Diretamente impactado pela pandemia, o segmento da saúde segue em busca de inovação para atender novas demandas

Pandemia gera novos negócios, soluções, e produtos na área da saúde


Diretamente impactado pela pandemia, o segmento da saúde segue em busca de inovação para atender novas demandas

Quando, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a disseminação do novo coronavírus como pandemia, empresas ligadas ao setor de soluções em saúde iniciaram uma corrida contra o tempo. Era preciso atender a uma demanda sem precedentes por insumos preventivos, como álcool em gel, máscaras e luvas, além de oferecer testes para detecção da doença.
Quando, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a disseminação do novo coronavírus como pandemia, empresas ligadas ao setor de soluções em saúde iniciaram uma corrida contra o tempo. Era preciso atender a uma demanda sem precedentes por insumos preventivos, como álcool em gel, máscaras e luvas, além de oferecer testes para detecção da doença.
Para testagem, no entanto, as opções no mercado, desenvolvidas a partir do aparecimento da infecção, eram limitadas e caras. As soluções não tardaram a aparecer, colocando novas alternativas de testagem no mercado - e, inclusive, novas empresas no jogo.
Foi o caso da Imunobiotech, que nasceu na esteira da pandemia, como resultado de uma força-tarefa de empreendedores, pesquisadores e investidores em busca de soluções para serem apresentadas e introduzidas no mercado. Segundo o diretor-técnico da empresa, Fernando Kreutz, uma das características mais tradicionais da área de biotecnologia é o longo tempo para o desenvolvimento de produtos. A demora, que costuma afastar investidores da área, foi, porém, abreviada com o lançamento do ImunoScov19, um teste que quantifica anticorpos contra a Covid-19, colocado no mercado de forma inovadora no Brasil em junho do ano passado.
O exame custa R$ 180,00 e possui um método diferenciado, que permite a autocoleta de amostras de sangue, adotando a tecnologia de papel filtro, semelhante ao teste do pezinho em recém-nascidos. Deste modo, o paciente pode realizar o procedimento em casa e encaminhar o material para análise no laboratório. O teste, que possui confiabilidade de 98,8%, identifica pacientes que já sofreram infecção pela Covid-19 ou que possuem algum grau de imunidade cruzada com o vírus, inclusive decorrente da vacina.
Quase um ano depois, a empresa aumenta a sua capacidade para uma produção possível de 1 milhão de testes, que devem atender a demanda de todo o Brasil, tendo em vista a facilidade logística da análise. Fernando atribui o resultado, em um segmento que se tornou ainda mais competitivo, a uma série de fatores. "Nós utilizamos uma estrutura robusta, que agilizou bastante o desenvolvimento do ImunoScov19 e contamos com muitas parcerias estratégicas. O fator pessoas, com profissionais competentes também é importante. Trabalhamos para o consumidor conseguir entender o valor agregado da tecnologia no produto", destaca.
Além do teste de anticorpos da Covid-19, a Imunobiotech pretende desenvolver outros tipos de testes para diagnóstico de doenças infectocontagiosas, produtos para detecção de hormônios e outras doenças. "O setor de biotecnologia é a grande estrela do cenário que nós estamos vendo hoje. Testagem, vacinação, tudo tem dependido do setor. Ainda estamos dimensionando a possibilidade de aplicar a rapidez que vimos agora no desenvolvimento de outros produtos. Mas a pandemia deixará algumas coisas de legado, entre elas, essa compreensão sobre a importância da imunologia, a praticidade de se poder fazer um exame sem sair de casa e a capacidade aplicar, de fato, as soluções na resolução dos problemas", comenta.

Em resposta à pandemia, exames a preços populares

Nos últimos meses, o Rio Grande do Sul atravessou a fase mais grave da disseminação e dos efeitos da doença. Unidades de saúde, públicas e privadas, cheias e incapazes de dar conta da demanda se tornaram uma triste realidade. Foi este cenário que levou a rede gaúcha de laboratórios Mont'Serrat a abrir sua primeira operação popular em Porto Alegre. Trata-se do Popular Laboratório, que fica na avenida Assis Brasil, nº 2840, ao lado do Hospital Cristo Redentor, e trabalha para oferecer exames por um preço abaixo do mercado. O foco voltado para as classes C e D, além de pessoas que deixaram de ter plano de saúde em função da crise, é o que pretende ser o diferencial da nova operação. O CEO Sérgio Oliveira revela que o objetivo do novo empreendimento é também contribuir com a sociedade. Segundo a rede, outras inaugurações já estão previstas e a expectativa é gerar de 10 a 12 empregos diretos em cada filial. Contando os indiretos, mais de 100 postos de trabalho devem ser criados. Nesta entrevista, Sérgio fala sobre as estratégias para empreender na área da saúde durante a pandemia, os desafios e aprendizados.
GeraçãoE - Que tendências foram identificadas no ramo da saúde para apostar no novo modelo do Mont'Serrat?
Sérgio Oliveira - O pioneirismo e a inovação sempre foram marcas de nossa trajetória de 30 anos. E estar aberto ao novo é muito importante nesse momento. Quando criamos o Popular Laboratório, queríamos responder a dois anseios da população: oferecer um atendimento ágil e descomplicado, conectado aos novos tempos, e garantir o acesso a exames por um preço acessível. Sempre com princípios que são característicos da rede Mont'Serrat: qualidade, responsabilidade e atendimento humano. O surgimento da nossa empresa, na década de 1990, tem uma relação direta com o espírito empreendedor da minha família. Esse ímpeto sempre esteve relacionado a um propósito maior de responsabilidade social, de fazer a diferença para a sociedade trazendo inovação e soluções para o que as pessoas precisam. O Popular Laboratório é mais um importante capítulo nesta história.
GE - Como foi a adaptação do Mont'Serrat para a pandemia e que lições ficam para o setor como um todo?
Sérgio - Quando os primeiros casos de Covid-19 surgiram no mundo, parecia algo muito distante do Brasil. Mas, no momento em que a pandemia se estabeleceu aqui, criamos uma rotina diária de reuniões, nos três turnos, para avaliar como nos adaptaríamos à situação. Fomos o primeiro laboratório do Rio Grande do Sul a oferecer teste do coronavírus. Naquela época, o investimento era mais alto e de acesso restrito, justamente por ser algo novo. Através de planejamento, conseguimos adquirir os testes e formar um estoque. Também fomos o primeiro laboratório do estado a oferecer testes em drive-thru e a contar com a opção de teste PCR. Atuar com estratégia e pioneirismo foi um diferencial para atender bem os clientes. Por isso, a lição mais importante é a de estar sempre atualizado, em constante evolução, buscando o que há de novo no mercado para estar preparado para qualquer situação. Precisamos ir atrás das oportunidades, oferecer o melhor serviço sempre, em todos os setores. Isso é uma premissa do Mont'Serrat, queremos oferecer o melhor, e estamos sempre em busca da evolução e constante atualização.
GE - Como é empreender no ramo da saúde em meio à uma pandemia?
Sérgio - É preciso coragem para investir e ajudar na retomada econômica por meio da geração de empregos. Mas, acima de tudo, o importante é fazer a diferença na vida das pessoas prestando serviços com a qualidade e o conforto que elas buscam. As empresas precisam estar atentas às necessidades da população. A demanda por esse tipo de serviço cresceu muito, enquanto o acesso para casos de menor complexidade ficou restrito e muitas pessoas perderam seus planos de saúde. Temos de acreditar, ter esperança e sair dessa crise ainda mais fortes, com aprendizados. E é necessário estarmos atentos, ouvindo sempre o que a sociedade demanda. Com cada um fazendo sua parte, viramos o jogo.
GE - Quais serão as estratégias de marketing para atrair as classes C e D ao Popular Laboratório?
Sérgio - Nosso posicionamento de marketing está baseado em nosso diferencial, que é a oferta de exames de qualidade a preços acessíveis. Através de um atendimento descomplicado, contamos com a possibilidade de parcelamento em até seis vezes no cartão de crédito. Oferecemos diagnósticos para Covid-19, pré-natal, urológicos, entre outros. Os exames de sangue, por exemplo, custam a partir de R$ 3,00. A proposta é mostrar, através do Popular Laboratório, um jeito inovador dentro do segmento. São unidades modernas e bem localizadas, com operações eficientes e apoiadas em tecnologia.
GE - Como viabilizar preços que estão abaixo dos praticados no mercado?
Sérgio - O Laboratório Mont'Serrat será o gestor do Popular Laboratório e o responsável por realizar todos os exames. Essa autonomia e o trabalho consolidado é o que permitem conseguir chegar a preços tão acessíveis, uma vez que muitos concorrentes do segmento popular acabam terceirizando a parte de análise. Além da preocupação social, de trazer um benefício para a população através da oferta de exames acessíveis, a rede Mont'Serrat tem uma estrutura robusta, e com isso consegue proporcionar esses valores.

Startup desenvolve monitor para aprimorar triagem de pacientes de Covid-19

A mudança de mercado ocasionada pela pandemia afetou todos os segmentos, até os que já tinham na inovação em saúde o seu foco. A Toth Lifecare, startup do ecossistema do Tecnopuc que está há 13 anos no mercado, teve de adaptar rapidamente os seus produtos de acordo com a nova demanda. O resultado foi um ano de números positivos e prognóstico de mudança fabril e exportações para 2021.
Eduardo Marckmann, CEO da Toth Lifecare, conta que, em 2020, a startup dobrou seu faturamento em relação ao ano anterior. Um dos produtos responsáveis por esse crescimento foi o Smart Check, um monitor de sinais vitais multiparamétrico, desenvolvido para a triagem e internação hospitalar.
O produto já tinha sido lançado antes da pandemia e foi adaptado para atender às novas necessidades das equipes que recebem pacientes de Covid-19. "O monitor de triagem e internação foi desenvolvido em conjunto com a Pucrs focado na triagem dos pacientes da emergência e na internação do hospital, com a diferença de ter termômetro sem contato, pressão, glicose, frequência cardíaca. Com a pandemia, conseguimos fazer um software para auxiliar a classificação de risco focado em parâmetros que eram medidos para Covid. Adaptamos o produto e tivemos um sucesso maior nas vendas", explica Eduardo. O monitor foi usado no Hospital São Lucas da Pucrs e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, ambos em Porto Alegre, o que, garante Eduardo, gerou exposição para a Toth. "A pandemia deu mais visibilidade para a necessidade de classificar pacientes na emergência, e isso nos ajudou a ter um desempenho mais positivo na venda desse produto", pontua.
Outro item que performou de forma positiva foi o desfibrilador. Segundo Eduardo, nesse caso, o que mudou foi o perfil de consumo. Antes, uma versão mais básica era vendida para atendimento de urgências em espaços de grande circulação. Agora, o foco está em ambientes hospitalares e clínicas especializadas. "Cerca de 70% das vendas era de produtos básicos, para locais de grande circulação, e esses espaços diminuíram . O que aumentou foi o mercado especializado. Então, o produto que a gente vendia por R$ 5 mil, hoje, vendemos um mais especializado por R$ 15 mil. Por trás disso, tivemos que mudar toda a estrutura de produção, contratação de fornecedores. Tivemos que adaptar rapidamente o nosso planejamento para conseguir atender à nova demanda", explica o CEO, destacando, ainda, que a startup investiu na importação de testes. "Outra linha que nos ajudou foi a criação de um braço para a distribuição de testes. Fomos uma das primeiras empresas a registrar e importar testes rápidos para Covid, tanto de anticorpos quanto de antígeno", complementa.
A Toth conta, hoje, com 42 colaboradores divididos em três sedes. A fábrica, que opera desde 2018 no parque tecnológico da Feevale, ganhará estrutura própria neste ano, passando de 200m² para 700m².