Terapias online e por telefone são alternativas durante isolamento social

Impactados com a necessidade de ficar em casa, pacientes, psicólogos e psiquiatras se adaptam ao atendimento remoto

Por Fernanda Crancio

pg3 ruas vazias, centro, Porto Alegre, coronavírus
O isolamento social forçado pela disseminação da covid-19 trouxe mudanças drásticas à rotina de todos nós e, para além do vírus, fez surgir uma pandemia também de estresse, angústia e medo. Com isso, a demanda por cuidados com a saúde mental nunca esteve tão alta, fazendo com que profissionais da área tenham de adaptar os atendimentos às modalidades online e telefônica, quebrando a prerrogativa do encontro, tão valorizado nas consultas e sessões de terapia.
Psiquiatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e diretor tesoureiro da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Lucas Spanemberg comenta que a conduta é nova também para os profissionais, uma vez que os atendimentos remotos não eram reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina até o surgimento da pandemia e foram regulamentados ao longo do mês de março, de acordo com a "calamidade momentânea". "Os desafios são para profissionais e pacientes, estamos lidando com um fenômeno novo e aprendendo de acordo com a dinâmica dos acontecimentos. A ferramenta digital compromete o cenário do encontro entre terapeuta e paciente e traz situações inusitadas, como a questão da privacidade em casa. Estramos trabalhando com limitações neste primeiro momento. A maioria absoluta dos psiquiatras está migrando para isso, enquanto perdurar o isolamento", revela", relata.
Conselheira tesoureira do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (Crprs), a psicóloga Fabiane Konowaluk Santos Machado reforça que, apesar de adotado por alguns profissionais antes da pandemia, o atendimento online é novidade também para a maioria dos colegas. "Estamos lidando com uma situação nova, é uma grande mudança para todos nós. Tem aumentando significativamente o número de profissionais que buscam adotar essa modalidade e a procura dos pacientes, sensibilizados e impactados com os acontecimentos e as mudanças na vida", destaca Fabiane.

Covid-19 aumenta demanda por cuidados com a saúde mental

A pandemia da covid-19 aumentou a demanda dos serviços e atendimentos psicológicos e psiquiátricos e seus reflexos trarão graves implicações à saúde mental da população, temerosa e insegura diante da doença e desconfortável com o isolamento forçado.
A proliferação do coronavírus e a necessidade de resguardo em casa para evitar contaminação acarreta, além de muita insegurança e ansiedade, readaptação das rotinas familiares ao fechamento de escolas, academias, do comércio, de empresas e do impedimento de transitar livremente pelas ruas. Os impactos dessas ações sobre a saúde mental, agravadas pelas consequências econômicas futuras, ainda são uma incógnita, mas já refletem diretamente no aumento da demanda dos serviços e atendimentos.
Em um período difícil de isolamento social há problemas de convivência familiar- ou falta dela, conflitos pela dificuldade em lidar com a falta de autonomia, sobrecarga de trabalho remoto e doméstico e até de gerenciamento do tempo que se dedica aos filhos, amigos e tarefas. Dessa forma, profissionais da saúde têm apontado que as consequências desse período de quarentena e de temor com a doença podem levar ao adoecimento e acarretar danos psicológicos e emocionais cujos reflexos trarão graves implicações à saúde mental da população como um todo.
De acordo com o psiquiatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e diretor tesoureiro da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Lucas Spanemberg, editorial recente escrito por colegas gaúchos para a Revista Brasileira de Psiquiatria sobre a relação do medo da covid-19 e a saúde mental destaca que esse temor aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis e intensifica os sintomas nas pessoas que apresentam algum tipo de transtorno. “Somos seres sociais e o que ocorre atualmente vai contra o que vivemos, processar isso causa ansiedade e até depressão”, aponta o médico.
Diante do desconhecido e das incertezas as reações emocionais e o estresse se potencializam e podem desencadear transtornos depressivos e de ansiedade e agravar sintomas, o que reforça a importância do desenvolvimento de políticas e serviços de atendimento à saúde mental. “Estamos diante de uma situação sem precedentes e isso traz grandes implicações à saúde mental e é muito impactante, inclusive para os terapeutas, que também têm de lidar com essa situação de crise e calamidade”, ressalta Spanemberg.

Como manter a saúde mental na quarentena
  • Controlar a ansiedade para evitar desgaste emocional;
  • Manter ou desenvolver uma certa rotina (dormir, acordar e se alimentar nas mesmas horas de sempre)
  •  Desconectar-se da internet e da mídia em alguns momentos do dia;
  •  Buscar notícias de fontes jornalísticas confiáveis (evitar fakenews);
  •  Evitar conflitos em casa;
  •  Envolver-se com atividades que demandem comprometimento (um curso online, aulas de ginástica, apender um instrumento);
  •  Curtir a casa e as coisas que tem;
  • Conversar por telefone e online com amigos e parentes;
  • Priorizar o contato virtual e telefônico aos idosos;
  • Procurar movimentar o corpo durante o dia (serviços domésticos, descer escadas do prédio, caminhar no pátio de casa ou praticar exercícios online)
Fontes: psicóloga Fabiane Konowaluk Santos Machado e psiquiatra Lucas Spanemberg