Publicada em 09 de Setembro de 2021 às 16:59

Guardiões de sementes e da história

Janaina Bernardo - O Futuro da Terra 2021

Janaina Bernardo - O Futuro da Terra 2021


Janaina Bernardo / Arquivo Pessoal / Divulgação JC
Luciana Radicione, do Rio de Janeiro, especial para o JC
Sementes crioulas carregam muito mais do que potencial produtivo para diversas finalidades: do artesanato à culinária é a tradição desses insumos que têm um peso fundamental tanto para a pequena agricultura como para a ciência. Foi pensando em garantir a continuidade dessa produção e evitar sua extinção que um grupo de profissionais arregaçou as mangas em 2015 para iniciar um projeto que permitisse a manutenção da história, da tradição e da fonte de renda de pequenos agricultores, muitos de regiões longínquas do Estado.
A iniciativa veio do Núcleo de Estudos em Agroecologia NEA/CNPq Gaia Centro Sul (Grupo Gaia) da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), fruto do anseio de acadêmicos do curso de Agronomia em desenvolver ações que contribuíssem para a sustentabilidade ambiental, social e econômica de pequenas comunidades. Em 2015, já formalizado como sociedade cultural e técnico-científica sem fins lucrativos, o Gaia criou um Banco de Sementes Crioulas onde os agricultores pegam emprestado do banco uma quantidade "x" de sementes e devolvem em dobro (ou mais) tempos depois. "Nada envolve dinheiro, é somente troca, empréstimo e doação", destaca a agrônoma Janaína Bernardo, coordenadora do Grupo Gaia e professora em Fitopatologia da Uergs. Segundo ela, o banco funciona como um facilitador e promotor do resgate das sementes crioulas, trabalha em fluxo contínuo de chegada e saída desses insumos, pois ficam em poder de agricultores e agricultoras, os chamados guardiões de sementes.
Bulbos e raízes como milhos: cunha, dente de cão, cateto branco, milho ferro; feijões: sopinha, mouro, 7 cores, banana preto; mandioca "pronta mesa", melancia amarela, arroz periquito, abóbora menina, couve de porco, melão croá e muitas outras - são cerca de 200 tipos diferentes de sementes que estão sob o guarda-chuva dessa iniciativa que coloca a história e o conhecimento dos agricultores mais antigos para os tempos atuais. Hoje são aproximadamente 40 famílias cadastradas no Banco de Sementes, e a Banca do Gaia conta com diversas parcerias que incluem Emater-RS e sindicatos rurais para levar o sistema de doação-empréstimo-troca às feiras de agricultura locais.
"Esse trabalho vem no intuito de evitar que essas sementes se percam diante da nova agricultura, que com seu avanço permitiu que essa preservação familiar fosse cada vez menos incentivada", conta Janaína. Segundo ela, no mundo todo vem ocorrendo uma perda bastante acelerada das sementes crioulas, mesmo diante da realidade que elas são de grande importância para o desenvolvimento de novas variedades com resistência a múltiplos fins. "Quando um cientista vai desenvolver uma variedade resistente é a genética da semente crioula que ele acessa", destaca a professora, lembrando que o trabalho do Gaia/Uergs tem o sentido do incentivo à preservação e à multiplicação das sementes, mas, segundo ela, para o agricultor essa preservação não é feita com os olhos voltados para a ciência, mas para a sua própria história de vida. "Eles são apaixonados por essas sementes que são a história da família deles. E são eles que realmente entendem de sementes crioulas, pois nos passam constantemente muito conhecimento", relata a professora da Uergs.
No ano passado, o projeto "Agroecologia para Guardiões de Sementes Crioulas da Região Centro Sul do Rio Grande do Sul" foi contemplado com recursos do CNPq no valor de R$ 119 mil, o que permitiu a intensificação do apoio aos guardiões com ações que incluíram a análise de qualidade de sementes de centros de troca, curso multidisciplinar de agroecologia à distância, publicação de cartilhas agroecológicas, entre outras ações. Também está sendo criada a Casa de Sementes, em Paraíso do Sul, na propriedade um produtor guardião que já é considerado uma liderança local. Lá o sistema será o mesmo do Banco Gaia.
A projeção apresentada por Janaína é de que até o final do projeto, em janeiro de 2022, o público atingido pela iniciativa seja de 5 mil pessoas.
Sementes crioulas carregam muito mais do que potencial produtivo para diversas finalidades: do artesanato à culinária é a tradição desses insumos que têm um peso fundamental tanto para a pequena agricultura como para a ciência. Foi pensando em garantir a continuidade dessa produção e evitar sua extinção que um grupo de profissionais arregaçou as mangas em 2015 para iniciar um projeto que permitisse a manutenção da história, da tradição e da fonte de renda de pequenos agricultores, muitos de regiões longínquas do Estado.
A iniciativa veio do Núcleo de Estudos em Agroecologia NEA/CNPq Gaia Centro Sul (Grupo Gaia) da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), fruto do anseio de acadêmicos do curso de Agronomia em desenvolver ações que contribuíssem para a sustentabilidade ambiental, social e econômica de pequenas comunidades. Em 2015, já formalizado como sociedade cultural e técnico-científica sem fins lucrativos, o Gaia criou um Banco de Sementes Crioulas onde os agricultores pegam emprestado do banco uma quantidade "x" de sementes e devolvem em dobro (ou mais) tempos depois. "Nada envolve dinheiro, é somente troca, empréstimo e doação", destaca a agrônoma Janaína Bernardo, coordenadora do Grupo Gaia e professora em Fitopatologia da Uergs. Segundo ela, o banco funciona como um facilitador e promotor do resgate das sementes crioulas, trabalha em fluxo contínuo de chegada e saída desses insumos, pois ficam em poder de agricultores e agricultoras, os chamados guardiões de sementes.
Bulbos e raízes como milhos: cunha, dente de cão, cateto branco, milho ferro; feijões: sopinha, mouro, 7 cores, banana preto; mandioca "pronta mesa", melancia amarela, arroz periquito, abóbora menina, couve de porco, melão croá e muitas outras - são cerca de 200 tipos diferentes de sementes que estão sob o guarda-chuva dessa iniciativa que coloca a história e o conhecimento dos agricultores mais antigos para os tempos atuais. Hoje são aproximadamente 40 famílias cadastradas no Banco de Sementes, e a Banca do Gaia conta com diversas parcerias que incluem Emater-RS e sindicatos rurais para levar o sistema de doação-empréstimo-troca às feiras de agricultura locais.
"Esse trabalho vem no intuito de evitar que essas sementes se percam diante da nova agricultura, que com seu avanço permitiu que essa preservação familiar fosse cada vez menos incentivada", conta Janaína. Segundo ela, no mundo todo vem ocorrendo uma perda bastante acelerada das sementes crioulas, mesmo diante da realidade que elas são de grande importância para o desenvolvimento de novas variedades com resistência a múltiplos fins. "Quando um cientista vai desenvolver uma variedade resistente é a genética da semente crioula que ele acessa", destaca a professora, lembrando que o trabalho do Gaia/Uergs tem o sentido do incentivo à preservação e à multiplicação das sementes, mas, segundo ela, para o agricultor essa preservação não é feita com os olhos voltados para a ciência, mas para a sua própria história de vida. "Eles são apaixonados por essas sementes que são a história da família deles. E são eles que realmente entendem de sementes crioulas, pois nos passam constantemente muito conhecimento", relata a professora da Uergs.
No ano passado, o projeto "Agroecologia para Guardiões de Sementes Crioulas da Região Centro Sul do Rio Grande do Sul" foi contemplado com recursos do CNPq no valor de R$ 119 mil, o que permitiu a intensificação do apoio aos guardiões com ações que incluíram a análise de qualidade de sementes de centros de troca, curso multidisciplinar de agroecologia à distância, publicação de cartilhas agroecológicas, entre outras ações. Também está sendo criada a Casa de Sementes, em Paraíso do Sul, na propriedade um produtor guardião que já é considerado uma liderança local. Lá o sistema será o mesmo do Banco Gaia.
A projeção apresentada por Janaína é de que até o final do projeto, em janeiro de 2022, o público atingido pela iniciativa seja de 5 mil pessoas.
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