Empreendedores precisam se reinventar para sobreviver à pandemia

Segmento de turismo empilha prejuízos por conta do coronavírus


Empreendedores precisam se reinventar para sobreviver à pandemia

Se antes do coronavírus se alastrar pelo mundo a operadora de turismo Ponto Com, de Porto Alegre, vendia cerca de oito pacotes por semana, agora, está no zero a zero. A empreendedora Cida Lima diz que já perdeu R$ 100 mil desde o início da pandemia e estima que esse valor chegue a R$ 250 mil até o segundo semestre. A realidade de quem trabalha com viagens, agora, é essa: calcular os prejuízos. "Fomos os primeiros a sentir os efeitos da crise, e seremos os últimos a retomar a normalidade. Infelizmente, muitos não resistirão", diz ela.
Se antes do coronavírus se alastrar pelo mundo a operadora de turismo Ponto Com, de Porto Alegre, vendia cerca de oito pacotes por semana, agora, está no zero a zero. A empreendedora Cida Lima diz que já perdeu R$ 100 mil desde o início da pandemia e estima que esse valor chegue a R$ 250 mil até o segundo semestre. A realidade de quem trabalha com viagens, agora, é essa: calcular os prejuízos. "Fomos os primeiros a sentir os efeitos da crise, e seremos os últimos a retomar a normalidade. Infelizmente, muitos não resistirão", diz ela.
A Ponto Com, que surgiu após uma demissão na vida de Cida, em 2005, já teve escritório no Centro Histórico e, recentemente, se mudou para a residência da empresária. O que foi um alívio, pois evita custos fixos com aluguel nesse período.
"Iniciei a empresa sozinha, após me desempregar e ter trabalhado no segmento turístico desde os meus 15 anos. Tudo sempre deu muito certo, e, hoje, somos uma equipe de seis pessoas", descreve ela, que também trabalha ao lado do marido, Rogério Lima.
Como afirma, tudo ia bem, mas a Covid-19 não poupou o segmento que gera o sustento de sua família. "Nos afetou da pior e mais devastadora forma possível. Perdemos praticamente todo o trabalho feito de uns seis meses para cá e estamos sem previsão de novas vendas para, no mínimo, uns seis meses para frente. Ou seja, praticamente um ano de negócio parado."
Cida teve, então, que reencontrar uma antiga paixão, o artesanato, e apelar para a reserva financeira pessoal. Quando a situação for controlada, os efeitos ficarão, segundo ela. "Vai demorar muito para o nosso aquecimento retornar. Os que permanecerem precisarão de muita criatividade, perseverança e fôlego para prosseguir. Nada será como antes", prevê.
Os colaboradores da Ponto Com, conforme Cida, poderão reivindicar o auxílio do governo, uma vez que a maioria se enquadra na categoria de microempreendedor individual (MEI). "E tão logo as coisas se normalizem, eles terão a vaga garantida", tranquiliza.

Jornalista perdeu 89% de seus contratos

O ramo de turismo é de onde vem o sustento da jornalista gaúcha Anelise Zanoni, dona da agência de comunicação Way Content. Ela escreve para veículos nacionais e presta assessoria de imprensa para empreendedores do setor. Desde o início da pandemia, está tendo de se reinventar.
"Criamos projetos completos para os clientes, que podem incluir desde assessoria de imprensa até criação de press trips com jornalistas e influenciadores, além dos eventos que ajudam a divulgar destinos, marcas e companhias. Também trabalhamos com produção de conteúdo, que pode incluir reportagens, vídeos e fotos. Compartilhamos, ainda, na nossa plataforma digital de viagens, o Travelterapia", descreve.
Em março, Anelise faria uma viagem pela China e pela Europa para produzir material para o Travelterapia. No final de janeiro, a passagem foi cancelada por causa da Covid-19. Passou, então, a perceber a gravidade do vírus.
"Modifiquei minha passagem para os Estados Unidos, mas percebi que, à medida que os dias se passavam, o cenário do turismo estava cada vez mais afetado pela crise. Por fim, cancelei totalmente o projeto, em vez de adiá-lo", conta.
Diferentemente do que a maioria das pessoas está fazendo, a jornalista optou por excluir os planos de sua vida, porque percebeu que o problema poderia migrar para outros países e que seria importante estar no Brasil para atender aos novos desafios. Afinal, precisava achar uma solução.
Com o início da crise, a Way Content perdeu 89% dos contratos. Existe a possibilidade de retomada de alguns deles assim que o cenário estabilizar, mas ainda é cedo para esse tipo de previsão, considera. "As empresas aéreas estão estagnadas, hotéis e atrações fechados, e ninguém pode circular. Estima-se que seja um prejuízo de bilhões de dólares no mundo inteiro."
Segundo a jornalista, o estudo Pulso Turismo Covid-19 (feito pelo TRVL Lab) mostrou que 52,92% das pessoas pretendem visitar destinos nacionais após a pandemia - o que reforça que o Brasil será o roteiro da vez, assim como o turismo regional irá se fortalecer. "Com todo esse panorama, já podemos avaliar que hotéis e atrações turísticas precisarão se adaptar à doença e criar protocolos de segurança para dar confiança aos viajantes. Exigir o uso de álcool em gel, medir temperatura dos turistas e até oferecer máscaras passará a ser uma cultura nova a ser adotada. Depois do 11 de setembro, vimos medidas novas nos aeroportos, por exemplo, e nos adaptamos", percebe.
A mudança em sua empresa passa por algo que ela entende bem: fazer a ponte com o público. "As empresas continuarão a ter demandas de comunicação, e mais complexas, pois teremos que passar mensagens que deixem as pessoas seguras", expõe.

Assessoria de câmbio muda o foco

A AZM Assessoria em Câmbio, de Porto Alegre, passou por algumas transformações para conseguir se manter ativa no mercado. Em vez de câmbio, o foco, agora, são as remessas internacionais feitas por pessoas que estão no Brasil para ajudar os familiares que permanecem no exterior. 
"O nosso carro-chefe é o câmbio, mas estamos diversificando os produtos. Fazemos o envio de dinheiro para a conta internacional do cliente ou de algum familiar, pagamento de hotel, de cursos, compra de imóveis. Também atuamos com exportação e importação, seguro de saúde e vistos", lista Aldrey Zago, proprietária da AZM. 
Segundo balanços da empresa, a fase era de estabilização de suas operações. De 2015 para 2016, o crescimento foi de 100%. De 2016 para 2017, 49%. "As empresas nascem, passam por um boom, depois se estabilizam. É assim que acontece", entende Aldrey. Após dois anos de tranquilidade, 2020 trouxe a inesperada pandemia. Um dos pontos positivos para o negócio é o fato de operar em home office, o que reduz os custos.
O momento de crise também fez com que Aldrey desse um passo importante. Uma sócia-investidora, agora, faz parte da empresa.
A decisão foi bastante comemorada pela empreendedora e pela equipe. Isso, além dos benefícios pós-crise, garante mais alguns meses de salário aos funcionários sem que haja cortes no quadro.
Sobre a filosofia da AZM, Aldrey faz questão de salientar o valor emocional quando se trata de dinheiro. "Não queria aquela coisa fria de trocar moedas. Deixo claro que não substituímos reais por dólares, mas sim pelo sonho de ir para Nova York, pela experiência do filho estar indo estudar no Canadá. Dinheiro é energia boa e deve ser tratado assim", interpreta a empresária.
Aldrey também garante que o atendimento engloba, inclusive, conselhos e dicas, tudo bastante personalizado conforme a necessidade do público. "Damos avisos do tipo 'não compra hoje, porque a moeda está subindo, recebemos algumas perspectivas, possivelmente vai cair'. Queremos o bem-estar do cliente. Estamos sempre acompanhando eles. Quando teve o atentado em Paris, tínhamos quatro casais lá. Corri para ligar e só fiquei tranquila quando soube que todos estavam bem", lembra.
Para depois da pandemia, Aldrey vê um cenário positivo para o turismo, embora com cautela. "Sou muito realista, muito pé no chão, mas acho que, no fim do ano, realmente vai voltar. As pessoas vão sair disso com a certeza de que o que nós temos e guardamos são experiências e aprendizados. Viagens são essenciais para isso. A procura por seguro de saúde durante as viagens também vai aumentar. No entanto, precisamos passar por isso tudo antes", enfatiza.
Pelo Instagram (@azmcambio), inclusive, a empresa dá essas e outras dicas relacionadas a turismo constantemente.