Controle da inflação é a principal preocupação

Para conter pressão inflacionária, alta dos juros deve prosseguir no próximo ano

Por Marcelo Beledeli

Elevação dos preços obrigou Banco Central a subir taxa Selic em 2021
Assim como 2020, o ano de 2021 foi marcado pelas sequelas que a "destruição econômica" gerada pela pandemia de Covid-19 deixou. Uma das consequências mais importantes foi a inflação, que sobe em todo o mundo.
No Brasil, além de sofrer os efeitos de altas internacionais de preços, em especial de commodities, a inflação é alimentada pela elevação dos riscos internos relacionados aos aumentos de gastos pelo governo federal. Somados à alta taxa de desemprego em 13,2%, atingindo 13,7 milhões de trabalhadores, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esses fatores vêm impedindo previsões mais otimistas em 2022, alertam especialistas.
Em novembro, a inflação medida pelo IPCA acumulado em 12 meses atingiu 10,74%, o maior índice desde novembro de 2003. Segundo a última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), a previsão do mercado financeiro é de que o IPCA em 2021 fique em 10,05%.
"A crise da Covid-19 se mostrou inflacionária. Não porque o choque inicial da pandemia era inflacionário, mas porque a combinação de ter restrições para a população produzir com uma resposta ultra agressiva dos governos e bancos centrais do mundo com auxílios econômicos para reverter esse choque fez com que houvesse ambiente pouco favorável para a produção e muito favorável para o consumo. Em mundo em que você produz pouco e compra muito, os preços sobem", explica Pedro Ramos, economista-chefe do Sicredi.
Além do choque de ofertas, houve problemas de gargalos na cadeia de produção, com aumento de valor de transportes, combustíveis e falta de produtos e insumos. "No Brasil também tivemos o preço da energia subindo, com o risco de um novo racionamento devido às poucas chuvas. O clima também atrapalhou a oferta de alimentos, que já estavam caros no mercado internacional", lembra Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Para conter a pressão inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promoveu uma radical elevação dos juros básicos da economia. Entre janeiro e dezembro, a taxa Selic aumentou 7,25 pontos percentuais, passando da mínima histórica de 2% ao ano para 9,25% ao ano. Esse movimento deve prosseguir em 2022. O Copom já alertou que, na primeira reunião do próximo ano, a Selic deve ser elevada para 10,75% ao ano, mas o mercado financeiro já aposta em uma taxa de até 11,50% no final de 2022.
"Esse nível de taxa de juros deve sim ter efeito no controle de preços, com certa defasagem, em meados de 2022. É muito provável que a inflação do ano que vem, se extrapolar a meta do BC, que é de 3,50% ao ano, com teto em 5%, não fique muito acima desse objetivo", afirma Fernando Marchet, CEO da Bateleur. Para 2022, a última pesquisa Focus do BC prevê uma inflação de 5,02% ao ano.

PIB deve apresentar estagnação no próximo ano

Com a inflação diminuindo o poder de compra da população e a alta de juros impactando na decisão dos novos investimentos, a economia tende a sofrer em 2022. Neste ano, até o terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 5,7% contra igual período de 2020, de acordo com o IBGE, em boa parte como recuperação das perdas do impacto inicial da pandemia, com o fim das restrições impostas às atividades econômicas. A última pesquisa Focus, do Banco Central (BC), estima um crescimento de 4,65% no PIB de 2021.
No entanto, com recuos de 0,4% e de 0,1% no segundo trimestre e terceiro trimestres, respectivamente, em comparação com os três meses anteriores, a economia brasileira dá sinais de estagnação. "Nossa projeção é de um crescimento no quarto trimestre bem pequeno, perto de 0%, o que, em teoria, nos tiraria da recessão técnica", comenta Pedro Ramos, economista-chefe do Sicredi. "O resultado do PIB do último trimestre de 2021 será muito dependente do consumo nas festas do final de ano e do crescimento do comércio. Este setor vem apresentando tendência de queda desde a metade de 2021, com a população sofrendo os impactos da inflação", afirma Eduardo Tellechea Cairoli, CEO da Privatto Multi Family Office.
Para 2022, o último Boletim Focus aponta crescimento de apenas 0,50% no PIB. "O próximo ano vai sofrer de crescimento baixo", alerta Fernando Marchet, CEO da Bateleur. Segundo o especialista, o próprio remédio do BC para controlar a inflação (o aumento de juros) pode travar a atividade econômica, por encarecer financiamentos e desincentivar o investimento. "Os juros nestes níveis mais elevados devem potencializar a situação em que o PIB crescerá vagarosamente nos próximos trimestres", destaca.
Entre os indicadores que os especialistas afirmam que devem ser analisados para observar uma retomada econômica no próximo ano está a taxa de desocupação do IBGE, que indicará o grau de aquecimento do mercado de trabalho.
"Hoje temos uma retomada, o setor de serviços vem apresentando melhora, as cadeias produtivas estão se organizando para reduzir gargalos de produção e há uma perspectiva de que o clima melhore, ajudando tanto a produção agrícola quanto as reservas de água para produção de energia. Isso tudo pode ajudar no crescimento do PIB", aponta Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.
Além disso, fatores externos podem contribuir positivamente. "Esperamos um crescimento muito forte da economia norte-americana em 2022, o que poderá promover uma maior demanda pelas nossas commodities e recuperação via comércio exterior, com o setor agropecuário novamente sendo uma exceção ao menor desempenho de outros setores", afirma Cairoli.
 

Eleições podem atrapalhar recuperação econômica

Um fator que pode ter consequências negativas para a economia em 2022 é o fato de que os brasileiros terão que ir às urnas no próximo ano para escolher quem comandará o País.
Um dos principais entraves causados pela incerteza eleitoral é a maior postergação da decisão de investimentos por parte da iniciativa privada. "Um ano eleitoral tende a prejudicar a economia, porque a gente sempre depende do próximo governo ser eleito para resolver problemas estruturais. Na incerteza, o mercado não faz apostas, o investidor prefere 'sair do jogo' e voltar quando as coisas estão claras", comenta o economista-chefe do Sicredi, Pedro Ramos.
Para Fernando Marchet, CEO da Bateleur, as questões fiscais e as visões dos candidatos que liderarem a corrida eleitoral sobre o papel do Estado na economia deverão dar os rumos para o comportamento dos empresários e investidores.