Além de atender fatia de mercado, eles buscam conscientizar e conquistar o público que não é adepto

Empreendedores impulsionam seus negócios a partir do veganismo


Além de atender fatia de mercado, eles buscam conscientizar e conquistar o público que não é adepto

Com o fortalecimento das redes sociais e a prevalência de pautas ambientais, um movimento, até então tímido, tem se sobressaído, inclusive, com iniciativas empreendedoras.
Com o fortalecimento das redes sociais e a prevalência de pautas ambientais, um movimento, até então tímido, tem se sobressaído, inclusive, com iniciativas empreendedoras.
É o dos veganos, como a advogada Caroline Floor, de 23 anos, que, após sair do emprego em um escritório, em setembro de 2020, resolveu levar o que era apenas uma filosofia de vida para os negócios. Observando que os cosméticos para este público eram, em geral, mais caros que os que utilizam insumos animais, ela resolveu criar a marca artesanal Floor For Body (@floor_for_body). “Depois de sair do escritório, eu queria trabalhar com algo que eu acreditasse. Então, pesquisei e comecei a fazer sabonetes veganos, daqueles que usamos para colocar no guarda-roupa, para perfumar os espaços. E acabei gostando muito, fui fazer cursos sobre o assunto e passei a produzir toda a gama de cosméticos que disponibilizamos hoje. As pessoas começaram a gostar, encomendar e a marca foi crescendo sem que a gente percebesse”, conta Caroline, que tem nessa jornada a companhia do marido, Bernardo Camargo, de 27 anos.
Entre os cosméticos oferecidos, há xampu, condicionador, sabonete e hidratante corporal sólidos, desodorante tanto sólido quanto creme e pó dental. Buscando ainda mais ser sustável, a Floor For Body não utiliza plástico e entrega os produtos em embalagens sustentáveis — as sólidas em papel kraft e as demais em vidro, que podem ser devolvidos para reutilização.
O xampu sólido, produzido por eles, custa R$ 12,90 e é o carro-chefe dos produtos vendidos. Em comparação com marcas maiores, ele chega a ser quase duas vezes mais barato. A produção é viabilizada observando algumas estratégias, como a compra de matéria-prima em grande quantidade e a redução da margem de lucro. E, mesmo com um lucro menor, Caroline garante que as vendas compensam já que, por um preço mais em conta, é possível vender um número maior e atrair mais clientes.
“Não existem marcas com preços acessíveis. Pelo menos, não aqui em Porto Alegre. Então, se a pessoa quer utilizar um produto natural, ecológico, o preço já é superior. Um produto vegano e artesanal é mais caro ainda. Facilitar o acesso é uma possibilidade de oferecer para um público maior. Muitas vezes, as pessoas estão dispostas a consumir, se preocupam com a proteção animal e em ajudar o meio ambiente, mas não compram por causa do alto preço.”
O preço, apesar de importante, não é visto por Caroline como único fator de atração de público. Ela acredita que o segmento de clientes que buscam por produtos veganos vem crescendo. “Tem diminuído muito o preconceito com o veganismo, aquele pensamento antigo que muitos tinham sobre os produtos veganos serem isso ou aquilo. Tem muitas pessoas que não são veganas, mas se identificam com alguns valores e estão se dispondo a conhecer mais e consumir. Tem quem acredita que ser vegano é difícil e ainda não teve coragem de dar o pontapé inicial, precisa só de um empurrãozinho. Há pouco tempo, teve aquele vídeo do coelhinho, o ‘Salve O Ralph’, que mobilizou e sensibilizou muitas pessoas nas redes sociais. A partir desses acontecimentos, vamos descobrindo que há um público potencial bem grande.”
Por enquanto, as vendas são realizadas através do site, do Instagram ou do WhatsApp (51 99300-7600) da marca e enviados para todo o Brasil.
A expectativa de Caroline é que, no futuro, os produtos também possam ser encontrados em farmácias e outros estabelecimentos de revenda. O processo, porém, não é tão simples. Há uma série de requisitos solicitados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que precisam ser cumpridos para que a marca deixe de produzir artesanalmente e possa revender seus produtos em larga escala. “Esse é um grande passo que queremos dar, mas que demanda planejamento e um investimento financeiro bem robusto. Por isso, pretendemos buscar isso mais em médio e longo prazo. Ainda vamos completar um ano (em setembro) e, primeiro, queremos continuar nesse caminho de crescimento e aceitação de quem está disposto a consumir nosso tipo de produto”, projeta.

O desafio de conquistar e sobreviver

Quando foi criada, no Dia Internacional da Mulher, em 2016, a Ada pretendia refletir os valores e ideais das sócias, Melina Knolow, de 29 anos, e Camila Puccini, 28. Há algum tempo elas vinham se questionando sobre os valores da indústria da moda. "Nós começamos a discutir muitas coisas éticas sobre a produção das roupas e começamos a mudar nossos hábitos de consumo. E, nesse movimento, nós percebemos que tinham poucas opções que abarcassem tudo o que acreditávamos. Ou seja, que fossem do slow fashion, veganas, fossem mais minimalistas e atemporais. Então, nós juntamos isso com o conhecimento prático da Camila, que é formada em moda, e lançamos a Ada", explica Melina, a única vegana das duas sócias.
Para ela, entre todos os pilares da marca, o veganismo foi o mais desafiador nestes cinco anos devido à resistência dos consumidores que não são adeptos da prática. "Acredito que você não precisa fazer 100% das coisas para fazer alguma coisa. Já ouvimos pessoas, por exemplo, perguntarem se, caso comprem uma roupa vegana, precisariam se tornar veganas. E, na verdade, o fazer algo é bem mais importante que não fazer nada. Por isso, tentamos ter uma abordagem bastante sutil em relação a isso", comenta.
O interesse e o conhecimento de consumidores sobre produtos veganos, no entanto, têm crescido. A aversão, como Melina classifica, que existia no passado diminuiu e deu lugar a uma abertura para o que negócios que apostam no nicho têm a propor. "Nós temos clientes com idades entre 15 e 60 anos. E há uma dificuldade do público mais velho para compreender, mas a resistência diminuiu muito. É um sinal de que o movimento tem se fortalecido."
O relacionamento com os clientes conquistados nos cinco anos de existência da Ada é peça chave para a marca. Passando por dificuldades desde o início da pandemia, com falta de matérias-primas e problemas para configurar o perfil do Instagram (@conceitoada), que tem mais de 30 mil seguidores, Melina e Camila criaram a campanha "Ajude a Ada a existir". A ideia consistia em oferecer descontos nas compras com o objetivo de aumentar a receita do negócio. "Trazemos as nossas dificuldades para o jogo, porque as nossas clientes nos apoiam tanto que é uma obrigação sermos sinceras."
Por enquanto, o objetivo das empreendedoras é esse: continuar existindo e respeitando os princípios que guiam a marca. Entre eles, o veganismo. Atualmente, são dez pessoas envolvidas nos trabalhos da Ada, que não lança coleções e produz de acordo com a demanda. No catálogo fixo, os modelos variam de R$ 129,00 até R$ 429,00 e são fabricados tamanhos inclusivos. As vendas são feitas exclusivamente pelo site (conceitoada.com).
 

Diálogo e nada de origem animal

Os quitutes tradicionais para festas já faziam parte da família de Tauane Chaves, 27 anos, mas foi em 2019, quando a mãe dela adaptou uma das receitas para atendê-la, que surgiu a inspiração para um novo negócio. Era o nascimento da Veggie Tals (@veggietalss), delivery de comida vegana que oferece bolos, doces e salgados. "Sou vegana há três anos, por isso minha mãe testou a receita. Amei tanto que começamos a criar outras. Percebi que muitos outros veganos também não comiam salgadinhos de festa porque não havia opções. Então, comecei a divulgar nas redes sociais e fez muito sucesso", conta.
Para Tauane, ainda que a proposta busque preencher uma lacuna que existe no mercado, não deixa de ser um desafio. O fato de trabalhar por algo em que acredita, no entanto, facilita o processo. "Estamos constantemente estudando as receitas para adaptar ao veganismo. Considerar que os animais estão no mundo com a gente e não pela gente nos motiva a pensar em melhores estratégias para alcançarmos mais pessoas e mostrarmos que é possível uma alimentação sem crueldade animal", diz.
Entre as estratégias está o diálogo com os clientes, observando suas motivações e experiências anteriores com o veganismo. São estes relatos e os feedbacks que auxiliam no direcionamento da marca, a fim de atender às expectativas do público. Não à toa, há uma forte aposta em posts interativos nas redes e na comunicação através delas. Entre as ações realizadas no Instagram, estão as usuais 'promoshares' e a divulgação das chamadas entregas coletivas, que garantem entrega em vários endereços de uma mesma região, no mesmo horário, por menor preço.
A Veggie Tals fica em Canoas, mas realiza entregas em toda a Região Metropolitana. As encomendas podem ser feitas pelo Instagram ou pelo Whatsapp (51 98140-7858).
Ao todo, são 14 opções de sabores de salgadinhos no cardápio. Entre os doces, há brigadeiro, beijinho e opções de morango ou amendoim e bolos, que podem ser personalizados e produzidos em 10, 20 ou 30 fatias. Os preços partem de R$ 40,00 e variam de acordo com a quantidade e o produto. "Os dois maiores sucessos do cardápio são a empadinha de palmito e a bolinha de queijo vegano. Entre os salgados, há impacto nos preços quando são utilizados ingredientes mais industrializados como a salsicha e o queijo veganos", explica.
Com o crescimento do nicho e a curiosidade de não veganos pelos produtos sem insumos animais, o plano de Tauane é crescer. "Em primeiro lugar, queremos voltar às feirinhas veganas, impedidas pela pandemia. Também temos uma vontade enorme de abrir um espaço físico e contratar pessoas para formar uma equipe."