Veleiros e o desapego à terra

Fuga do estresse diário leva à busca por esportes náuticos

Por Isabella Sander

Especial De Frente Para o Guaíba Reportagem do JC visitou as instalações do clube náutico Veleiros do Sul. Também acompanhou uma das provas do 27º Circuito Conesul de Vela de Oceano.
É Porto Alegre, mas nem parece. Quem entra no clube náutico Veleiros do Sul, na avenida Guaíba, na Zona Sul de Porto Alegre, percebe na hora a mudança no ritmo de seu dia. As pessoas vão ao local para perder a noção do tempo, passando horas em meio às águas do Guaíba, velejando ou fazendo ajustes em seus barcos. Fugindo do estresse diário da vida urbana, buscam esportes náuticos e acabam, aos poucos, desapegando da terra firme.
O Veleiros do Sul foi fundado em 1934 pelo empresário e desportista Leopoldo Geyer, que também fundou os clubes náuticos Jangadeiros e Iate Clube Guaíba. Em 13 de dezembro de 2018, o clube fará 84 anos. "Vem de uma cultura dos alemães, de valorizar a água. O Veleiros procura fazer com que as pessoas enxerguem o Guaíba como um lugar de lazer e valorização", conta o comodoro do clube, Eduardo Ribas, que tem 50 anos e há 32 frequenta o Veleiros.
O clube faz parte da história de Ribas - foi lá que ele conheceu sua esposa, é lá que seu filho vai desde que nasceu. Ele não é um caso à parte. Muitos dos 1,2 mil sócios desenvolveram do berço, ou desde muito jovens, o hábito de velejar, que pode ser praticado por pessoas de todas as idades. "A vela tem muito disso, porque é um esporte para toda a vida. A pessoa começa a velejar aos seis anos, e temos sócios com mais de 80 anos velejando seus próprios barcos", salienta.
Como as pessoas acabam frequentando o clube durante toda a vida, o clima no Veleiros é familiar. Há sócios de todas as idades, e a impressão é de que todos se conhecem. Mesmo no meio do Guaíba, os tripulantes de um barco estão sempre atentos a quem vem no barco próximo, sorrindo, se cumprimentando e até mesmo ensaiando algumas conversas à distância, de uma embarcação para outra. O clube procura manter essa convivência e familiaridade das pessoas, como compensação ao cotidiano da maioria, que acaba se comunicando com amigos e parentes principalmente pelo celular e perde o contato olho no olho.
Para o comodoro, o esporte ensina regras, a ganhar, perder, mas sempre competir, além de desenvolver o senso da importância do meio ambiente. Com a busca por hábitos mais saudáveis e o aumento da prática de esportes pela população, como caminhadas e pedaladas, a vela pode ser uma opção para quem quer uma vida mais equilibrada.
Com as obras de melhorias da orla do Guaíba e outros investimentos à beira do lago, como a revitalização do Cais Mauá e a construção de um empreendimento junto ao Pontal do Estaleiro, Ribas acredita que o porto-alegrense deve começar a enxergar o Guaíba como uma boa opção de lazer, como ocorre, por exemplo, em Buenos Aires, Belém do Pará e Rio de Janeiro. "A orla foi liberada (obras do trecho 1) e já chamou rapidamente um público inimaginável. O legado do Veleiros é mostrar que o Guaíba não é só um espelho d'água, mas um espaço de contemplação."
A sede do Veleiros possui uma área de 18 hectares, com duas piscinas, um restaurante, quatro salões sociais, três rampas de acesso à água e 11 hangares para abrigo e manutenção de embarcações. Também há alojamento para competidores vindos de outras cidades, quadra poliesportiva, campo de futebol sete, biblioteca, memorial, bar náutico e churrasqueiras, entre outras estruturas. Como não há postos de combustível para barcos em Porto Alegre, o abastecimento é feito no próprio clube. Além da sede, o clube também tem a posse da Ilha Francisco Manoel, entre as praias de Belém Novo e Lami, que funciona como uma sede campestre.

Em dias de regata, o clube mostra seu potencial

A reportagem do Jornal do Comércio esteve no Veleiros em dia de regata, quando o clube mostra todo seu potencial. O torneio fazia parte do Circuito Conesul, realizado no feriado da Revolução Farroupilha e no fim de semana anterior a ele, e envolvia percurso médio, que ia do Pontal do Estaleiro até o Belém Novo. Cerca de 25 barcos cabinados com capacidade para abrigar até dez pessoas participavam do evento, que ocorria em perfeitas condições: sem chuva, mas também sem sol, e com muito vento.
O primeiro toque soa - é hora dos barcos de uma das categorias se posicionarem. Em dez minutos, ecoa o segundo toque - é dada a largada e saem, disparados, na mesma direção. O mesmo procedimento é repetido um pouco depois, para outra categoria.
A atividade começou às 11h e se estendeu até as 17h, período no qual os participantes precisavam ir ao Belém Novo, fazer a volta, cruzar a linha de chegada, na altura do bairro Tristeza, e retornar ao início. A prova foi uma das atrações da Regata Troféu Seival, a mais tradicional da vela gaúcha. Ao contrário de outros esportes, nem sempre o primeiro a chegar é o campeão do torneio - um cálculo é feito, considerando o peso de cada barco e sua capacidade de velejar mais rápido.

Atividades e serviços oferecidos

A Escola de Vela Minuano, a colônia de férias e os torneios são abertos a não sócios, mesmo que com preços diferenciados. A escola, por exemplo, tem preços para suas aulas de iniciação e aprimoramento na vela que vão de R$ 400,00 a R$ 700,00 para sócios e de R$ R$ 600,00 a R$ 850,00 para não sócios.
Porto Alegre não possui, hoje, serviço de aluguel de barcos - o Veleiros possui alguns usados na escola de velas, mas não são alugados para passeios. A única maneira de quem não tem barco passear no Guaíba é andar de catamarã ou nos barcos turísticos, Cisne Branco, Noiva do Caí e Porto Alegre 10.
Para ser sócio do Veleiro do Sul, o interessado precisa comprar uma joia de R$ 17 mil, mais um título de R$ 3,5 mil. Além disso, há uma mensalidade de acordo com a categoria, que varia entre R$ 80,89 para Juvenis até R$ 997,28 para Contribuintes. Também há uma taxa de embarcação entre R$ 17,75 e R$ 48,82, dependendo do tamanho e da categoria do barco.
Informações no site do Veleiros do Sul (http://vds.com.br/) ou pelo telefone (51) 3265-1717.