Cuidados com a mente também são necessários para superar o momento de ansiedade vivido desde a chegada do coronavírus ao País e ao mundo

Saúde mental entra na lista de preocupações de empreendedores na pandemia


Cuidados com a mente também são necessários para superar o momento de ansiedade vivido desde a chegada do coronavírus ao País e ao mundo

A KingHost, empresa de Porto Alegre dedicada a soluções digitais para profissionais de tecnologia e empreendedores, elaborou uma série de métodos para manter a saúde mental de seus colaboradores em dia. Dentre os benefícios, está o acesso à plataforma Zenklub e ao Gympass Wellness, que, por meio de aplicativos de parceiros, oferece exercícios on-line, planejamento nutricional, meditação e sessões de terapia. A KingHost, aliás, integra uma parcela de negócios que viu na atenção ao que passa na cabeça dos funcionários algo tão importante quanto o resultado das vendas.
A KingHost, empresa de Porto Alegre dedicada a soluções digitais para profissionais de tecnologia e empreendedores, elaborou uma série de métodos para manter a saúde mental de seus colaboradores em dia. Dentre os benefícios, está o acesso à plataforma Zenklub e ao Gympass Wellness, que, por meio de aplicativos de parceiros, oferece exercícios on-line, planejamento nutricional, meditação e sessões de terapia. A KingHost, aliás, integra uma parcela de negócios que viu na atenção ao que passa na cabeça dos funcionários algo tão importante quanto o resultado das vendas.
"Cuidar dos 'KingHosters', como chamamos nossos colaboradores, é nossa bandeira. Então, é tudo consequência deste cuidado. Nosso propósito é criar parcerias incríveis com todos que nos relacionamos, sejam clientes ou colaboradores. Buscamos manter relações ganha-ganha de forma permanente", afirma a gerente de Recursos Humanos da KingHost, Fernanda Pauletti.
Como reflexo de todo esse caminho, a empresa conquista a certificação Great Place to Work desde 2013. "Me sinto confortável de falar que o cuidado com as pessoas não é apenas uma inspiração, mas está no DNA da nossa empresa. Posso dizer que é muito importante esse índice de confiança nos colocar nos rankings e que tudo isso se conquistou a partir de pesquisas internas feitas com nossos colaboradores", conta Fernanda.
Nos últimos anos, a KingHost venceu prêmios como o Top Ser Humano; o WEPs, da ONU Mulheres, por equidade de gênero; o GPTW Mulher pela conduta adotada; entre outros.
A ginástica laboral e a meditação, que já eram práticas da rotina presencial, agora acontecem por videoconferência. Fica entre 5% e 10% a taxa de participação do pessoal na meditação. As ações da empresa revertem em um maior engajamento daqueles que a fazem girar - a KingHost estima que cresceu em mais de 10 pontos percentuais esse índice de interatividade dos funcionários.
Além disso, há um esforço por parte do RH para uma maior compreensão das demandas do home office no caso de quem é mãe. "Como mais uma forma de cuidar e dar suporte às nossas equipes no período de home office em decorrência da Covid-19, iniciei uma conversa individual com as mães KingHosters para gerar acolhimento e empatia, pois sei o que estão passando nessa nova forma de viver e trabalhar. A rotina profissional e a rotina com os filhos precisam de um equilíbrio, por isso pensamos nesta medida. Nosso objetivo é ampliar aos pais e também conduzir um grupo de apoio com conversas quinzenais para este público interno, que é tão importante para nós e para a sociedade", destaca Fernanda.

"Estamos vivendo um período de grande gatilho"

No final do último mês de junho, uma reportagem da Veja repercutiu muito nas redes sociais por tratar da saúde mental como epidemia oculta na era da Covid-19. André Biernath, jornalista formado pela PUC-SP, com pós-graduação em Comunicação e Mídias Digitais pela ESPM, assina o conteúdo. Ele é referência nesses temas no País por ser presidente da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (Rede ComCiência). Conversamos com ele devido ao contato intenso que tem com cientistas e empreendedores do ramo da saúde.
GeraçãoE - Tem como empreendedores se manterem positivos em relação a tudo que está acontecendo?
André Biernath - Se eu pudesse dar uma resposta curta, seria: não. Mas como ouvi de uma fonte, recentemente, a questão não é nem ficar positivo ou negativo. É manter o medo sem criar pânico. O medo nos faz sermos mais prudentes, de acordo com a situação, de acordo com a autopreservação. Não tem como ficar positivo sem um ministro da Saúde atuando, não temos políticas públicas claras, não temos um programa de rastreamento de casos, números que não sabemos se podemos confiar. Acho que não dá para ser piegas e falar de autoconhecimento, de sair melhor disso ou de se apegar naqueles posts do LinkedIn que falam que foi durante uma pandemia que Newton descobriu as Leis da Física, que o Shakespeare escreveu suas peças. Ok, há pessoas que vão aprender novos idiomas, buscar novos conhecimentos, mas tem gente que não vai conseguir fazer absolutamente nada. Se aparecerem sinais mais graves, como perda de qualidade de vida ou dificuldades para trabalhar, procurar um psicólogo ou psiquiatra é fundamental. Nossa sociedade tem uma visão que ansiedade e depressão são doenças de louco ou de gente que se finge.
GE - O impacto à saúde mental das pessoas pode ser comparado à proporção da pandemia pelo vírus?
André - É muito subjetivo como as pessoas percebem os riscos e os perigos. Quando a pandemia nem tinha chegado aqui no Brasil, tinha-se notícias de pessoas que estavam estocando papel higiênico em casa. Agora, que tem 50 mil mortes no País, o pessoal está saindo, indo para o bar, querendo voltar à normalidade. Mas tudo leva a crer que o esperado é que, a partir de agora, a gente viva um processo de piora na qualidade de vida e na saúde mental. Estamos vivendo um período de grande gatilho.
GE - A sensação de estar sempre alerta a um inimigo que não tem rosto pode acarretar em problemas mentais mais graves no futuro?
André - Sim, a ciência aponta para esse caminho. Essa questão de não ter rosto é um desses ingredientes, inclusive. Se você pega em outras crises humanitárias ou grandes momentos da história sempre houve um inimigo em comum para se combater. Na Segunda Guerra Mundial foi o Nazismo, na Guerra ao Terror promovida pelos Estados Unidos, sem julgar precedentes, era, entre outros, Osama Bin-Laden. Sempre se teve como enxergar um rosto. Agora, existe um vírus que você não sabe se está na pessoa da rua, no familiar ou no amigo. É complicado o distanciamento. Ainda mais no Brasil, em que a gente gosta de abraçar, de apertar a mão. É uma questão que envolve cultura e hábitos.
GE - Este pode ser considerado o momento mais grave da história no âmbito da saúde de forma geral?
André - Não é o mais grave no ponto de vista numérico, porque temos a Gripe Espanhola, a mãe das pandemias, que matou milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas esse vírus carrega alguns fatores que fazem com que ele seja muito desafiador.
GE - Percebe a área da comunicação mais especialmente refém do estresse que outras áreas?
André - Tenho uma percepção que estamos entre os grupos mais afetados. Temos essa obrigação de dar a notícia. Temos uma incapacidade de comunicar a incerteza. A recomendação de antes pode não ser a de agora. O próprio uso da máscara foi um caso assim. E não é saudável a obrigação de conseguir um furo de algo relacionado a isso. Muitas vezes, somos os primeiros a receber as notícias, nós que somos impactados com a informação inicial, com os números alarmantes. E aí temos que nos concentrar para levar da melhor maneira para o público. Os profissionais da área da saúde são, acredito, os mais afetados com tudo isso por botar a cara nessa linha de frente, mas eu acredito que jornalistas estão entre as profissões mais afetadas.

Psicóloga recém-formada dá dicas pelo Instagram

Sugestões de leitura, postagens motivacionais, formas de relaxamento corporal, entre outros temas. A psicóloga Danyele Wilbert encontrou nas redes sociais uma maneira de contribuir com a saúde mental das pessoas em um momento tão delicado quanto o atual. Além disso, é um jeito de ela permanecer na cabeça de futuros pacientes quando a pandemia acabar.
Formada pela Ulbra, Danyele não teve tempo de sair da faculdade e buscar uma vaga na área. A pandemia foi decretada quatro dias depois de sua formatura. "Foi uma sensação de alívio em terminar porque foram sete anos, ao mesmo tempo em que foi uma aflição. Tanto pelo período profissional quanto pelo fato de ter sido uma aglomeração enquanto novos casos iam surgindo. Um misto de sensações. É uma situação que gera sentimentos conflitantes. É para ser o momento em que tu pensas que tudo deu certo, mas ficou a preocupação", entende Danyele sobre a fase.
Atualmente, com a agenda fechada para atendimentos e com possibilidade de reabertura para novos pacientes no último trimestre do ano, a profissional entende que o transtorno de ansiedade é um dos principais fatores de preocupação da comunidade científica no momento. "Isso se deve ao alto índice de relatos." Danyele acredita, também, que isto se deve ao fato de ser um "período novo e cheio de incertezas."
Os sintomas da ansiedade, para quem não conhece, podem variar de preocupações constantes com um ou diversos âmbitos da vida, sensações de medo ao ponto de interferir nas atividades diárias, podendo chegar a ataques de pânico e transtornos obsessivo compulsivo e de estresse pós-traumático.
Durante a pandemia, diversos portais de notícias começaram a falar muito sobre ansiedade. Macetes baseados em disciplinas comportamentais, remédios naturais e outras soluções foram abordadas (basta digitar "ansiedade" na aba de notícias do Google para perceber). A verdade é que, em como todas as outras doenças, nada substitui o auxílio profissional.
"Esse é um momento em que o acompanhamento psicológico, o acolhimento, são essenciais. Acredito que mais para frente vai haver um impacto muito grande. As pessoas vão precisar dessa visão de um profissional em suas vidas. E, possivelmente, não vão estar financeiramente bem para procurar por um atendimento. Então, iniciativas que ajudem nisso serão de fundamental importância", afirma Danyele.
Quanto ao uso de tecnologia, a psicóloga afirma que o momento é propício para as experimentações de novas ferramentas e tentativas. "Nesse momento, nosso maior aliado é a tecnologia, não tem como fugir. Os atendimentos on-line cresceram muito. Muitos profissionais não tinham essa prática, e tiveram que se adaptar. Atendimentos presenciais ainda existem em alguns casos, mas as plataformas de vídeo estão dando conta de muitos." O trabalho de Danyele pode ser acompanhado através do Instagram @psico.danyele.