Não há como negar que muitas experiências foram perdidas por conta da pandemia do coronavírus. A opção para quem atuava em um mercado que dependia dos estímulos sensoriais, em 2020, foi uma só: a reinvenção.
A gastrônoma e sommelier Michele Landgraf, de Porto Alegre, teve o desafio de manter o interesse do público por suas degustações de vinhos. Atualmente, ela monta e entrega kits nas casas dos clientes. Foi o jeito de continuar oferecendo um serviço que, antes da Covid-19, era totalmente presencial. "A vontade de reproduzir, pelo menos minimamente, o que a gente vivia me deu esse start, essa ideia de encontros virtuais", avalia Michele.
A iniciativa de abrir turmas para degustar os vinhos surgiu de uma brincadeira com uma amiga, que criou um grupo no WhatsApp e mandou um vinho para cada um dos integrantes e o horário para que todos tomassem juntos. "Minha amiga é sommelier, mas não trabalha com isso. Como eu atuo no ramo, ela disse que era para eu tomar conta do grupo." Nasceu, assim, seu novo negócio.
Hoje, toda semana, Michele ministra uma degustação de vinhos da seguinte forma: são enviadas de cinco a seis garrafinhas de vinhos selecionados, uma refeição e uma ficha de degustação. Ela pesquisa sobre a história e a cultura do local de onde vem o vinho e o papo rola solto, com entregas em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Uma das preocupações de Michele é a apresentação do produto. Para a sommelier, é importante que o participante já saiba do que se trata ao receber os vinhos. Não é apenas um delivery ou um pacote dos correios, é uma experiência gastronômica que foi pensada, exclusivamente, para o seu público, segundo ela.
"Criei um método de abordagem completamente diferente, que ninguém usa em degustação de vinhos. O apelo maior dos meus eventos é que não avaliamos tecnicamente o vinho. Fazemos uma avaliação sensorial, sensitiva. A abordagem é a partir do que o vinho te desperta, como que tu te sentes bebendo."
No dia da degustação, Michele cria um grupo de WhatsApp - assim como fez sua amiga inicialmente - para compartilhar a localização dos pedidos e curiosidades sobre os vinhos. "Depois do encontro, compartilho a ficha e a foto dos rótulos", detalha a sommelier.
A degustação foi feita para ser apreciada tanto por leigos como pelos amantes da bebida. "Como aposto na experiência em si, desde a pessoa que nunca tomou uma taça de vinho até o maior expert, estão todos no mesmo nível. A maneira como discutimos essa degustação é completamente diferente", pontua. As degustações semanais acontecem nas terças-feiras e custam R$ 95,00.
Churrasco a distância: só falta o cheirinho da fumaça
O projeto do El Topador é multiplataforma e por conta disso teve facilidade em se adaptar
Negócios
Através do projeto El Topador, Antônio Costaguta ensina os macetes da gastronomia perto do fogo Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/JC/ Colocar os alimentos no fogo, de forma rústica, é uma das maneiras mais antigas de cozinhar. Assim como era o hábito de se aglomerar ao redor dele, principalmente no Rio Grande do Sul.
Pular esse obstáculo e continuar gerando uma experiência gastronômica acolhedora, mesmo que a distância, foi o desafio que Antônio Costaguta, do El Topador, abraçou. Publicitário de formação, Antônio percebeu que não existiam muitos profissionais produzindo conteúdo sobre carne. "Fui estudar fora para construir o El Topador e trazer toda essa parte teórica, técnica, histórica e cultural para as pessoas. Isso, com certeza, fez com que o público mudasse a percepção sobre essa arte", percebe.
O El Topador, hoje, é um projeto multiplataforma que conta com cursos, loja com produtos personalizados e um refúgio na Zona Sul de Porto Alegre. O espaço intimista comporta 25 pessoas e, antes da pandemia, sediava casamentos, formaturas e aniversários. Tudo com vista para o Guaíba, no bairro Vila Assunção.
Com as atividades presenciais suspensas por conta da Covid-19, Antônio diz que já foram mais de 50 agendamentos cancelados. Mas isso não o impediu de buscar formas de continuar.
"Criamos uma marca forte nos últimos anos em volta da cultura, gastronomia, arte e muita simplicidade. O que a gente fez na pandemia foi uma maneira diferente de produzir conteúdo que tivesse todos esses pilares e fazer com que as pessoas que estivessem em casa, de alguma forma, se sentissem próximas a nós."
Uma das novidades da quarentena foi a webserie Desbravando com o El Topador. Nela, Antônio explora o Rio Grande do Sul através de sua cultura e da gastronomia. Ele faz um fogo de chão em cada episódio utilizando os ingredientes que encontra no caminho. A iniciativa contou com o apoio de algumas marcas, como Iesa, Best Beef e Cerveja Patagônia. A série está publicada no canal do YouTube do Mestre Parrillero (www.youtube.com/c/eltopador).
Os cursos e eventos também ganharam fôlego no formato online. "Fizemos eventos para grandes empresas através de lives, em que participaram entre 200 e 500 pessoas. Falamos sobre a gastronomia do fogo e do churrasco. Em alguns, convidamos músicos e um pajador. Em outros, um gaiteiro. Dependendo do perfil da empresa, adaptamos para que não seja só um churrasco normal, mas uma experiência, mesmo que online. E isto é superviável, basta disposição", diz Antônio.
Segundo o parrillero, muitas vezes, os seres humanos assumem que experiências são imediatamente físicas, mas há espaço para a criatividade, principalmente no cenário atual.
Com ou sem delay, não precisa faltar a hora do 'parabéns a você'
O Box Festivo tem caixas de tamanho P, M e G
Negócios
Marianne Salatino lançou o Box Festivo, um kit para celebrações Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/JC/ Com a impossibilidade de comemorar aniversários e formaturas, muitas pessoas optaram por fazer celebrações em casa. O Box Festivo surgiu nesse contexto para levar a experiência de uma festa dentro de uma caixa.
Marianne Salatino é estudante de Design e teve a ideia ao ver padarias e confeitarias apostando em kits personalizados para o Dia das Mães. "Me perguntei se havia um presente assim que não fosse só comida. Daí, comecei a pesquisar e ver o que já existia nesse sentido. Vi bastante referências de box que já estavam sendo feitos em Porto Alegre e pensei em como deixar a caixa com o meu estilo", narra ela.
As caixas são personalizadas e são motivo de alegria para os anfitriões e os participantes das festas. Para Marianne, a experiência se dá pela surpresa, pois muitos presenteados não sabem que vão receber. Entre os itens, há balões, flores, docinhos, bolinhos, uma faixa e recadinhos. "Acho que a pessoa se sente num aniversário de verdade. Não é só cantar parabéns com a família, é cantar parabéns com uma decoração de aniversário, com coisas e recados que os amigos mandam."
Com um investimento inicial de R$ 1 mil, Marianne toma todos os cuidados na hora da produção das caixas. Ela mesma faz as entregas e a montagem. "Tem sido bem legal porque as pessoas se preocupam, mesmo com o distanciamento social, de fazer alguma coisa para os outros sentirem carinho e não ficarem tristes."
Primeiramente, Marianne produziu quatro modelos de caixas para o Dia dos Namorados. "Fiz o teste, mandei para algumas amigas que tinham bastante seguidores para ver a repercussão, se ia dar certo, e acabou que deu", diz a empreendedora. O valor das caixas varia de acordo com os tamanhos - P, M e G -, sendo que a clientela pode tirar ou adicionar coisas ao box.