Expodireto começa com pressão por mais recursos ao Moderfrota

Representantes do governo federal não anunciam reforço na linha de crédito para máquinas

Por Thiago Copetti

Governador Eduardo Leite participa da cerimônia de abertura da Expodireto Cotrijal 2019
A presença do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, na abertura da 20ª edição da Expodireto, nesta segunda-feira, não veio acompanhada da notícia mais esperada por lideranças do setor rural e de indústrias. A presença de Mourão, especialmente, deu a uma parte dos representantes do agronegócio gaúcho uma ponta de esperança de que sairia suplementação de recursos para a compra de máquinas antes do lançamento do Plano Safra 2019/2020.
Os escassos recursos ainda existentes no Moderfrota ameaçam as vendas especialmente da Expodireto e da Agrishow - que ocorre em São Paulo, em abril. O setor reivindica R$ 3 bilhões extras para a compra de máquinas e levou, até o momento, pouco mais de R$ 400 milhões.
O pleito foi reforçado durante a solenidade de abertura pelo presidente da feira de Não-Me-Toque, Nei César Mânica. O também presidente da Cotrijal, organizadora do evento, lembrou aos presentes que o agronegócio brasileiro "abraçou" a causa do presidente Jair Bolsonaro e que o setor não acredita que "não tenha um pouquinho de complementação" ainda neste semestre. "Pelo sorriso do vice-presidente e da ministra, acho que seremos atendidos", brincou Mânica, sem receber, no entanto, nenhuma resposta ao pleito.
Mourão, após o evento, não alimentou esperanças de que o recurso sairá e disse apenas que o Ministério da Economia estuda o assunto. Tereza Cristina também não fez nenhuma sinalização no sentido de que a verba extra é possível. A quem assistia a solenidade de abertura, no auditório central do parque, Tereza Cristina preferiu bradar a defesa internacional do agronegócio.
"Não tem para ninguém quando o assunto é a agricultura brasileira, que sofre perseguições internacionais. Não tem para os Estados Unidos, não tem para a China, não tem para o Mercosul", disse Tereza Cristina.
Questionada, posteriormente, sobre que perseguições seriam essas, não citou sobretaxas como impostas pela China ao frango ou mesmo as restrições a importação de carne bovina in natura aos Estados Unidos ou a grande competitividade do trigo, do leite e do arroz importados de países do Mercosul. Disse que eram retaliações de cunho "ambiental", que buscam detratar a imagem do produtor rural brasileiro. Mas confirmou que, na visita do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, neste mês, um dos temas prioritários será tentar reabrir o mercado de carne bovina in natura ao país.
"Esse mercado já foi aberto por um curto tempo e, agora, está fechado novamente. O tema está na pauta do presidente Bolsonaro e será tratado durante a viagem aos Estados Unidos", garantiu Tereza Cristina.
A ministra também destacou que uma das prioridades de sua gestão será ampliar a abrangência do seguro rural. Com isso, defendeu a ministra, será possível reduzir o spread bancário e o juro para o setor agrícola no setor privado, e, "assim, tirar o sócio oculto do produtor rural", em uma alusão aos bancos e a suas elevadas taxas.
A abertura da Expodireto teve ampla presença política, de diferentes esferas e partidos. Estavam no auditório, além de Mourão e Tereza Cristina, 25% dos deputados estaduais gaúchos, sete deputados federais do Rio Grande do Sul, segundo o presidente da Assembleia Legislativa, Luís Augusto Lara, e dois senadores. Além, claro, do governador Eduardo Leite e do secretário de Estado. Leite, por sinal, chegou com um reforço estratégico ao evento. Antes mesmo da abertura, na sexta-feira, o governo gaúcho anunciou R$ 20 milhões para a reconstrução da ERS-142, entre Não-Me-Toque e Carazinho, importante rodovia para escoamento da safra.
"Conseguimos esses recursos, do Banco Mundial, depois de uma grande negociação, com apoio do Tesouro Nacional, para ampliar o prazo para uso do recurso, que venceria em fevereiro. E, em breve, teremos novas parcerias público-privadas e concessões de rodovias", explicou Leite, dizendo que melhorar a logística de escoamento das safras é uma das prioridades do governo.

Vice-presidente arrancou risos da plateia

Se faltou o anúncio de mais recursos para as linhas do Moderfrota, quem não deixou de comparecer à Expodireto foi o bom humor do vice-presidente, Hamilton Mourão. Em um discurso rápido, brincou com a gravata do senador gaúcho Luiz Carlos Heinze (PP), dizendo ser a mais linda entre os presentes na mesa de autoridades.
A gravata de Heinze, realmente, chamava a atenção do público, por destoar da sobriedade geral e pelo tema. De cor escura, tinha padronagem em tons rosa e vários suínos desenhados.
Mourão também brincou com a presença da ministra Tereza Cristina, uma mulher que "vale por 10 homens". A piada é relativa a uma declaração do presidente Jair Bolsonaro, que, no Dia da Mulher, disse que seu ministério era equilibrado, apesar de ter duas mulheres e 20 homens. Depois, Bolsonaro justificou o "equilíbrio", dizendo que cada uma das ministras valia por 10 homens.

O hall da fama do agronegócio

Inaugurada ontem, logo após a abertura do evento, a Calçada da Fama do Agro reúne, na entrada do parque, uma área com placas de bronze, com o símbolo de uma folha, nas quais constam os nomes de 20 lideranças políticas e personalidades do agro brasileiro, entre elas, os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues e Francisco Turra, que falou em nome dos homenageados.
 

Burocracia presidencial e atrasos

Foi um tanto tumultuada a presença do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, devido às muitas restrições impostas pela segurança do general e também ao atraso de uma hora na programação. Do lado de fora, produtores reclamavam que, pela primeira vez, em 20 anos, não puderam assistir à cerimônia de abertura dentro do auditório central.
Jornalistas também tiveram dificuldades para entrevistar Mourão, mesmo com coletiva agendada. As perguntas foram feitas por trás de uma grade de proteção e por pouco tempo. Isso enquanto o público também tentava acompanhar a inauguração da Calçada da Fama. Frase entreouvida na multidão era que "aquele não era o padrão Cotrijal" de tratamento à imprensa e aos produtores.