Em diferentes segmentos, as causas aparecem como norte dos projetos

Afroempreendedores fomentam novos negócios a partir de suas lutas


Em diferentes segmentos, as causas aparecem como norte dos projetos

Em busca da exaltação da cultura negra e da luta antirracista, Luiz Roberto Bomfim Sampo inaugurou a primeira hamburgueria do Sul do País com temática afrobrasileira. A Griô Burguer tem como objetivo ser um local de difusão de cultura e de black money. Ao lado de sua esposa, o empreendedor percebeu a crescente busca por hambúrgueres em Porto Alegre, e, mesmo no momento inoportuno da pandemia, resolveu apostar e abrir o negócio em 2020. "Temos origem no serviço público e entendemos que era o momento de ter outro tipo de desafio. Reunir as pessoas sempre foi simpático para nós", expõe.
Em busca da exaltação da cultura negra e da luta antirracista, Luiz Roberto Bomfim Sampo inaugurou a primeira hamburgueria do Sul do País com temática afrobrasileira. A Griô Burguer tem como objetivo ser um local de difusão de cultura e de black money. Ao lado de sua esposa, o empreendedor percebeu a crescente busca por hambúrgueres em Porto Alegre, e, mesmo no momento inoportuno da pandemia, resolveu apostar e abrir o negócio em 2020. "Temos origem no serviço público e entendemos que era o momento de ter outro tipo de desafio. Reunir as pessoas sempre foi simpático para nós", expõe.
Todos os hambúrgueres da Griô são temáticos e levam denominação de alguma personalidade relacionada à negritude. O 'Malcom X' é considerado o carro-chefe da hamburgueria, por ser mais robusto, retratando também a força do ativista. O último lançamento da restaurante foi o hambúrguer 'Luanda', feito com frango empanado, queijo catupiry e cebola crispy. "É chamado assim por ser o principal porto do continente africano, de onde saíram mais pessoas escravizadas durante todo o período da escravidão", conta Luiz. Para opções vegetarianas, há o Hamilton, em alusão ao automobilista britânico, para aliar a personagens também jovens.
A Griô Burguer fica na rua Coronel Massot, nº 1.094, no bairro Camaquã, e funciona de quarta-feira a domingo, das 18h30min às 23h. O local opera também com entregas por telefone, que abrangem um raio de 7 km a 8 km do estabelecimento. "Já foi entendido que o delivery dá um up nos negócios, principalmente agora", afirma. A decoração da Griô remete a elementos da cultura afro, objetos rústicos, grafismos, orixás, quadros e fotos de personalidades negras, além do cardápio histórico cultural. "A maioria não reconhece nossos personagens, então precisamos usar o espaço e o tempo das pessoas que chegam para nos visitar para, de alguma forma, fazer o fortalecimento da nossa cultura e apresentação", relata o empreendedor. Além do site, a marca está presente no Instagram (@grioburguer) e Facebook.
A palavra "Griô" tem origem em um guardião da cultura africana, que tem o objetivo de trazer a memória do seu povo através da oralidade e de elementos culturais. "Fazemos o papel de Griô, tentamos resgatar e valorizar nossa cultura", acredita. De acordo com Luiz, a maioria das pessoas questiona o nome ou pergunta sobre a pronúncia. "É uma palavra de origem africana que deveria ter visibilidade nas escolas", diz o empreendedor, que atribui o desconhecimento à falta de acesso ao tema. "Na vida das pessoas, não há relevância ou significado a cultura afrobrasileira, e é por isso que estamos aqui", reconhece.
Os planos futuros da hamburgueria são vastos e a equipe pretende não parar por aí. "Queremos produzir um calendário de ações. Já fizemos arrecadação de alimentos e agasalhos, por exemplo", conta Luiz. Além das metas, a Griô afirma que continuará cumprindo com o seu papel da valorização da cultura afro.

Empresa de tecnologia gaúcha luta pela ascensão do jovem periférico

Na história do Rio Grande do Sul, os Lanceiros Negros eram homens negros escravizados que participavam como soldados na Revolução Farroupilha com a promessa de liberdade ao fim do conflito. As lanças utilizadas por eles se tornaram símbolo do protagonismo negro e, hoje, são usadas como referência de resistência. Em busca do resgate histórico, a startup Lanceiros Tech surgiu em 2020 com o propósito de equidade no mundo da tecnologia. "Estamos lutando por lugares iguais e queremos transformar e dar voz à comunidade preta", conta Michely Alves, assistente comercial responsável pela comunicação.
A Lanceiros Tech é uma empresa de tecnologia que trabalha com o desenvolvimento de softwares, com expertise em comunicação, UX/UI design e que só emprega negros periféricos. Além de lutar pela inclusão dos jovens negros, a empresa utiliza a linguagem neutra em suas redes sociais. "Estamos abertos para todas as idades e gêneros, porém somos uma empresa preta porque queremos mostrar que existem pessoas capazes que podem chegar longe", explica. Michely também deixa explícito que a inclusão não está só na neutralidade e que também pensam em outras formas de deixar suas redes sociais cada vez mais acessíveis para deficientes visuais.
Para a startup, a pandemia gerou um impacto positivo, pois foi possível ter flexibilidade e diversidade em diversos estados do País. Entretanto, o contato físico ficou pendente. "Não temos aquele aconchego e abraço que a pandemia nos tirou, então, em todas as reuniões, sempre tentamos tirar o peso da rotina", expõe.
Um dos propósitos da Lanceiros é prezar pela saúde mental de sua equipe. "Frisamos que devemos ser abertos e pontuar o que está acontecendo. A maioria faz acompanhamento na terapia, pois estamos muito presos ao virtual. A Lanceiros quer saber como que você está e como está sendo o desenvolvimento do trabalho com os clientes porque precisamos estar bem para atender bem", afirma a assistente.
Michely é dos exemplos de superação lançados pela empresa. "Foi o empurrão que eu precisava para a vida porque estava muito acomodada. Na Lanceiros, consegui sugerir pautas e dar opiniões sem ser privada. A única exigência no processo seletivo é a vontade de aprender e estudar", afirma.
A startup afrofuturista listou diversas oportunidades para alcançar e trabalha para isso acontecer. "A Lanceiros quer expandir. Não temos formação ainda, somos estudantes em constante aprendizado. Não é só uma empresa, mas uma família onde um apoia o outro", sintetiza.
De acordo com Michely, a tecnologia é um caminho essencial para a busca do imaginário social brasileiro e da ancestralidade, que foi tirada ao longo dos anos.
Atualmente a startup atua em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Ao todo, a equipe é formada por 19 pessoas que trabalham com CLT ou freelancer. Uma das sócias é a contadora Onília Araújo. A Lanceiros pode ser encontrada através do Instagram (@lanceirostech), Linkedin, Twitter (@lanceirostech) ou pelo site www.lanceiros.com.
Para quem se interessar, a empresa aceita currículos pelo e-mail [email protected].
 

Agência de Publicidade gaúcha cria programa de capacitação para estudantes cotistas negros

A DZ Estúdio, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), criou o Rumos Mais Pretos, programa que tem o objetivo de capacitar pessoas pretas, pardas e indígenas para o mercado de trabalho na área de Publicidade. Inspirado no projeto Rumos da Publicidade, criado por Elisa Piedras, coordenadora da Fabico, o programa somou 11 encontros online de três módulos: digital, criatividade e estratégia. As aulas, com 25 alunos, tinham uma hora e meia de duração e contaram com a participação de professores como Amanda Vieira, cofundadora do movimento AfroPython, Babu Santana, diretor do estúdio Paizão Records, e Verônica Dudiman, cofundadora da rede de apoio Indique Uma Preta.
A ideia surgiu através de uma sugestão de Aline Bohn, head de Pessoas e Cultura da DZ, que acompanhou os acontecimentos racistas nos Estados Unidos, em novembro de 2020. "Estou há três anos na empresa e, desde que cheguei, a questão da diversidade estava precisando de um olhar mais cuidadoso", conta Aline. De acordo com a head, seu local de trabalho tinha uma imagem embranquecida, onde não havia sequer uma pessoa negra como colega. Quando colocado em pauta, a DZ vestiu a ideia. "A primeira coisa que eu fiz foi chamar a Lu Daltro, curadora do projeto, e depois de muita conversa decidimos fazer um programa de capacitação mercadológica", expõe.
Diferente do Rumos da Publicidade, que tem o objetivo de democratizar o acesso aos trabalhos de faculdade, o Rumos Mais Pretos é uma ação afirmativa a fim de democratizar o acesso às agências de publicidade, devido aos cenários desiguais, inserindo e capacitando alunos cotistas no mercado de trabalho. "O curso de Publicidade é muito acadêmico e quando os alunos chegam nas agências acabam ficando perdidos", explica Aline.
Um dos palestrantes do projeto foi Joca Lima, rapper, aluno cotista de Publicidade e Propaganda e redator da DZ Estúdio, que compôs o time da criatividade publicitária no ambiente digital. "Para mim, as aulas foram uma troca de ideia. Trouxe muita coisa do meu cotidiano, que já é algo natural", pontua o estudante. Um dos cuidados que a agência teve foi de conciliar as aulas com as férias dos alunos, sendo todas a noite e com diferentes métodos de ensino para que fossem envolventes. "Tivemos limitações pelo suporte digital, mas, na medida do possível, os alunos interagiram bastante, seja comentando no chat ou contando suas histórias", orgulha-se.
Em agosto, os seis estagiários escolhidos, após a capacitação, irão dar início à sua formação na DZ Estúdio. "Estamos pensando muito no 'pós-Rumos' porque não queremos que o projeto caia. Queremos continuar nessa pauta para que o programa se estruture e forme grupos de trabalho de pessoas pretas com reconhecimento e acolhimento", afirma Aline. Para a head, este tipo de iniciativa deve ser priorizado. "O Rumos é um marco, um grande passo para nunca mais deixar de priorizar. É preciso ter estratégia para que a empresa dê verba para os projetos funcionarem, eles demandam tempo e dinheiro", pontua.
Aline e Joca não deixam de ressaltar que o Rumos Mais Pretos é mais do que um programa de estágio, pois além de impactar de forma conteudista e emocional nos alunos, os impactou. "Quando eu entrei no curso de graduação, sempre ouvi falar que a publicidade, principalmente no atendimento, poderia ser racista. Eu temia meu emprego e deixava de falar coisas, mas hoje eu me sinto a vontade na DZ", relata o redator. "Durante as aulas, eu via o Joca nas outras pessoas. Percebi que a auto sabotagem é consequência do racismo estrutural. Somos profissionais e temos algo para apresentar. Minha trajetória tem valor e é vitoriosa", expressa. Aline também trabalhou a autocrítica e, sendo uma mulher branca, tinha receio de que as pessoas não confiassem nela por não ser a cara do projeto. "Consegui flexibilizar o acesso à publicidade e trocar ideias com pessoas pretas. Hoje me sinto orgulhosa do resultado", comemora.
O programa de estágio e capacitação ainda não tem data marcada para uma nova edição. Quem deseja se informar mais sobre o Rumos Mais Pretos basta acessar o site da DZ Estúdio (dzestudio.com.br) ou o Instagram (@dzestudio).