Cidades distantes da Capital são refúgio de histórias de persistência e de superação

Empreendedores iniciantes escolhem tocar negócios no interior


Cidades distantes da Capital são refúgio de histórias de persistência e de superação

Em uma pacata cidade gaúcha, Riozinho, cerca de 130km distante da Capital, funciona uma fábrica de chás. Apreciadores da bebida, provavelmente, já experimentaram as misturas oriundas da propriedade de 10 hectares, pois o que sai dali vira produto para cerca de 25 marcas.
Em uma pacata cidade gaúcha, Riozinho, cerca de 130km distante da Capital, funciona uma fábrica de chás. Apreciadores da bebida, provavelmente, já experimentaram as misturas oriundas da propriedade de 10 hectares, pois o que sai dali vira produto para cerca de 25 marcas.
"Processamos, em média, 130 toneladas de chá in natura por ano", mensura Mathias Pretto, 27 anos, atual comandante do negócio. Toda a hierarquia da empresa usa linguagem de navegação. Scrivia, aliás, era o nome do navio a vapor que transportou a família da Itália para o Brasil. "Foi o vapor aromático de uma xícara de chá que trouxe nossa empresa até aqui. O vapor sai da terra depois de uma chuva, sai das ervas durante a desidratação, sai da xícara durante cada infusão. Somos movidos a vapor", repete ele.
Operando há mais de 70 anos, a Scrivia é a única indústria de chás do Rio Grande do Sul a englobar todas as etapas da produção, conforme Mathias. Vai da semeadura ao envase do produto final. A terceirização é um dos fortes do negócio, que tem uma marca própria também, a NatuErvas.
A história da Scrivia começou por acaso do destino. O bisavô de Mathias, que tinha o mesmo nome do empreendedor, era lenhador. Ao fazer um serviço em Porto Alegre, viu diversos sacos com plantas secas no galpão onde passaria a noite. O dono do local disse que comprava a matéria-prima para vender em laboratórios da cidade e, então, o lenhador percebeu que poderia fornecer o que tinha em abundância em Riozinho. Começou a colher suas plantas, a secar no sol e a levar à metrópole. O negócio se espalhou e virou o que é hoje.
"Em itens prontos ao consumidor final, produzimos, em média, 150 mil unidades por mês, considerando nossas marcas e de terceiros", calcula Mathias, que se formará em Administração de Empresas neste ano. A Scrivia tem capacidade para produzir mais de 2 milhões de sachês de chá por mês.
O empreendimento desenvolve linhas e projetos personalizados em diversas opções de embalagens, como sachês, caixas, potes, latas e almofadas, com pedido mínimo de 1 mil unidades. Tudo é preparado por uma equipe de cerca de 20 funcionários e outros 20 produtores parceiros. Da família, trabalham Mathias e sua irmã, Rafaela, 22. O vapor os tornou tão conhecidos que, hoje, o pai, Marquinhos Pretto, é prefeito de Riozinho e a mãe, Liamara, secretária de Assistência Social.
A Scrivia, que ainda fabrica temperos e erva-mate, mistura o moderno com o antigo. Tem maquinário, investe em redes sociais e se adapta ao mercado. Mas o segredo pode estar na história, que Mathias faz questão de citar. "A cultura do chá e das ervas no Brasil veio dos índios, que usavam para fins medicinais", afirma. A prova de que isso ainda é valorizado surgiu durante a pandemia, quando a Scrivia bateu todos os recordes de demanda de seus produtos.

Da venda de cobertores em feiras a loja de 200m² em Cachoeira do Sul

A loja Pé Quente, de Cachoeira do Sul, é a concretização das estratégias traçadas pela porto-alegrense Assyria Bugs, 27 anos. Quem a vê, hoje, no cargo de dona de um empreendimento de 200m² não imagina que ela começou no mundo dos negócios vendendo cobertores em 2015.
"Comprava um pouco e vendia um pouco, tudo a partir do Facebook. Descobri um fornecedor e, com a ajuda do meu pai, Jaime, montei meu primeiro estoque e aumentei a quantidade das vendas", lembra ela, que é formada em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), vaga que conquistou porque ganhou bolsa mérito, concedida ao primeiro lugar na colocação do vestibular na época.
Assyria demonstrava habilidades para gestão desde cedo e, por isso, acabou envolvendo a família toda na empreitada. A mãe, Rosa, a encontrava de ônibus no Centro Histórico da Capital para entregar os produtos. O pai fazia as vezes de motoboy e a irmã, Rayssa, ajudava a embalar os itens.
"Aos poucos, passei a vender para as cidades da Grande Porto Alegre e recebia feedback das clientes pedindo outros produtos além dos cobertores, como lençol e toalha. Então, em 2016, aumentei o nicho de produtos e iniciei a participação em feiras de rua, em praças e no estádio Beira-Rio, que foi um passo muito importante para a Pé Quente. Aliás, o nome surgiu do retorno de minhas clientes afirmando serem pé quentes (sortudas) por me encontrarem", relata a empreendedora.
O mundo de Assyria passou a ser o seu negócio. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da faculdade foi inspirado em sua marca e nos formatos de venda online.
Ao se mudar para Cachoeira do Sul, em 2016, sentiu-se encorajada para procurar um shopping da cidade e sugerir a promoção de uma feira por lá. "As vendas foram um sucesso. Adicionei ofertas, montamos prateleiras novas e isso me levou a abrir a primeira loja física da Pé Quente no segundo andar do shopping", diz.
Foram seis meses de 12 horas de trabalho por dia, em 2017, calcula Assyria. Em 2018, reinaugurou a Pé Quente (@artigospequente) em uma das principais ruas da cidade. Uma loja totalmente planejada, mas que tinha algo errado. "Em muitos fins de semana, eu saía para caminhar para entender o que os clientes estavam comprando, onde eles estavam. E foi assim, finalmente, que migrei para a rua de lojas de redes de Cachoeira do Sul. O crescimento foi pulsante", compartilha, acrescentando que a expansão trouxe a parceria do namorado Dener Siqueira.
Em 2020, o faturamento foi três vezes superior a 2018. Em agosto de 2021, ultrapassou o faturamento anual de 2020. Quando chegou a pandemia, no entanto, Assyria teve de trazer à tona os conhecimentos do início de sua jornada, do contato com o público através da internet.
E, apesar dos desafios, ela continua a somar histórias na bagagem. O "Pé Quente" está apenas no nome, pois há muito trabalho por trás da fachada instalada na rua Júlio de Castilhos, n° 276.
 

Peças produzidas em Caxias do Sul viajam o Brasil

Três mulheres amigas de longa data, com personalidades e estilos distintos, se uniram, em Caxias do Sul, em torno de um projeto: criar uma marca de moda autoral. Daiane da Costa, 37 anos, Edilaine da Costa Casagrande, 32, e Hellen Telles, 32, lançaram, a partir do conceito, a Allmma, cujas peças são vendidas na loja serrana Vinth Vinth e por e-commerce próprio, com entregas para o Brasil todo.
Para 2022, o trio planeja aumentar o mix de produtos de vestuário feminino e expandir os pontos de venda, com geração de novos postos de trabalho na região onde vivem e abertura de canais de venda em São Paulo. Desde 2019, quando tudo começou, as sócias fizeram investimentos de R$ 300 mil e projetam mais R$ 500 mil para o próximo ano.
Recentemente, o negócio firmou o compromisso com a cadeia da moda. As costureiras são locais e boa parte da matéria-prima é sustentável.
"A partir da nossa primeira coleção cápsula, lançada em 2020, os processos foram aprimorados e nossa marca passou por um reposicionamento, sendo direcionada a fazer uma moda responsável, transparente e que respeita os processos produtivos e, principalmente, as pessoas envolvidas", diz Daiane. A coleção Florescer soma mais de 1 mil peças para a temporada de verão 2022 em 60 modelos, que são apresentados no site www.allmmabrand.com.br.