre 2012 e 2013. Com a meta de atualizar as informações antes de completar uma década, a nova versão do levantamento deve ser entregue até o final de 2022.
Além do medo, há 22 anos, a aposentada Teresinha Casser enfrenta o risco direto de inundações no bairro Hípica, na Zona Sul de Porto Alegre. Localizada no final da rua e próxima ao arroio do Salso, a residência de Teresinha é atingida pela água toda vez que chove de forma intensa, situação que é potencializada pelo despejo de lixo no arroio. Da última vez, ainda antes da pandemia, Teresinha e o marido, Pedro Casser, perderam alimentos e parte do móveis, pois a água chegou na altura do joelho, indica a moradora. “Ainda bem que minha função com a sociedade eu já cumpri e me aposentei, mas se eu tivesse que trabalhar, não teria como”, lamenta.
Há 22 anos, a aposentada Teresinha Casser e o marido, Pedro, enfrentam inundações no bairro Hípica. Foto: Andressa Pufal/JC
Das 119 áreas identificadas no mapeamento divulgado em 2013, o bairro Hípica é uma das regiões que passa pelo processo de atualização. Entre um mapeamento e outro, por meio da ação da Defesa Civil, algumas áreas de risco deixaram de existir, como é o caso da Vila das Laranjeiras, na Zona Leste, e o Bairro Arquipélago, na região das Ilhas. Nas duas situações, as famílias foram realocadas e as casas, demolidas, conforme o coordenador da Defesa Civil Municipal, Evaldo Rodrigues. “Nas ilhas no bairro arquipélago, sabemos que o risco é de inundação, as pessoas serão afetadas, mas não temos registro de óbitos, temos que partir para uma ação de regulamentação.”
No entanto, a situação hoje no bairro de Teresinha continua igual ao cenário encontrado no primeiro levantamento. “A prefeitura vem e fala o que deve falar, mas eles não cumprem. O que adianta?”, questiona. No entanto, a preocupação dos moradores começa antes da chuva. “Quando vemos que vai chover, já vamos no mercado e compramos coisas, não dá para sair depois”, comenta Casser.
Segundo a moradora, no bairro não há transporte público por conta da inundação. Conforme a quantidade de chuva, o terreno leva cerca de três a quatro dias para normalizar. “Que vocês (Defesa Civil e Serviço Geológico do Brasil) tenham êxito nessa batalha, porque ter uma velhice dentro da água não é bom não.”
Com os novos dados que estão sendo coletados, "a expectativa é que haja um aumento significativo das áreas de risco e o aumento da população que habita essas áreas”, explica a pesquisadora em Geociências, Débora Lamberty. De acordo com ela, nos últimos ano, Porto Alegre teve um aumento populacional muito grande, um adensamento que pode ser percebido a partir de imagens de satélite.

RS tem 848 áreas de risco, sendo 148 em nível muito alto

Com o objetivo de evitar vítimas fatais de danos causados por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos por ações humanas, o Serviço Geológico do Brasil realiza o mapeamento pelo País desde 2012. A iniciativa, que conta com a colaboração da Defesa Civil Municipal de cada região, identificou 848 áreas de risco no Rio Grande do Sul, das quais 148 são de risco muito alto.
As discussões sobre a atualização do mapa de áreas de risco na Capital começaram em março, quando órgãos da prefeitura estiveram reunidos para debater os passos mais relevantes para a realização do trabalho. Dessa vez, o levantamento será feito por bacias hidrográficas. Das 27 bacias de Porto Alegre, sete já foram mapeadas.
Através da visitação in loco, os pesquisadores Débora Lamberty, Angela Bellettini, Raquel Binotto e Renato Mendonça analisam os movimentos de massa, que incluem deslizamentos, quedas de blocos, rochas, corridas de massa e rastejo, e os processos hidrológicos que correspondem a inundações, enxurradas, voçorocas e erosão de origem fluvial, como é o caso do arroio do Salso.
Apesar do auxílio tecnológico para o acesso a imagens de drone, satélites e arquivos históricos, a equipe analisa o risco de cada local levando em consideração duas variáveis: o perigo apresentado pelo processo e a vulnerabilidade exposta. “Essa vulnerabilidade está relacionada com as pessoas e as suas residências, o quanto elas sofrem com as consequências do processo”, explica Débora.
Após a entrega do relatório pelo SGB e a divulgação do material pela Defesa Civil no primeiro trimestre de 2023, o município irá começar a elaboração de planos de ação em conjunto com a comunidade. Hoje, esse processo é realizado com base nos dados de 2013.
“Para aquelas famílias que o sistema não comporta, recomendamos que não ocupem essas áreas, divulgamos essas informações com o trabalho comunitário”, alerta Rodrigues.