De fibrose a dor de cabeça: pacientes convivem com sequelas da Covid-19 há um ano

Tratamento tardio ou não adequado do coronavírus pode piorar as sequelas

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Sequelas são piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complicações causadas pela Covid-19 é feito tardiamente
Mais de um ano após ter Covid-19, a baiana Renilda Lima ainda tem 20% do pulmão comprometido, sofre com o cansaço diariamente, convive com perda de memória e tem baixa imunidade. A doença, contraída em maio de 2020, causou sequelas que persistem até hoje e que Renilda, de 34 anos, não sabe se conseguirá se recuperar. Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), 60% dos pacientes que tiveram Covid-19 no ano passado estão em condições de saúde semelhantes, mesmo após um ano da alta hospitalar.

Perda de sentidos e de memória são sintomas comuns

A perda do paladar e do olfato, sintomas comuns no período de infecção, também está entre as sequelas de longa duração. O estudante de Engenharia Ambiental e cozinheiro Emmanuel Ramos, de 20 anos, afirma que os dois sentidos estão "distorcidos" e que os cheiros de alguns temperos foram perdidos.
"Tenho enjoos também quando sinto o cheiro de produtos de limpeza e até das queimadas que atingem minha região", disse Ramos, de Palmas. Nos dois casos, as sequelas alteraram a rotina anterior à Covid-19. Em relação a Emmanuel Ramos, o atrapalha na cozinha. Já Renilda parou de fazer faxina em casa, de ir à academia e sente que não pode desempenhar a mesma função de antes no trabalho, em que era gerente de um estacionamento, por também sofrer perda de memória.
Essa última sequela é relatada por 42% dos pacientes durante a pesquisa da USP. De acordo com os relatos ouvidos pelo Estadão, a perda de lapsos de memória é frequente na rotina e acontece a qualquer hora. "Às vezes, saio da minha sala de trabalho para beber água no corredor e no caminho esqueço o que fui fazer", descreve a acreana Sheyenne Queiroz, de 45 anos.
Ela contraiu a Covid-19 em novembro e não chegou a ficar no estado grave da doença, mas passou a sofrer com dores de cabeças fortes e esquecimento. "Cheguei a achar que estaria com aneurisma por causa da intensidade das dores de cabeça, mas, ao procurar um neurologista e fazer exames, ele me disse que se tratava de uma sequela da Covid-19", diz.
A neuropsicóloga do Instituto Alberto Santos Dumont Joísa de Araújo explica que as queixas mais recorrentes dos pacientes estão concentradas em esquecimento, dores de cabeça, ansiedade, sintomas depressivos e sensação de fadiga, inclusive em pessoas ditas "assintomáticas" durante o período de infecção. "Muitos jovens, que não tinham queixas anteriores, passaram a apresentar dificuldades de recordar questões do dia a dia", afirma.