Das séries iniciais ao Ensino Superior, a Covid-19 impôs desafios a quem trabalha com preparação de pessoas. Veja o que fez quem sobreviveu à pandemia

Negócios na área de educação ganham novos formatos na pandemia


Das séries iniciais ao Ensino Superior, a Covid-19 impôs desafios a quem trabalha com preparação de pessoas. Veja o que fez quem sobreviveu à pandemia

Após praticamente um ano de salas de aula vazias ou semiocupadas, por conta da pandemia do coronavírus que atingiu o mundo, o setor de educação serve de exemplo de superação. Diferentemente de alguns segmentos em que o home office já vinha progredindo, o trabalho generalizado de professores a distância - da Educação Infantil ao Ensino Superior - não estava nos planos. Teve até quem tenha descoberto oportunidades no cenário inesperado.
Após praticamente um ano de salas de aula vazias ou semiocupadas, por conta da pandemia do coronavírus que atingiu o mundo, o setor de educação serve de exemplo de superação. Diferentemente de alguns segmentos em que o home office já vinha progredindo, o trabalho generalizado de professores a distância - da Educação Infantil ao Ensino Superior - não estava nos planos. Teve até quem tenha descoberto oportunidades no cenário inesperado.
O Fleming, curso preparatório para quem quer ingressar na faculdade de Medicina, por exemplo, incorporou o Ensino Médio em 2020. As aulas iniciam em 2021 na nova sede de oito andares nas esquinas das ruas Frederico Link e Ramiro Barcelos, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, mas as inscrições já estão abertas.
E essa não foi a única boa notícia do período. "A expansão do pré-vestibular nos levou para as cidades de Londrina e Maringá, no Paraná, assim como para Chapecó e Joinville, em Santa Catarina, tornando o Fleming o maior preparatório para Medicina do Sul do Brasil, com crescimento de 37% em relação ao ano anterior", afirma o CEO do Fleming Educação, Paulo Landim.
As aulas migraram para o online nos últimos meses, até que, em outubro, algumas unidades voltaram a oferecer a modalidade presencial. A opção virtual, no entanto, permanece para quem prefere estudar de casa.
Além dessas localidades, a marca está presente em Passo Fundo, Caxias do Sul, Santa Maria e Pelotas. Em 2017, o fundo Colibri, com investimento nacional e estrangeiro, adquiriu o Fleming, que, em uma trajetória de 17 anos, contabiliza mais de 10 mil aprovações em vestibulares. Recentemente, o grupo comprou, ainda, o curso Equiláttero, de Caxias do Sul, acelerando mais a expansão.
Para Paulo, o fato do Fleming ser uma empresa organizada foi determinante para enfrentar a crise. "Instituições de ensino menos estruturadas ou com processos informais, sentiram maior impacto na sustentabilidade financeira, muitas delas fechando as suas portas. Por isso, percebo que a pandemia deixou algumas instituições mais frágeis, abrindo espaço para grupos maiores", interpreta.
Paulo destaca a inadimplência como um fator preocupante no mercado, que viu suas receitas caírem. Ao fazer um balanço do ano, acredita que o uso da tecnologia ficará de legado. "Realizamos reuniões mensais com todo o nosso time de quase 200 pessoas, o que antes não acontecia em virtude das distâncias geográficas. Estivemos muito perto uns dos outros."

Casal amplia espaço coletivo para concurseiros

Alguns modelos de negócio despontaram como tendência no segmento da educação em 2020. A empreendedora Laura Lermann, 27 anos, acredita que os espaços coletivos devem ser cada vez mais a escolha das pessoas após os meses de distanciamento social. Isto porque, para ela, a pandemia gerou uma carência por troca de experiências.
Laura e seu namorado, Rafael Radke, 30, são sócios do Metta Espaço de Estudos, em Porto Alegre. O negócio surgiu a partir da necessidade do casal. Formada em Direito, passar em um concurso público era uma das metas de Laura em 2016. Com a dificuldade de estudar em casa, percebeu que os espaços coletivos de estudo, ou costudying, como define, eram comuns em outras capitais. Assim, em 2017, iniciaram o projeto.
No Metta, o estudante aluga uma cabine de estudo que incluiu, além da mesa, suporte para livros, luminária e armários embutidos, para armazenar o material. Os alugueis são mensais, com planos que podem ser diurnos, noturnos ou integrais, a partir de R$ 150,00.
Segundo Laura, o perfil de quem procura o empreendimento é bastante diverso. "É um lugar humanizado para quem não consegue estudar em casa, por diferentes razões. Seja por ter filhos pequenos, trabalhar ou chegar cansado. As pessoas vêm para se preparar para mestrado, doutorado, residência médica e concursos públicos de várias áreas", explica Laura, ressaltando que o espaço funciona 24 horas. "O cliente adapta a sua rotina, vai no horário que pode", complementa.
Comparando com bibliotecas, a empreendedora acredita que o diferencial do espaço é oferecer estrutura de copa, com cafeteira e geladeira, além de proporcionar liberdade de decoração da sua cabine. Por funcionar no antigo cinema Baltimore, na avenida Osvaldo Aranha, nº 1.022, Laura pontua que tanto o prédio comercial quanto o bairro tornam a experiência mais agradável.
"O prédio por si só dá um suporte para os alunos, tem cafeteria, bicicletário, é seguro. Sou apaixonada pelo Bom Fim. É um bairro tranquilo, tem tudo por perto. Facilita muito."
No início do ano, antes da pandemia, o casal abriu a segunda sala, no mesmo prédio, a fim de atender a lista de espera. Hoje, são 44 cabines no total, mas, com os novos protocolos da Covid-19, somente metade desse número pode ser ocupado. "Ficamos fechados por um tempo e, aos poucos, conseguimos adaptar. Hoje, ninguém entra de sapato. Todo mundo tem seu chinelo. Deixamos mais espaçamento entre as cabines, todos usam máscara, cada um no seu canto com álcool em gel. Muitos concursos públicos foram suspensos, porém acho que o ano que vem será bom para quem está estudando", prevê Laura.
Para a empreendedora, o home office ratificou a importância da troca e do convívio. "Tem gente que estuda quatro, cinco anos para passar em um concurso público e precisa compartilhar um pouco", afirma.
 

Startup que auxilia produção de trabalhos acadêmicos dobra de tamanho

A startup Mettzer, de Santa Catarina, dobrou de tamanho em 2020. O negócio dela é ajudar na escrita, orientação e publicação para todos os tipos de trabalhos acadêmicos, de forma 100% online e colaborativa. Só no Rio Grande do Sul, 9.416 estudantes utilizaram a plataforma e 253.889 acessaram os conteúdos neste ano.
O projeto começou com uma frustração pessoal do criador da empreitada, Felipe Mandawalli, em desenvolver pesquisas na faculdade, formatar trabalhos nas Normas ABNT ou gerenciar projetos no Excel. "Durante a faculdade, percebi o quão complicado era se envolver com a pesquisa, algo tão importante para a sociedade e para o desenvolvimento humano, mas, ao mesmo tempo, tão distante da realidade dos estudantes", afirma.
Foi com esse pensamento que, em 2016, deu o pontapé inicial na Mettzer. Quatro anos depois, um desafio complexo: a chegada da Covid-19. "Confesso que trancamos a respiração em março e fomos respirar novamente em maio. De uma hora para outra, vimos nossos usuários abandonando a plataforma e instituições de ensino parando suas operações", narra ele.
Em maio, no entanto, o jogo virou, com todos os estudantes, professores e pesquisadores adaptados ao ambiente online. "Se fez necessária a utilização de plataformas digitais que auxiliassem no desenvolvimento acadêmico, que oferecessem melhor experiência para esses usuários. Foi aí que a Mettzer se encaixou", detalha. Sorte? Persistência em acreditar que o projeto, um dia, faria muito sentido.
Além de CEO da Mettzer, Felipe é diretor de Educação da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), o que lhe traz uma visão mais crítica sobre os impactos no mercado. O modelo de educação tradicional, segundo ele, estava em cheque, mas havia resistência em executar um plano de transformação digital. "Na prática, o ensino já era híbrido, pois a grande maioria dos estudantes universitários estava conectada à internet e utilizava o recurso no seu dia-a-dia de estudos e pesquisas. A pandemia institucionalizou a modalidade", considera.
Em 2020, a Mettzer foi acessada por mais de 5 milhões de estudantes e pesquisadores no Brasil e em outros 16 países, distribuídos em mais de 1,6 mil instituições e deve chegar a 7,5 milhões de acessos este mês.