As miçangas servem de porta de entrada ao empreendedorismo para pessoas que, muitas vezes, acabam evoluindo suas técnicas para outros materiais e gerando negócios

A volta dos adereços feitos à mão como negócio


As miçangas servem de porta de entrada ao empreendedorismo para pessoas que, muitas vezes, acabam evoluindo suas técnicas para outros materiais e gerando negócios

Quem tem crianças em casa já percebeu que a moda de fazer acessórios à mão voltou. Se antigamente era necessário buscar miçangas, fios e fechos na rua Senhor dos Passos, no Centro Histórico de Porto Alegre, hoje há diversas opções, inclusive na internet. Embora a região mantenha a tradição para quem quer se profissionalizar, agora, até os supermercados vendem kits para iniciantes. Há uma imensidão de opções, como caixinhas com divisórias que contém letras misturadas às bolinhas coloridas para estimular os pequenos a produzirem braceletes da amizade. A média de preço de itens assim é de R$ 60,00. A maioria dos empreendedores e empreendedoras que criam marcas a partir das miçangas, aliás, começaram no ramo como hobby ou como forma de relaxar. Há quem aposte no segmento há anos e outros que viram na pandemia uma oportunidade de colocar em prática talentos adormecidos. Conheça três histórias que nasceram na Capital. 
Quem tem crianças em casa já percebeu que a moda de fazer acessórios à mão voltou. Se antigamente era necessário buscar miçangas, fios e fechos na rua Senhor dos Passos, no Centro Histórico de Porto Alegre, hoje há diversas opções, inclusive na internet. Embora a região mantenha a tradição para quem quer se profissionalizar, agora, até os supermercados vendem kits para iniciantes. Há uma imensidão de opções, como caixinhas com divisórias que contém letras misturadas às bolinhas coloridas para estimular os pequenos a produzirem braceletes da amizade. A média de preço de itens assim é de R$ 60,00. A maioria dos empreendedores e empreendedoras que criam marcas a partir das miçangas, aliás, começaram no ramo como hobby ou como forma de relaxar. Há quem aposte no segmento há anos e outros que viram na pandemia uma oportunidade de colocar em prática talentos adormecidos. Conheça três histórias que nasceram na Capital. 

Motorista de ônibus derrete peças e faz pixel art

Rodolfo Schmidt Neto, 35 anos, que trabalha como motorista de ônibus em Porto Alegre, encontrou nas miçangas uma forma de aliviar sua ansiedade. A empresa pública onde trabalha, a Carris, passa por momentos de insegurança, o que torna essa atividade um complemento de renda e fonte de distração.
"Meu trabalho principal, do qual me orgulho muito, é como motorista. Mas, como o prefeito está querendo vender a empresa a todo custo, quem sabe, em breve eu não vou ter mais tempo para me dedicar aos beads", diz ele, usando o conceito que é usado internacionalmente para os materiais plásticos.
Rodolfo, que confecciona chaveiros, quadros, brincos, pingentes, botons, ímãs de geladeira e totens, gostou tanto da prática manual que criou uma conta no Instagram, a @beadsbrasiloficial, com mais de 1 mil seguidores. Participa, ainda, de feiras de artesanato pela cidade e lançou um site onde vende as peças prontas e kits para quem também quiser aprender as técnicas que utiliza. Ele, aliás, ensina interessados de forma gratuita.
"Essas miçangas especiais, chamadas de fusebeads ou simplesmente beads, ainda não se popularizaram no Brasil, então são muito difíceis de encontrar. Por isso, eu compro direto da China. Devido à essa lacuna no mercado, revendo a matéria-prima e as ferramentas para quem quer fabricar. Isso abriu portas para outros estados onde hoje tenho clientes", afirma.
O processo de derretimento das miçangas para gerar personagens ou figuras chama-se pixel art. "O que faço, na verdade, é transformar um trabalho abstrato em algo físico", detalha.
O empreendedor descobriu o termo na internet há cerca de dois anos. O isolamento social, gerado pela pandemia do coronavírus, foi o empurrão que faltava para testar o que via nas telas do computador. "Trabalhar com isso exige concentração, mas é extremamente relaxante e me ajudou a lidar com 2020", diz Rodolfo, que cursou alguns semestres de Letras na UniRitter e estuda Gestão Comercial na Uniasselvi atualmente.
A linha que mais agrada o público de Rodolfo é a geek. Jogos antigos, segundo ele, são bem pixelados e trazem nostalgia para muita gente. Por isso, os artigos baseados no Super Mário World são os que mais chamam atenção, mas os de desenhos e animes também são bastante vendidos. O preço parte de R$ 2,50 pelo produto pronto e pode ultrapassar os R$ 100,00.
 

Empreendedora usa neon em linha pensada para o verão

Aline Candiago Teixeira, 45 anos, sempre foi apaixonada por acessórios. Enquanto cursava a faculdade de Psicologia, no final dos anos 1990, vendia para as colegas. Uns anos mais tarde, por volta de 2002, passou a criar suas próprias peças. Iniciou, aliás, com colares de miçangas, que, segundo ela, faziam o maior sucesso. Com o tempo, introduziu brincos de pérolas, de cristais swarovski e outros materiais. Para o próximo verão, está desenvolvendo uma linha em neon com o material que lhe lançou no empreendedorismo, as miçangas. "As clientes adoram. Há pulseiras e colares em amarelo limão, verde limão e dois tons de rosa", detalha Aline.
Por um período, ela conciliou seu trabalho de seleção de pessoal com a produção e as vendas, até que, um dia, resolveu largar tudo e se dedicar somente aos acessórios, com peças criadas exclusivamente por ela e por outros fornecedores. Foi a forma, também, de ficar mais perto dos dois filhos.
Há nove anos, trabalha somente com semijoias e bijuterias, participando de todo o processo criativo: da compra à produção dos acessórios. "Tenho clientes fiéis que me acompanham desde o início. Uma vai indicando para a outra. Além da visibilidade das redes sociais, que, aos poucos, me trazem novas clientes", revela a empreendedora, que expõe seu trabalho no Instagram @alinecandiagoacessorios.
Aline percebe que há mais procura pelas miçangas no verão. "Acho que tem tudo a ver com a estação", percebe. O valor mais acessível das peças é outra característica que credita à procura. "Além disso, elas podem ser misturadas com outros materiais, como metais, pérolas, cristais, tornando as composições mais sofisticadas, podendo ser usadas durante o ano todo", defende.
Antes da pandemia, Aline vendia com hora marcada, na casa das clientes. No ano passado, devido ao isolamento social, o interesse cresceu no Instagram. "Comecei a enviar seguidamente para diversos estados do Brasil, e continuei assim em 2021", conta a psicóloga que encontrou seu caminho nas pedras.

Praticante de yoga produz cordões para meditação

A palavra japamala tem ficado mais popular entre o grande público. Os colares, usados por praticantes de yoga durante suas orações e meditação, atraem interessados em busca de reconexão com a espiritualidade. Danielle de Oliveira Larratea, de Porto Alegre, 49 anos, se especializou na produção dos artigos e angaria seguidores à marca que criou no Instagram, o @ateliersolarbydanielle.
Ela iniciou o negócio em 2019 como resultado de suas paixões: artes manuais, pedras, cristais, yoga e terapias holísticas. "Pratiquei yoga por 10 anos e foi no estúdio que conheci o japamala, que é a ferramenta de orações dos yogues. Serve para a prática de mantras. Neste ambiente, me senti fortemente inspirada a confeccionar esses colares para meditação", narra Danielle.
Nas composições, ela usa madeira, pedras e cristais. Diz que os japamalas estão em alta porque, em meio ao contexto que o mundo vive, os seres humanos querem se reencontrar.
Para oferecer mais opções à clientela, além do Instagram, Danielle está desenvolvendo um site próprio. Quer, ainda, ampliar sua linha de atuação: iniciará no ramo de acessórios com pedras, que vão além dos japamalas. "O diferencial do meu trabalho está na minha arte criativa somada ao meu conhecimento sobre os cristais e sobre as orações", interpreta ela.
Danielle trabalhou por muitos anos com venda de soja para os Estados Unidos, já que é formada em Comércio Exterior. Após ser demitida da empresa onde permaneceu por mais de uma década, retomou o fazer manual, que despertou na adolescência e que foi interrompido depois que entrou no ambiente corporativo. Na faculdade, levava uma caixa com os artigos feitos com miçangas e vendia entre as colegas de aula e de van.
A volta ao artesanato também foi motivada pela dificuldade de recolocação profissional. Os japamalas viraram febre, com pessoas vendendo os itens por quase R$ 1 mil, o que fez Danielle enxergar uma oportunidade. Para diminuir os custos e tornar o produtos mais acessíveis, ela mistura os materiais. Suas criações variam entre R$ 80,00 e R$ 200,00.
O cordão, segundo ela, tem uma técnica específica para que fique energizado. É uma forma de proteção, mas que também agrada quem quer compor o look.
Os japamalas se assemelham ao terço, do catolicismo. "Além de ser bonito, nos protege. Tem a energia de quem fez e a energia da pedra", detalha.
O poder da energia é transferido para o dia a dia de Danielle no empreendedorismo também. Para atrair clientes, ela enfileira sacolas em seu atelier como se estivessem prontas para serem entregues. Isso a motiva a preenchê-las e a atingir as metas semanais. Da meditação, tira a lição que mantém o propósito de prosperar com sua marca: foco renovado a cada novo dia.