Veja de que maneira empreendedores estão usando o crédito e quais os impedimentos para mais acesso

Pequenos negócios recorrem ao Pronampe para sobreviver na pandemia


Veja de que maneira empreendedores estão usando o crédito e quais os impedimentos para mais acesso

O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), considerada por especialistas a melhor iniciativa durante a crise do coronavírus para acesso a empréstimos, encerra sua primeira fase na semana que vem, no dia 15 de agosto. Só no Rio Grande do Sul, foram liberados R$ 1,78 bilhão, somando mais de 28 mil operações.
O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), considerada por especialistas a melhor iniciativa durante a crise do coronavírus para acesso a empréstimos, encerra sua primeira fase na semana que vem, no dia 15 de agosto. Só no Rio Grande do Sul, foram liberados R$ 1,78 bilhão, somando mais de 28 mil operações.
Layon Anselmini, 27 anos, é sócio do restaurante Vida e Saúde, aberto em 2004 no Centro Histórico de Porto Alegre com foco no público vegetariano. Ele teve de recorrer ao crédito bancário por dois motivos: para reserva de emergência (capital de giro) e para aplicar em investimentos e inovações. O jovem conseguiu a liberação de R$ 100 mil através do Banrisul.
"Entre a chegada do Pronampe ao banco e o empréstimo ser creditado, passaram oito dias. Fomos muito bem atendidos pelo gerente que nos informou a disponibilidade do crédito e realizou todo o processo formal", celebra Layon.
Antes da pandemia, o Vida e Saúde contava com buffet livre com frutas, saladas, pratos quentes, grelhados, sobremesas e sucos. Agora, a operação funciona através da comercialização de marmitas por take away, delivery ou drive thru. "É hora de parar para afiar o machado, de se adaptar. Não estamos de braços cruzados", avisa.
Com 17 colaboradores, Layon afirma ser impossível evitar os cortes, mesmo com o montante do Pronampe, já que o negócio está faturando 10% dos resultados do mesmo período de 2019. "É difícil mantermos todos diante de um futuro próximo incerto, visto que estamos com a nossa principal receita do restaurante, o buffet, impossibilitada de operar. Talvez tenhamos um quadro reduzido de pessoas agora para voltarmos a abraçar todos novamente pós-pandemia."

'Estamos na UTI, o dinheiro vai acabar logo'

Fabrício Breda Marocco, sócio do restaurante Ojas, no bairro Independência, em Porto Alegre, teve acesso a R$ 100 mil do Pronampe através da Caixa Econômica Federal. Ele teme, no entanto, que a quantia não cubra todos os gastos provocados pela pandemia.
"O meu negócio está na UTI. Vamos ter que descobrir maneiras de aumentar nosso faturamento urgentemente. Se não, o dinheiro do empréstimo vai acabar logo", prevê o empreendedor.
O Ojas abriu em 2013 e sempre apostou na unidade física, sem delivery. Com uma estrutura grande, Fabrício diz que, mesmo fazendo as adaptações para começar a funcionar por tele-entrega e take away, os custos são maiores que o faturamento. A quantia do empréstimo será usada, basicamente, para o pagamento dos salários dos funcionários, que eram sete e, agora, são dois.
"Minha estratégia está mais voltada em tentar diminuir despesas e aumentar receitas do que, propriamente, em como usar esse dinheiro", afirma ele, que teve a liberação da Caixa em uma semana.
 

Principal empecilho é a restrição cadastral

Augusto Martinenco, analista senior do Sebrae-RS, concorda que o Pronampe seja a principal linha de crédito em operação junto aos pequenos negócios. Por isso mesmo, ele torce para que o programa seja mantido por mais tempo - o Senado já aprovou a medida, que precisa da assinatura do presidente Jair Bolsonaro. Conforme o especialista, o que mais impede empreendedores de conseguirem o dinheiro é a restrição cadastral pré-crise.
A dica é resolver pendências. "Se a empresa tem condição ruim, primeiro deve solucionar a situação para depois fazer a solicitação. É importante que tente resolver isso de forma rápida para ainda acessar estes recursos", sugere. A lei estabelecia um limite de prazo de até 90 dias após a data de sanção, em maio.
O governo, agora, pode prorrogar por mais três meses e colocar recursos extras. "A expectativa é que a partir do dia 15 as instituições voltem a operar com R$ 12 bilhões." Mesmo com taxa de juros baixa, de 0,29% ao mês, o Sebrae sugere que seja feito um planejamento para o montante. Duas frentes devem prevalecer: quitação de dívidas (para gerar um custo financeiro menor) e investimento em ações que potencializem vendas. "É importante acabar com os problemas de hoje, mas com um olhar para a retomada."

Onde buscar

No Rio Grande do Sul, as instituições financeiras que trabalham com o Pronampe são: Banco do Brasil, Banrisul, Badesul, Caixa, Itaú, Sicoob e Sicredi. Caso o governo libere mais dinheiro, quem pode acessar são negócios com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões e, no mínimo, 12 meses de funcionamento.