Comunidade encontra 'cápsula do tempo' escondida em igreja no Vale do Caí

Membros da Igreja Evangélica do Matiel, em Pareci Novo, encontraram registros que sobreviveram a mais de 100 anos sobre a fundação do local

Por Maria Eduarda Welter

Garrafa encontrada na parede da Comunidade no início de abril
A comunidade da Igreja Evangélica do Matiel, no interior de Pareci Novo, no Vale do Caí, encontrou um objeto inusitado cimentado dentro de uma das paredes da paróquia: uma garrafa lacrada. Antes do culto de Sexta-feira Santa, no dia 15 de abril, membros da paróquia se reuniram para abrir o artefato e descobriram uma espécie de cápsula do tempo, com documentos escritos em alemão gótico que datam de 1921.
Já em um primeiro momento, a comunidade notou que se tratavam de jornais: o primeiro, o Rio Grandenser Sonntagsblatt (Jornal Dominical Riograndense), com data de 7 agosto de 1921; e o segundo é o Deutsche Post - Tages Ausgabe (Correio Alemão - Distribuição Diária), com duas edições, de 10 e 11 de agosto de 1921. 
Conforme conta Gilmar Guilherme Dietrich, presidente da comunidade, não se possui muitas informações sobre o surgimento da igreja do Matiel. "Ninguém sabia dizer ao certo a idade da nossa igreja, não tinham documentos que diziam ao certo a idade da nossa igreja. Os mais antigos diziam que naquele lugar na parede tinha uma documentação dentro", relata Dietrich.
Gilmar Guilherme Dietrich/Arquivo Pessoal/Reprodução/JC
Com o intuito de conhecer melhor a história local, a comunidade procurou a documentação pela primeira vez em 8 de dezembro de 2021; sem obter sucesso. Em 2 de abril deste ano, a comunidade foi consertar a área que tinha sido talhada na procura anterior. Por curiosidade, usaram a furadeira para tentar cavar um pouco mais e esbarraram no artefato.
Além dos jornais, a garrafa continha moedas da época e uma ata com informações sobre a localidade na época de fundação da igreja. O documento foi traduzido do alemão com o auxílio de membros da comunidade. "Atualmente, a Comunidade Evangélica do Matiel conta com 80 membros. Ela pertence ao Sínodo Riograndense e, em termos ministeriais, à Paróquia de São Sebastião do Caí, já desde há 36 anos", consta no documento.
A ata ainda relata que a comunidade possuía uma escola, frequentada por 35 crianças, cujo professor era o sr. Arthur Gerlach, vindo da Alemanha. O documento ainda revela o que levou a comunidade a fundar a igreja: "[...] a própria Comunidade do Matiel está disposta a carregar grande ônus principal, por saber que uma casa de Deus é o prédio principal em seu meio, tanto em dias de sofrimento como em tempos de alegria. [...] almejamos ser a Comunidade que cresce e floresce com os filhos e filhos dos filhos."
E a vontade dos signatários da ata se concretizou. Ao encontrar os documentos, Gilmar Guilherme Dietrich encontrou três nomes de participantes da diretoria da comunidade: Felippe Fuhr, Balduin Weissheimer e Pedro Dietrich - irmão do bisavô de Gilmar. 
A família Dietrich se reuniu para contar como seus ancestrais chegaram à região do Matiel. Gilmar relata que seu bisavô morava em Ivoti, enquanto o irmão dele se mudou para a comunidade do Matiel; por volta de 1937, seu avô e sua avó se mudaram para a região do Vale do Caí com os três filhos - quando o pai de Gilmar tinha cerca de dois anos.
"É gratificante ver que aquela época já era a nossa família que estava na diretoria e, hoje, 100 anos depois, por acaso, é o mesmo sobrenome de novo."
Agora, a comunidade irá reunir os achados com documentos recentes - incluindo esta matéria - para uma nova cápsula do tempo e, quem sabe, daqui 100 anos ou mais outras pessoas possam ler sobre como foi encontrar a primeira cápsula em 2022.