Com pandemia, cirurgias eletivas têm queda de 25,9% no 1º semestre no Brasil

A fila de espera para esses procedimentos aumenta em quase todos os estados

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Número de diagnósticos positivos no País agora é de 21.364.489
Mesmo com o avanço da vacinação, a Covid-19 ainda impacta o andamento das cirurgias eletivas no País. Segundo um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), os procedimentos tiveram queda de 25,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019, no pré-pandemia.

Definição dos critérios para realização dos procedimentos é de responsabilidade dos estados

No Rio Grande do Norte, uma das pessoas que estão à espera da retomada dos procedimentos é a dona de casa Ingrid Alcântara. Ela é mãe de Itallo Henrique Tomaz de Lima, de 6 anos. A criança, que tem microcefalia, necessita de duas cirurgias ortopédicas, sendo uma no pé e outra no quadril. Pela intervenção no quadril, ele aguarda há dois anos.
"Já passei por três ortopedistas. Os médicos dizem que não estão fazendo a cirurgia do quadril e é preciso esperar", lamenta. Conforme detalhado por Ingrid, com o passar do tempo o problema de seu filho piorou. O Estado de São Paulo, afirmou, ao ser questionado, que um acordo deverá ser firmado entre a pasta e cooperativas médicas para que as cirurgias eletivas sejam retomadas nos próximos dias.
O Ministério da Saúde informou, em nota, que a definição dos critérios para a realização de procedimentos eletivos compete aos estados e municípios e que tem oferecido apoio aos gestores do SUS. "A pasta disponibilizou R$ 350 milhões de recursos extras, que são repassados após a comprovação da realização dos procedimentos. Até julho foram repassados aproximadamente R$ 14,6 milhões aos Estados", declarou, citando 15 estados beneficiados pelos pagamentos.

Porto Alegre também tem cerca de 58 mil consultas eletivas em especialidades cirúrgicas em fila de espera

Além das 30 mil cirurgias represadas, Porto Alegre também tem cerca de 58 mil consultas eletivas de especialidades cirúrgicas em fila de espera. Em razão desses números tão altos, o prefeito Sebastião Melo foi buscar em Brasília, junto ao Ministério da Saúde, soluções para o problema.
Segundo a prefeitura, o governo federal garantiu auxiliar a prefeitura na realização de um mutirão de cirurgias eletivas que ficaram represadas em função da pandemia. “Queremos acelerar este processo para zerar o quanto antes esta demanda que ficou represada. Nossas atenções estão voltadas para o combate da pandemia. Agora, com a redução das internações na rede hospitalar somada a nossa campanha de vacinação em massa, poderemos, com apoio do Ministério da Saúde, colocar em dia as cirurgias eletivas”, afirmou Melo.

Por que isso acontece e como solucionar?

Para entender melhor de que forma esses números ficaram tão altos e como solucionar, a coordenadora do FGV Saúde, Ana Maria Malik, responde três perguntas pontuais sobre o assunto.
1.Quais fatores levaram à queda dos procedimentos eletivos no SUS?
No caso do SUS, os leitos são muito utilizados por meio da regulação. Então, os leitos são demandados e a regulação aloca os pacientes de acordo com a necessidade e disponibilidade. Quando os leitos estão sendo utilizados para uma coisa, não são usados para outra. Além disso, tem muita gente que está com medo de utilizar os serviços e, quando não é urgente, as pessoas acabam preferindo deixar para outra hora.
2.O que é possível fazer?
Não adianta abrir mais leitos neste momento. O leito aberto é caro e o ocioso é mais caro ainda. A pessoa não precisa ficar no sistema de pacientes agudos. Existem países, como Portugal e Inglaterra, que têm os hospitais de transição. Já há diversos no setor privado, mas, no âmbito do SUS, ainda está tendo uma tentativa para transformar a nossa grande quantidade de hospitais de pequeno porte para que eles possam fazer isso.
3.Os mutirões são a melhor solução para o quadro atual?
O mutirão é uma estratégia que, para uma situação bem aguda, funciona. Quando tem fila de catarata ou outro tipo de procedimento que pode ser feito porque é relativamente simples. Consegue dar vazão e resolve a fila. Em outros, é melhor não fazer, porque os procedimentos são menos simples e o pós-cirúrgico pode ser complicado. A demanda reprimida, na verdade, é difícil de lidar porque, com muita frequência, sabe-se apenas de uma pequena parte.