Porto Alegre, quarta-feira, 29 de agosto de 2018.
Dia Nacional do Combate ao Fumo.

Jornal do Com�rcio

COMENTAR | CORRIGIR

Pecu�ria

Not�cia da edi��o impressa de 29/08/2018. Alterada em 28/08 �s 00h00min

Mercado de carne de cordeiro desafia ovinocultores

Nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil importou 360 mil toneladas de carne ovina, 85% provenientes do Uruguai

Nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil importou 360 mil toneladas de carne ovina, 85% provenientes do Uruguai


/MATHEUS PICCINI/ESPECIAL/JC
Rafael Vigna
Um mercado em que a demanda de produtos supera em larga escala a oferta. Este seria o sonho de todo empreendedor, em qualquer segmento econômico. Entretanto, quando o assunto é ovinocultura, a realidade pode contrapor as leis mais básicas de mercado. Quebrar uma cultura artesanal e reinventar a atividade dentro dos preceitos empresariais é o desafio de entidades e associação de criadores, que começam a perceber, na carne de cordeiro, um potencial expressivo de rentabilidade.
Segundo dados da Secretaria da Agricultura, o rebanho atual do Estado é de 3.137 ovinos, mas a taxa de assinalação (cordeiros que sobrevivem até serem desmamados) é inferior a 60%. Em países de referência, como a Nova Zelândia, o índice supera os 120%, em razão da possibilidade de geminação em ovelhas. Para se ter uma ideia, nos primeiros seis meses de 2018, foram importadas 360 mil toneladas de carne de cordeiro, 85% do montante oriundo do Uruguai. Esses são apenas alguns dos indicativos que expõem as raízes da ineficiência produtiva no Estado.
Por outro lado, as condições não poderiam ser mais favoráveis. Preço médio pago pela carcaça na indústria em ascensão (na casa de R$ 18,00, valor 80% superior ao da carcaça bovina), baixo custo de produção (em um hectare é possível criar até 10 ovinos) e possibilidade de diversificar as atividades no campo (ovinos podem auxiliar na quebra de alguns ciclos de verminoses em propriedades que também possuem equinos e bovinos) são alguns dos atrativos.
Capacitações técnicas, produção de forragem, melhoramento genético constante, identificação de épocas mais indicadas para o plantio de pastagem e acasalamento de rebanhos podem ser cruciais para alterar a realidade, conforme explica o coordenador estadual de pecuária de corte do Sebrae, Roberto Grecellé. "Infelizmente, a ovinocultura não tem metas. Os rebanhos gaúchos nunca foram desafiados a produzir. Essa é a nossa luta", destaca Grecellé.
O especialista do Sebrae lembra que os ovinocultores estão em um mercado em que qualquer animal que venha a ser parido já nascerá vendido. "Mas é preciso pensar diferente e tratar o núcleo ovinocultura como um negócio, assim como acontece com a soja ou a pecuária", revela.
De acordo com o assistente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edgar Franco, o real potencial da ovinocultura permanece inexplorado, tratando, ainda, como atividade secundária nas propriedades gaúchas. "O produtor precisa mudar o perfil para não sair da atividade. Precisa se tornar um empresário rural. O mercado não aceita mais esse tipo de postura", comenta.
Segundo Franco, os contatos de países do Oriente Médio e da Ásia, recebidos pela entidade, em busca de cordeiros brasileiros são frequentes. "Infelizmente, não temos escala suficiente para atender sequer à demanda interna. Não se pode fechar contratos internacionais nessas condições", lamenta.
Além disso, dados da Secretária da Agricultura indicam um acréscimo no trânsito interestadual de cordeiros. Santa Catarina e Paraná despontam como os principais destinos em um fluxo que aumentou 48% nos últimos cinco anos. Na avaliação do presidente do Núcleo de Criadores Poll Dorset Sul, Claudio de Sottomaior Filho, serão necessários alguns anos para que o País e o Estado consigam suprir o mercado doméstico.
Enquanto isso, alternativas que nascem na esteira dos selos de certificação de qualidade podem auxiliar na obtenção de retornos ainda melhores aos produtores. Sottomaior Filho cita modelos destinados a fornecer cortes específicos para a alta gastronomia de São Paulo. Nesses casos, o valor agregado pode flutuar de 10% a 20% sobre os preços de mercado.
 

Iniciativas associativas e de qualifica��o ajudam a melhorar os �ndices de efici�ncia do segmento

Produ��o dos animais no Rio Grande do Sul tende a atingir o �pice entre a primavera e o outono
Produ��o dos animais no Rio Grande do Sul tende a atingir o �pice entre a primavera e o outono
/MATHEUS PICCINI/ESPECIAL/JC

Modelos de associativismo e iniciativas voltadas � assist�ncia t�cnica no manejo nos rebanhos podem fazer a diferen�a na hora de qualificar e preparar os produtores ga�chos para enfrentar os desafios do mercado. O programa Juntos para Competir, do Sebrae, � um dos exemplos que come�am a gerar resultados. Com 600 propriedades inscritas no segmento de ovinocultura, o projeto � respons�vel por aumentar a taxa de assinala��o de 60% (m�dia estadual) para 90% (m�dia das propriedades inscritas).

O coordenador estadual de pecu�ria de corte do Sebrae, Roberto Grecell�, explica que o salto de efici�ncia pode ser obtido rapidamente com mudan�as b�sicas nas propriedades. Cuidados vitais nas primeiras 24 horas ap�s o nascimento dos cordeiros, tosquia pr�-parto e outras t�cnicas elevam as condi��es de vitalidade e aumentam a efici�ncia produtiva. Segundo ele, h�, ainda, ganhos no que se refere ao peso e � sazonalidade da ovinocultura.

A produ��o de cordeiros tende a atingir o �pice entre a primavera e o outono. Com trabalhos espec�ficos, � poss�vel melhorar a distribui��o ao longo de todas as esta��es. "O mercado consumidor n�o tolera que se tenha um espa�amento nos meses de inverno. Isso acontece atualmente. Incrementar essa produ��o, fornecendo padr�es e escala, � fundamental para profissionalizar o segmento", revela.

Essa � exatamente a grande reclama��o da outra ponta da cadeia. Na ind�stria, a falta de escala � um empecilho � produtividade e � rentabilidade. O diretor do frigor�fico Frigocarne, Edson Endres, explica que a unidade, localizada no munic�pio de Bag�, esbarra justamente nos problemas de escala. "H� momentos em que temos pre�o e n�o temos produto", afirma. Endres abate cerca de 800 cordeiros, mensalmente, na planta que possui 95 funcion�rios. Foi o primeiro frigor�fico a implantar o selo de origem "cordeiro ga�cho" e � pioneiro na certifica��o de abate da Ra�a Corriedale.

Em m�dia, 60% da carne desossada permanece no Rio Grande do Sul, enquanto os 40% restantes s�o vendidos em S�o Paulo. Propostas de pa�ses estrangeiros n�o faltam, mas, segundo Endres, a "inviabilidade econ�mica", a burocracia, as barreiras sanit�rias e a falta de profissionalismo e uni�o entre os demais agentes da cadeia acabam impedindo o salto de produ��o.

COMENTAR | CORRIGIR
Coment�rios
Seja o primeiro a comentar esta not�cia