Elas fizeram pesquisas de mercado em 2017 para entender o que queriam enquanto negócio e se a demanda existia. No recorte de empreendedorismo por gênero, foi constatado que o propósito é muito importante para as mulheres. "E a Nuwa foi sendo desenhada a partir dessas variáveis", justifica Gabriela Teló.

| Fotos: Claiton Dornelles/JC
O primeiro aspecto firmado por elas enquanto negócio é gerar confiança, o que perpassa todo processo empreendedor e profissional. "É preciso ter confiança de como se posicionar para fazer a diferença", explica Gabriela Stragliotto. "Confiança é a questão central de como as pessoas te percebem. Muitas mulheres se sentem patinando, a gente demora para fazer as escolhas, e não temos o suporte adequado", ilustra Gabriela Teló. Agregar foi a palavra seguinte, e, assim, chegaram ao formato da Nuwa, que oferece suporte presencial e on-line. Para que as mulheres pudessem compartilhar conhecimentos e experiências, o local se materializa no coworking com capacidade para até 50 pessoas, com estrutura de sala de reuniões, espaços com divisórias para trabalhos em grupo e sozinhas, escritório compartilhado e salas para atendimentos. Por uma assinatura mensal de R$ 540,00, a estrutura, que fica na rua Augusto Pestana, nº 153, no bairro Santana, está disponível das 8h às 20h. Para quem quiser testar, nos primeiros meses, o acesso custa R$ 50,00 por dia.
Entendendo a importância de reunir as mulheres e criar redes fora do ambiente digital, um dos serviços da Nuwa é o Social Club, clube de assinaturas que dá acesso a eventos, palestras e programações especiais da casa por R$ 240,00 mensais. Entre as atividades estão aulas de inglês, coach profissional e meditação e acesso a conteúdos. "A partir daí, vamos criar junto das associadas", emenda Gabriela Stragliotto.
Criar redes para fortalecer negócios e sociedade
Ionara Rech é coordenadora do curso de Administração da Escola de Negócios da Pucrs e organizou, junto a Letícia Hoppe, o livro Empreendedorismo feminino - Protagonistas de nossas vidas, lançado em 2017. O livro nasceu dos encontros de empreendedorismo feminino realizados na universidade desde 2016, com o objetivo de ser espaço de discussão sobre as necessidades das empreendedoras, no qual são abordados desde questões de gestão de negócios à gênero e família.
Segundo Ionara, os encontros nasceram de uma necessidade do mercado. "Tem um mercado voltado para a criação de negócios que são para mulheres, para mães também", pontua, além de toda a gama de empresárias, empreendedoras e empregadas no mercado de trabalho. "As mulheres precisam e querem falar sobre negócios, querem se conhecer", emenda. Uma das provas disso foi quando os eventos começaram a lotar. "E isso nos mostrou que as mulheres precisam falar. Querem saber sobre carreira e desenvolvimento pessoal, e nas áreas dos seus negócios." Para além da discussão sobre o próprio papel na sociedade, assuntos não são tão diferentes de outros eventos com foco em empreendedorismo, como gestão, marketing e finanças.
Ionara afirma que a competição entre mulheres é outro paradigma que os tempos atuais vêm para quebrar. "Antigamente, havia uma ideia de competição entre as mulheres, e hoje em dia não. Nos encontros, me surpreende o quanto o networking acontece. A gente vê as mulheres se aproximando e dando dicas. Em geral, esse próprio conceito de concorrência tem mudado. A gente fala muito mais em parceria, independentemente de gênero", resume.

Encontros de empreendedorismo feminino deram origem a livro | Foto: Camila Cunha/Pucrs/Divulgação/JC
Com uma média de 250 participantes a cada edição, o evento já impactou quase 2 mil pessoas, e é aberto a todo mundo que queira se aproximar do tema. "Já tivemos homens participando, eles não se sentiram desprezados nem diminuídos. E a gente queria que eles participassem mais, queremos trazê-los para as discussões de empreendedorismo feminino ou gênero no ambiente organizacional", ilustra. Muito embora o empreendedorismo feminino encontre certa resistência em determinados círculos.
"Já fui em um fórum falar sobre esse tema e não me entenderam. É difícil explicar isso, muita gente entende, em um primeiro momento, que estamos querendo segregar, não é isso. É gerar um ambiente propício, dar espaço para que elas possam se colocar e se sintam tranquilas em trabalhar e ter sua vida pessoal e em família. Tocarem tudo isso em equilíbrio", enfatiza.

