MPF, reitores e deputados criticam programa Future-se

Entre os problemas apontados está a interferência do mercado

Por Isabella Sander

Audiência pública reuniu comunidade acadêmica em auditório da UFCSPA
Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, Ministério Público Federal (MPF), reitores das universidades e dos institutos federais gaúchos e deputados federais e estaduais criticaram o programa Future-se. Proposto em julho pelo governo federal, o projeto apresenta mudanças polêmicas nas federais, como a presença da iniciativa privada na gestão e a criação de um fundo de financiamento das instituições. O evento foi realizado em auditório da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O procurador regional da República Paulo Gilberto Cogo Leivas relata que no último mês, desde o bloqueio de 30% do orçamento das instituições federais de ensino, muitas ações judiciais têm sido ajuizadas e algumas liminares já foram concedidas pela Justiça. Em sua concepção, é preciso defender a autonomia universitária, princípio presente na Constituição Federal de 1988 que tem como finalidade garantir a liberdade acadêmica. "A pesquisa e o ensino precisam ser livres. Precisamos da universidade como um espaço livre de ideias, que não pode ter interferência nem do Estado, nem do mercado", pontua.
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'Projeto é tão vago que é até difícil fazer análise aprofundada'

De acordo com a vice-reitora da UFCSPA, Jenifer Saffi, o Future-se está sendo debatido internamente desde o início de agosto pela instituição e um grupo de trabalho foi montado para fazer uma análise profunda a respeito, mas o projeto apresentado pelo MEC é "tão vago, que é até difícil aprofundar". A vice-reitora sente falta de um esclarecimento sobre como funcionará a participação das OSs nas federais e defende que a comunidade acadêmica não permita a perda de autonomia.
O reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Rui Vicente Oppermann, lembrou que, na sexta-feira, o Conselho Universitário (Consun) da instituição aprovou de forma unânime uma moção de repúdio ao Future-se. "O programa é uma ameaça à autonomia das universidades, prevista na Constituição, bem como a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão", critica. Sob sua ótica, o projeto, como está, é "inaceitável e dificilmente poderá ser remendado no Congresso".
O Future-se está em fase de consulta pública até 29 de agosto no site https://isurvey.cgee.org.br/future-se/. Até a terça-feira passada, 55 mil pessoas já tinham se cadastrado na página. Após a análise das sugestões, o projeto será encaminhado ao Congresso.