Mercado de carne de cordeiro desafia ovinocultores

Nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil importou 360 mil toneladas de carne ovina, 85% provenientes do Uruguai

Por Rafael Vigna

Nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil importou 360 mil toneladas de carne ovina, 85% provenientes do Uruguai
Um mercado em que a demanda de produtos supera em larga escala a oferta. Este seria o sonho de todo empreendedor, em qualquer segmento econômico. Entretanto, quando o assunto é ovinocultura, a realidade pode contrapor as leis mais básicas de mercado. Quebrar uma cultura artesanal e reinventar a atividade dentro dos preceitos empresariais é o desafio de entidades e associação de criadores, que começam a perceber, na carne de cordeiro, um potencial expressivo de rentabilidade.

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Iniciativas associativas e de qualificação ajudam a melhorar os índices de eficiência do segmento

Produção dos animais no Rio Grande do Sul tende a atingir o ápice entre a primavera e o outono
Modelos de associativismo e iniciativas voltadas à assistência técnica no manejo nos rebanhos podem fazer a diferença na hora de qualificar e preparar os produtores gaúchos para enfrentar os desafios do mercado. O programa Juntos para Competir, do Sebrae, é um dos exemplos que começam a gerar resultados. Com 600 propriedades inscritas no segmento de ovinocultura, o projeto é responsável por aumentar a taxa de assinalação de 60% (média estadual) para 90% (média das propriedades inscritas).
O coordenador estadual de pecuária de corte do Sebrae, Roberto Grecellé, explica que o salto de eficiência pode ser obtido rapidamente com mudanças básicas nas propriedades. Cuidados vitais nas primeiras 24 horas após o nascimento dos cordeiros, tosquia pré-parto e outras técnicas elevam as condições de vitalidade e aumentam a eficiência produtiva. Segundo ele, há, ainda, ganhos no que se refere ao peso e à sazonalidade da ovinocultura.
A produção de cordeiros tende a atingir o ápice entre a primavera e o outono. Com trabalhos específicos, é possível melhorar a distribuição ao longo de todas as estações. "O mercado consumidor não tolera que se tenha um espaçamento nos meses de inverno. Isso acontece atualmente. Incrementar essa produção, fornecendo padrões e escala, é fundamental para profissionalizar o segmento", revela.
Essa é exatamente a grande reclamação da outra ponta da cadeia. Na indústria, a falta de escala é um empecilho à produtividade e à rentabilidade. O diretor do frigorífico Frigocarne, Edson Endres, explica que a unidade, localizada no município de Bagé, esbarra justamente nos problemas de escala. "Há momentos em que temos preço e não temos produto", afirma. Endres abate cerca de 800 cordeiros, mensalmente, na planta que possui 95 funcionários. Foi o primeiro frigorífico a implantar o selo de origem "cordeiro gaúcho" e é pioneiro na certificação de abate da Raça Corriedale.
Em média, 60% da carne desossada permanece no Rio Grande do Sul, enquanto os 40% restantes são vendidos em São Paulo. Propostas de países estrangeiros não faltam, mas, segundo Endres, a "inviabilidade econômica", a burocracia, as barreiras sanitárias e a falta de profissionalismo e união entre os demais agentes da cadeia acabam impedindo o salto de produção.