O que pessoas fazem para reduzir custos e dar continuidade a seus projetos profissionais

Controle de gastos pode aumentar vida útil dos negócios e gerar tranquilidade a empreendedores


O que pessoas fazem para reduzir custos e dar continuidade a seus projetos profissionais

Início de ano é época de planejar para onde vai o dinheiro das empresas. Nessa rotina, quem se responsabiliza pela gestão dos recursos financeiros sempre chega num questionamento: onde se pode cortar?
Início de ano é época de planejar para onde vai o dinheiro das empresas. Nessa rotina, quem se responsabiliza pela gestão dos recursos financeiros sempre chega num questionamento: onde se pode cortar?
A redução de gastos, muitas vezes, é capaz de salvar um negócio. Mas requer cautela, alertam os especialistas. Saber identificar o que abater trata-se de um passo primordial para não atrapalhar o andamento dos processos. Pois, dependendo do que você elimina, corre-se o risco de prejudicar pontos importantes e acabar não tendo o retorno esperado.
O assunto, aliás, não é tão simples quanto se pensa. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Sul (Sebrae-RS), por exemplo, tem algumas orientações gerais, porém só indica o que é mais adequado de ser feito depois de uma análise do negócio de forma individualizada.
Paulo Bruscato, gerente da Regional Metropolitana do Sebrae no Estado, avisa que essa questão é cada vez mais singular. "Se uma loja tem uma iluminação tão diferenciada na vitrine que destaca o produto naquele bairro, não vamos pedir para que a lâmpada seja trocada para economizar em energia", exemplifica.
Ou seja, é preciso priorizar o que converta em vendas. O resto pode ser cortado ou reduzido.
É necessário, ainda, estar ciente de que o tema gastos será presença eterna no mundo do empreendedorismo. Em alguns momentos de forma mais frenética que outros. Mas ele deve estar dentro de uma estratégia empresarial, alinhado a um planejamento e, principalmente, de um mapeamento.
"O que mais quebra as empresas é o fluxo de caixa, a entrada e saída de recursos. Às vezes, a sensação de ganho do empresário faz ele cegar para custos", analisa Paulo.
O segredo, em resumo, é assumir o controle.

Principais erros por setores

VAREJO
> No campo do varejo, a questão de estoque é um dos maiores gargalos. O ideal é ter um mapeamento de fluxo de demanda afinado com gestão de compra.
> Atente para a perecidade dos produtos, pois isso gera custo adicional. E não pense que só alimentos são perecíveis. A moda, por exemplo, também é - devido à sazonalidade das roupas.
INDÚSTRIA
> Na indústria, o principal vilão é a energia, funcionamento de maquinário.
SERVIÇOS
> Calcular gastos com deslocamento e combustível é essencial para quem presta serviços.
TODOS
> Taxas de juros de empréstimos bancários devem ser controladas.

O que saber na hora de abater?

*Priorize o que é mais urgente para a geração de resultados.
*Cuide das pessoas. A mão de obra é uma grande problemática. Se não der a devida atenção, pode ter problemas trabalhistas graves.
*Compartilhe e faça permutas. Se você tem uma pizzaria e do lado tem um cachorro-quente e de outro um xis, por que não compartilhar serviços de distribuição?
*Dê atenção aos pagamentos que impactam no funcionamento da empresa. Quando você se perde no pagamento das contas, os juros elevados podem inviabilizar a sua operação.

Secretaria remota para a área da saúde

Quem empreende sabe que os salários dos funcionários representam uma parcela enorme nos gastos mensais das empresas. Mas, a medida em que os negócios crescem, não tem como ficar sem pessoas. Profissionais da saúde que atendem em diversos locais, especialmente, sofrem com a questão de ter de contratar alguém para atender o telefone, mesmo indo poucas vezes por semana a seus próprios consultórios. Para reduzir os custos desse mercado, a dentista Laura Albuquerque, 32 anos, criou a empresa Marque Saúde, em Porto Alegre, oferecendo um serviço de secretariado terceirizado por telefone para agendamentos de consultas.
A ideia surgiu em 2012, a partir de uma demanda própria. Na época, ela dividia um consultório com outras pessoas que não queriam investir em uma secretária, devido aos custos. "Eu ficava incomodada de atender o telefone", lembra, mencionando a questão da credibilidade. Para Laura, "pega mal" o médico ou dentista atender o telefone do consultório, não passa tanto profissionalismo quanto quando há alguém na equipe dedicado a isso.
Dessa experiência, Laura montou a Marque Saúde. Colocou um site no ar e começou devagar. O interesse de colegas foi tão grande que ela teve de largar a Odontologia para se dedicar exclusivamente ao projeto. Hoje, atende cerca de 130 clientes, em sua maioria médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e dentistas do Brasil todo. A empresa conta com oito funcionários com carteira assinada e, em novembro, se mudou de uma sala comercial de 30m² para uma de 90m².
Laura percebe que o interesse pela redução de gastos aumentou nos últimos anos, o que impulsionou seu negócio. "O nosso valor é o mesmo que se gastaria só com o vale-transporte de uma secretária contratada", compara. Planos partem de R$ 249,00 por mês.
Com a economia que se faz com a redução de um colaborador direto, Laura diz que é possível reverter em qualidade. "Os dentistas, por exemplo, têm muito gasto com material, manutenção, pagam alto aos convênios."
Outro benefício do serviço de Laura é que os pacientes continuam ligando para o telefone do consultório, que é desviado à central da Marque Saúde, e nunca se deparam com a linha ocupada. "Os pacientes acham que estão falando com a secretária do local", descreve.
Para passar essa sensação, quando a ligação chega às estações comandadas por Laura, elas são identificadas pelo nome do médico na tela do computador, com todos seus dados e sua agenda. Na hora de fechar o contrato, a empreendedora preenche uma ficha com informações sobre planos de saúde aceitos, se o médico ou médica permite passar seu celular pessoal e todo tipo de orientações. Além disso, a Marque Saúde manda lembretes pelo WhatsApp sobre a consulta.
O serviço não é indicado somente para quem deseja abrir mão de uma secretária, algo impossível em muitos casos. Mas, com a terceirização do agendamento, a pessoa que trabalha no consultório pode desempenhar outras tarefas, inclusive auxiliar seu contratante em procedimentos. Há, ainda, quem procure a Marque Saúde para cobrir férias. "Temos 10 posições de trabalho pois a tendência é crescer", prospera Laura, otimista sobre o futuro de seu projeto.
MARCELO G. RIBEIRO/JC 
 

Mudança que gerou impacto ambiental

O Centro Administrativo do Sicredi, no bairro Jardim Lindoia, em Porto Alegre, conseguiu um feito inspirador. Além de dar uma rasteira nos custos, está gerando menos impacto ao meio ambiente.
Durante a certificação LEED, entre 2015 e 2016, a cooperativa provocou mudanças, principalmente, no uso de energia e de água. De um ano para o outro, o complexo, instalado na avenida Assis Brasil, registrou uma economia de quase R$ 500 mil.
Com um investimento de R$ 2,5 milhões, foram instaladas estações de tratamento de esgoto, painel solar, reutilização de água para irrigação do jardim, desenvolvimento de um produto próprio para a faxina, troca de sistema de ar-condicionado e de acionadores de vasos sanitários, torneiras e um trabalho de conscientização coletiva.
"O próprio colaborador faz a limpeza de sua estação. Com isso, reduzimos dois funcionários ligados ao serviço nos departamentos internos e os realocamos nas áreas de circulação", detalha Luiz Vieira, coordenador do condomínio. Ações simples, como aproveitamento da água que sobra na térmica do chimarrão, também são incentivadas.
O próximo passo, que deve diminuir em cerca de R$ 10 milhões a conta de luz daquela operação do Sicredi, onde trabalham cerca de 2 mil pessoas, é a migração para o mercado livre de energia. Em vez de comprar de uma concessionária, opta-se por um gerador renovável. "É mais limpa e mais barata", resume Luiz.
LUIZA PRADO/JC

O exemplo de quem empreende

Luciano Francisco, do Sebrae: 
"Muitas vezes, a busca por um melhor resultado não está na redução dos custos, e sim na organização financeira, principalmente no que tange ao fluxo de caixa. Reduzir custos, na maioria dos casos, não significa melhores resultados. Reduzir gastos, sim. Custo está associado ao processo de trabalho da empresa. O descontrole nos gastos é resultado de uma gestão ineficiente. Exemplo: ter de pagar taxas ao banco para antecipar recebíveis por não ter capital de giro. Muito seguidamente, os empresários têm deixado todo o seu lucro com o banco por não ter uma leitura correta dos indicadores financeiros da empresa".
Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Mariana Bacaltchuk, da Iaiá:
"Tenho uma microempresa e eliminei todos os custos fixos que podia. Mesmo sendo triste ter de fazer isso, demiti e terceirizei toda a equipe, inclusive de vendas. Também encerrei fábrica e terceirizei toda a minha produção. Abandonei pontos comerciais consagrados e caros para baixar custo de aluguel, mesmo sabendo que isso reduziria o faturamento. Cortei tudo que não se relacionava à qualidade do produto e passei a gastar só com o que era absolutamente essencial para incrementar vendas. Só depois disso tudo, comecei a ter bons resultados. Infelizmente no Brasil o custo fixo tem de ser baixo, ou você vai se dar mal logo, logo".
Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Priscila Cabrera, jornalista da Buda Comunicação:
"Eu passei a atuar no meu próprio bairro para reduzir custos de deslocamento. Também criamos pacotes de serviços mais rápidos e mais baratos".
Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Leca Heinzelmann, da Chocólatras:
"Estamos pesquisando ar-condicionado novo. O antigo que temos na loja leva a conta de luz a níveis estratosféricos no verão. Também optamos por não contratar ninguém para substituir uma funcionária demissionária. Manteremos freelancers durante os meses de férias, já que o movimento é menor. Ah, e sugiro pedir desconto no aluguel. Reajustes anuais proporcionais podem acabar deixando um aluguel extenso caríssimo se você não fica sempre renegociando".