Pastelaria, galeteria, pub de brownies e buffet de sushi. Esses são apenas alguns empreendimentos que cancelaram atividades durante a crise

Negócios fecham em meio à pandemia


Pastelaria, galeteria, pub de brownies e buffet de sushi. Esses são apenas alguns empreendimentos que cancelaram atividades durante a crise

Há empreendedores que, mesmo amando o ramo em que atuam, precisaram paralisar as atividades do negócio próprio. Foi o caso dos donos do MG Restaurante e Pastelaria, que funcionou por 24 anos na Zona Sul de Porto Alegre. Nos últimos meses, o casal Maria Piloti, 50 anos, e Gilmar Piloti, 61, já pensava em encerrar a operação. A oficialização, no entanto, ocorreu em meio à pandemia de Covid-19, quando o estabelecimento não pôde mais operar.
Há empreendedores que, mesmo amando o ramo em que atuam, precisaram paralisar as atividades do negócio próprio. Foi o caso dos donos do MG Restaurante e Pastelaria, que funcionou por 24 anos na Zona Sul de Porto Alegre. Nos últimos meses, o casal Maria Piloti, 50 anos, e Gilmar Piloti, 61, já pensava em encerrar a operação. A oficialização, no entanto, ocorreu em meio à pandemia de Covid-19, quando o estabelecimento não pôde mais operar.
Segundo Gilmar, que coleciona quatro décadas de experiência no ramo da gastronomia, os pastéis do MG eram considerados os melhores da região pela clientela. "Demorou para ser reconhecido, mas, nos últimos tempos, estava bombando", lembra. Natural do município de Relvado, ele já havia liderado outros negócios, como a rede de restaurantes Prenda Minha, que teve seis filiais no Estado.
Os pastéis, porém, surgiram em 2006 na vida da dupla. "Servíamos buffet de dia e tínhamos churrascaria à noite, mas o movimento foi caindo", conta Gilmar. Em uma conversa com os filhos, Marcos e Giovani, surgiu a ideia de montar um rodízio de pastéis, ramo que não tinha concorrência expressiva na época. Somando os doces e os salgados, o MG servia 40 sabores. "O doce que mais saía era o Branca de Neve, com chocolates preto e branco e morangos", afirma Maria.
A rotina para manter o funcionamento, porém, era pesada. Gilmar relata que, às vezes, somava 15 horas trabalhando no restaurante, fora as atividades externas, como comprar insumos e preparar massas e recheios.
"Eu era garçom, limpava mesa, servia, atendia", lista. Essa rotina, que privou o casal de vários momentos de lazer, tornou-se exaustiva. "Mas não me arrependo. Saímos da roça, entre nove irmãos, só com a roupa do corpo. Demos a volta por cima", interpreta.
A decisão de fechar, afirmam, foi difícil. Com as atividades presenciais paradas desde 20 de março em razão do decreto municipal, houve tentativas para manter o negócio com as tele-entregas, mas o retorno não foi como o esperado. Com 10 funcionários, ficou difícil manter a operação.
"Chorei uma semana inteira", confidencia ele. Na página do Facebook do restaurante, que soma quase 5 mil curtidas, a postagem de aviso de encerramento tem mais de 360 comentários de clientes. "Um menino nos ligou chorando, pedindo para não fechar", comenta Maria.
A ideia, agora, é fazer com que algum membro da família suceda o negócio. "Temos esperanças em vender o ponto para outra pessoa", diz Gilmar. O sentimento de amor pelo restaurante, inevitavelmente, continua. "Talvez, quem sabe, a gente abra de novo. Mas não agora", evidencia. Antes de pensar nisso, o casal promete viajar, descansar e aproveitar uma parte da vida que não foi explorada enquanto deixavam os frequentadores felizes.

Galeto Santa Maria encerra operação após duas décadas

Restaurante, que ficava no DC Navegantes, encerrou mais de duas décadas de operação

Funcionando há quase 22 anos em Porto Alegre, o Galeto Santa Maria não resistiu aos impactos da crise causados pelo coronavírus. No dia 20 de abril, os proprietários decidiram encerrar a operação do restaurante, que se intitula como o primeiro a servir galeto na grelha de carvão na Capital. Segundo o sócio Carlos Alberto Coutinho, conhecido pelos clientes como Beto, o negócio já passava por dificuldades nos últimos meses ocasionadas, principalmente, pelo período de férias, de significativa baixa na Capital.
"Nós aguardamos o mês de março para realmente começar o ano, mas aí, veio a pandemia e vimos que a recuperação não seria imediata", afirma Beto. Como o restaurante ficava dentro do Shopping DC Navegantes, o aluguel era caro, e as despesas para mantê-lo fechado se tornaram inviáveis. "Nós servíamos, por mês, cerca de 6 mil pessoas. Nosso público era fiel." Segundo ele, a modalidade de delivery não resolveria a situação do negócio, pois a concorrência era alta e a localização do restaurante não facilitava, por ser em um bairro afastado.
Assim, a decisão de fechar o Galeto teve de ser tomada. Doze funcionários foram demitidos. "Tínhamos gente de 20, 15, 10 anos trabalhando conosco", conta. O sócio orgulha-se ao dizer que honrou com o pagamento de todos os funcionários e fornecedores. "Tentamos, com nosso parceiro financeiro, um capital de giro. Os juros eram razoáveis, mas as taxas, exorbitantes. Ficou inviável", pontua.
Beto afirma que a operação do restaurante em Santa Maria, que originou o negócio de Porto Alegre, continua. "Estamos trabalhando com um terço da capacidade, mas a frequência de antes não voltou." Para ele, 2020 será um ano de grandes prejuízos para o setor de alimentação. "O que o governo pode fazer é isentar custos de impostos, aluguéis, energia, folha de pagamento", reflete, sobre as possíveis saídas do cenário de crise.
 

Charlie Brownie não consegue cobrir custos da unidade do bairro Cidade Baixa

Empresa continuará operando no bairro Mont'Serrat com delivery e takeaway

A doceria e cafeteria Charlie Brownie, uma das mais tradicionais e conhecidas do ramo em Porto Alegre, anunciou, em maio, o encerramento das atividades do pub na Cidade Baixa, através de comunicado via página oficial no Facebook. O local, que ficava na rua General Lima e Silva, unia "sobremesas e doces associando um lugar de amor pela diversidade com eventos culturais, cafés e drinks".
A empresa continua a operação com delivery e takeaway durante a pandemia nas filiais na avenida Mariland e na rua Fabrício Pillar, no bairro Mont'Serrat.
O texto traz justificativas para a decisão do encerramento, como a falta de apoio de bancos. "Diferentemente dos anúncios políticos, os bancos não estão facilitando a vida de ninguém, e fica nossa crítica forte (em especial) ao Banrisul." Além disso, o anúncio aborda os problemas envolvendo o bairro, que já vinham sendo frequentes mesmo antes do coronavírus e afetavam a vida social da região.
"O bairro Cidade Baixa vinha sofrendo, consideravelmente, pela falta de diálogo entre moradores, empreendedores e poder público. Nós até ingressamos na associação dos empreendedores do bairro, mas, embora tenhamos tentado ser progressistas, pouco espaço tivemos", afirma a postagem.
A empresa também afirma, no texto, que teve a ideia de funcionar como doceria e padaria no local, deixando as atividades de pub apenas para os fins de semana, quando o isolamento social passasse, e até abrindo uma escola de padaria, confeitaria, barismo e bartenders. Os custos para a implementação dessas mudanças, porém, seriam prejudiciais ao negócio. "Qualquer migração de funcionamento exigiria investimento, maquinário, estruturação de equipe, tempo e energia que, no momento, estão focados na sobrevivência da Charlie da forma que for possível."
Por fim, a Charlie Brownie encerra sua "maior perda até o momento", mas não descarta a possibilidade de voltar ao bairro boêmio.
"A gente sabia que o momento da pandemia seria de administrar perdas, então anunciamos nossa maior perda até o momento: o fechamento total da operação da Cidade Baixa, algo que nos custou noites sem sono para impedir que acontecesse, mas é a decisão mais madura a ser tomada. Esperamos - quando tudo isso passar - ter a oportunidade de retornar ao bairro. De reconstruir nossos projetos e contribuir para que a cultura de diversidade permaneça viva. Nosso amor pelo bairro e por todos que dele fazem parte permanece. Inclusive já deliramos com a ideia de administrar o Olaria, que é uma galeria culturalmente incrível que vem perdendo seu encanto. Embora nos sobre ousadia nos sonhos, falta recursos para empreitadas tão grandes. Que seja um até logo, CB!", diz o post.
 

Restaurante japonês deixa cerca de 7 mil clientes órfãos

Empreendedor afirma que não conseguiu acompanhar as mudanças causadas pela pandemia

O Marcos Sushi, restaurante japonês que atuava há seis anos na rua Barão do Amazonas, em Porto Alegre, também deixou de funcionar. Segundo o sócio-proprietário, Marcos Machado, o negócio tinha oito funcionários que produziam para uma cartela que chegava aos 7 mil clientes.
"Abrimos o restaurante como um sonho, e o nosso foco sempre foi o atendimento presencial. Ao passar dos anos, criamos formas de 'mimar' os clientes. Mas não conseguimos acompanhar as mudanças tão rápido", conta. Mesmo já realizando tele-entregas antes do fechamento dos estabelecimentos, o negócio dedicava esforços para o público que se deslocava até o local. "Era a nossa essência", repete o empreendedor.
Essa atenção, segundo Marcos, era necessária porque o sushi é um produto delicado, que deve ser feito e consumido na hora. "Vai contra os meus princípios", afirma, sobre investir no delivery com mais apreço. Outro ponto de destaque, para ele, é o fato de que a culinária japonesa precisa de insumos caros para ser feita.
"Não abrimos o restaurante para ficarmos ricos", pontua Marcos. Com o passar dos dias, conta o sócio, foi preciso tirar dinheiro do próprio bolso para manter o funcionamento da tele-entrega, o que oneraria ainda mais a operação física.
A decisão, enfim, foi encerrar as atividades. "Mesmo que a gente quisesse voltar com as restrições, teríamos que tirar mesas. Já temos um espaço pequeno, então teríamos problemas", reflete. Para o futuro, Marcos afirma que está estudando possibilidades no ramo de gastronomia. "Infelizmente, vão ter muitos restaurantes que ainda vão fechar em Porto Alegre", finaliza.
Agora, alguns funcionários do empreendimento se uniram para abrir outra operação no mesmo local.