Em pleno 2022, há quem ainda repita a piada "mulher ao volante, perigo constante". Frente à essa situação, Luciane Souza fundou, em 2018, o Mulheres ao Volante, treinamento para habilitadas. O nome, inspirado na frase de cunho machista, tem o intuito de mudar essa visão. “Nós, mulheres, precisamos entender que somos capazes e prudentes. Quando ouço essa frase, sempre rebato com a minha ‘Mulheres ao volante, prudência constante’”, diz.
A instrutora, formada pelo Senac e certificada pelo Detran, cresceu sendo incentivada pelo pai para que tirasse a carteira de habilitação. Entretanto, a situação com sua mãe foi diferente, pois não recebia o aval para dirigir, fazendo com que Luciane crescesse querendo empoderar outras mulheres. “Tive exemplos em casa do quanto minha mãe sofria por querer pegar o carro. Hoje, trabalho para que meninas não passem por isso”, conta.
O Mulheres ao Volante é um curso para mulheres já habilitadas, que ensina movimentos cognitivos básicos, questões comportamentais e direção defensiva. Com um planejamento estratégico, conforme a necessidade de cada aluna, Luciane busca conhecer suas rotinas. “Procuro viver o dia a dia de cada menina. Quero saber como é levar o filho na escola, fazer compras e pagar contas. É importante acompanhá-las nos trajetos que mais utilizam para que saibam como se comportar em diversas situações. Até porque, na autoescola, não aprendemos isso”, explica.
Diferentemente da autoescola, o treinamento busca estudar a teoria com a prática. “Trabalho com a sigla ‘chapa’, que significa conhecimento, habilidade, atenção, previsão e ação. A mulher precisa desses detalhes e, por isso, o aprendizado teórico também é muito importante. Precisamos ser funcionais”, justifica.
A orientadora explica que o serviço é importante para quem tem bloqueios. “Muitas vezes, existe uma repressão familiar que reflete na direção. Seja por piadinhas ou receios, a maioria deixa de pegar o volante após tirarem a carteira. Por isso, tento fazer meu carro virar um divã onde elas choram e colocam suas frustrações e expectativas. Isso tira um peso enorme”, pondera.
Luciane também conta as repressões sofridas por ela e pelas alunas durante as aulas. “Passamos por diversas situações complicadas, como levar buzinada na rua. Tento encarar na esportiva para ser um momento de leveza para que isso não se torne mais um bloqueio. A falta de respeito acontece até porque meu carro é todo adesivado, então chama bastante atenção”, diz.
Em contrapartida, a empreendedora consegue colher frutos de cada uma que passa em seu carro. “Ter o dom e saber que estou fazendo a diferença na vida dessas mulheres é gratificante. A opinião dos outros sempre nos fere e ter um profissional que possa nos ajudar é positivo”, argumenta.
A aula experimental é gratuita, como forma de apresentação das duas partes. “Me conhecer, ter uma questão de empatia e confiar em mim é importante nesse processo. A partir daí, montamos uma agenda de aulas conforme o orçamento e o número de aulas que querem fazer. Dentro desse plano, o objetivo é começar no meu carro, equipado com freio auxiliar e embreagem, e após continuar no carro delas”, afirma.
Os planos variam, em média, de R$ 690,00 a R$ 1.610,00. A Mulheres ao Volante atende Capital, Região Metropolitana e algumas cidades do interior, além de acompanhar viagens.