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Redação do Enem aborda manipulação na internet
Diferentemente dos anos anteriores, tema foi mais político do que social
Mais de 5,5 milhões de estudantes compareceram ontem em 10.718 locais de 1.725 municípios de todo o País para testar seus conhecimentos no primeiro domingo de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ontem, os candidatos tiveram pela frente 90 questões de linguagem, ciências humanas e a redação. O exame segue no dia 11 de novembro, quando serão aplicadas as provas de ciências da natureza e matemática.
O primeiro desafio do dia foi não se confundir com o relógio. Com o início do horário de verão a partir da 0h de sábado, os relógios foram adiantados em uma hora, o que, desde quando foi anunciado que a prova iria coincidir com a mudança no horário, gerou preocupação por parte da organização e de quem foi prestar o exame.
Sempre cercado de muita curiosidade e expectativa, o tema da redação do Enem deste ano não poderia ter sido mais atual: "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet". O texto deveria ser dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, e desenvolvido a partir da situação-problema e de subsídios oferecidos pelos textos motivadores. O texto precisava ser opinativo e organizado para a defesa de um ponto de vista, com a opinião do autor devendo estar fundamentada com explicações e argumentos.
As provas começaram às 13h30min e os participantes tiveram 5h30min para resolvê-las. A nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no Ensino Superior público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), e para participar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Para a professora de redação Carol Achutti, do curso on-line Descomplica, o assunto da redação deste ano, dada a repercussão do Enem, atinge toda a sociedade e coloca em discussão o tema da manipulação intensamente vivido no Brasil no último processo eleitoral. "É uma inovação. Colocaram um dedinho na ferida. Por isso, achei importante levantar essa discussão", disse. Segundo ela, a escolha tem um caráter diferente dos anos anteriores. "O recorte escolhido é quase político. Não é social, como estamos acostumados. É perigoso o estudante confundir com fake news (divulgação de notícias falsas), que podem aparecer na argumentação, mas não é só isso".
Conforme a professora, a redação do aluno poderá tratar, dependendo dos textos de apoio da prova, de questões mundiais, envolvendo redes sociais, marketing dirigido, entre outras questões. "Quem for muito partidário e se inflamar pode ser parcial e tangenciar o tema", acrescenta.
Provas ocorreram com tranquilidade em todo o País, afirma ministro Raul Jungmann
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou na tarde de ontem que não havia registro sobre nenhum problema grave em relação à aplicação das provas no primeiro dia do Enem. "Em todo o País, o Enem transcorre na mais absoluta tranquilidade e segurança e espero que assim seja", afirmou.
Jungmann afirmou que 30 mil homens e mulheres fizeram a segurança do exame nacional, com 2.189 escoltas de segurança pública. O ministro relatou que alguns locais registraram falta de água e de energia devido a fortes chuvas, mas não especificou quais. Ele também contou sobre o registro de um roubo em um caixa eletrônico próximo a um local de prova, mas que não teve impacto na realização do exame.
O Ministério da Educação precisou desmentir ontem um boato que dizia que o exame havia sido cancelado. Jungmann afirmou que quem se sentir prejudicado pela circulação de notícias falsas a respeito do Enem, precisa procurar a polícia e a Justiça. "No caso de ser um crime federal, a Polícia Federal tomará as providências", disse, ressaltando que uma investigação só pode ser aberta se houver uma demanda de alguém que se sentiu prejudicado. "Se houver a reclamação, sim. Não podemos fazer de ofício", completou.
O ministro disse ainda que não há anonimato nas redes sociais. "Não cometam a irresponsabilidade em rede social porque, se cometer e isso for um crime, não tenha dúvida que nós vamos achar quem cometeu isso, como já fizemos no passado. Não há impunidade."