Privatização da Corsan deve ficar para 2022

Ainda há chances de a venda ocorrer em 2021, mas perspectiva é que ocorra em fevereiro do próximo ano

Por Jefferson Klein

Leilão da companhia ocorreu em dezembro do ano passado
Apesar do processo de alienação da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) ter dado um passo à frente com a recente aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira a necessidade de plebiscito para ir adiante com a ação, a abertura de capital (IPO) da estatal, que inicialmente estava prevista para outubro, possivelmente acontecerá somente em 2022. O secretário extraordinário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto, adianta que há duas “janelas” para concretizar a privatização, devido à necessidade de levantar as informações financeiras dos balanços trimestrais da empresa, uma seria entre outubro e novembro de 2021 e a outra em fevereiro do próximo ano, sendo essa última a mais plausível.
“Eu diria que o mais provável é que esse processo escorregue para o início do ano que vem”, reforça Busatto. Ele salienta que, após a retirada da obrigatoriedade do plebiscito, agora começará a discussão sobre a minuta do projeto de lei que autorizará o procedimento de privatização da Corsan. A questão também será tratada com as prefeituras que possuem contratos firmados com a estatal.
Em março, o procurador Geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, chegou a afirmar que “no mesmo dia” em que houvesse a promulgação da emenda constitucional acabando com a necessidade de plebiscito para a venda da Corsan, o governo enviaria para a Assembleia Legislativa um projeto de lei autorizativo para a desestatização. No entanto, Busatto comenta que ainda não há uma previsão para o encaminhamento desse texto e acredita que a definição da modelagem do negócio deve levar alguns meses.
O secretário acrescenta que não foi batido o martelo sobre pontos como, por exemplo, qual será a participação do Estado na companhia que será repassada à iniciativa privada. Entretanto, está confirmado que será ofertado mais de 50% das ações, passando o controle da empresa para outro grupo. Há a perspectiva de que o Estado e até mesmo municípios (que possuem contratos firmados com a estatal, contudo não são atualmente acionistas dela) detenham uma fatia minoritária da empresa. Busatto considera que esse modelo permitiria aos entes públicos terem ingerência na companhia, podendo tomar ações como a indicação de conselheiros de administração e influenciar decisões.
O dirigente enfatiza que, apesar da Corsan ser uma empresa estadual, o serviço de saneamento é prestado para os municípios, o que deve despertar o interesse em algumas prefeituras de fazerem parte da companhia. A empresa atua em 317 municípios do Rio Grande do Sul, abrangendo cerca de 6 milhões de pessoas. Essas cidades passarão em breve pelos reajustes tarifários da companhia de saneamento, que incidirão nas faturas a partir de 1º de julho e oscilarão entre 4,56% e 12,19%.
A decisão da Assembleia Legislativa que revogou a realização de plebiscito para decidir sobre a privatização ou não da Corsan, também abrangeu o Banrisul e a Procergs - Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul. Busatto enfatiza que o atual governo não tem planos específicos para alienar o Banrisul e a Procergs. Segundo ele, essa será uma discussão que será travada pela próxima gestão. Porém, o secretário reitera que o plebiscito não seria o instrumento adequado para tratar desses temas.

Sindicatos farão consulta paralela com a população sobre alienação de estatais

A retirada da obrigatoriedade da realização de um plebiscito para autorizar a venda da Corsan não significa necessariamente que a população não terá sua opinião ouvida, mesmo que isso não tenha um peso legal para impedir o processo. O presidente da CUT-RS, Amarildo Pedro Cenci, revela que centrais sindicais, sindicatos e movimentos sociais relacionados a estatais que serão privatizadas farão uma consulta popular para saber a posição da sociedade sobre a alienação das empresas. Ele ressalta que os deputados e gestores que tomaram a decisão, sem ouvir a população, precisam arcar com esse ônus político.
“Tínhamos um tempo em que se falava em privatizar setores públicos que não dessem lucro, que gerassem prejuízo, mas recentemente o discurso mudou no sentido de repassar para o setor privado ativos públicos que dão resultado e são eficientes”, lamenta Cenci. Para o dirigente, se desfazer seja da Corsan, Banrisul ou Procergs é uma estratégia equivocada.
O dirigente aponta que, no caso específico da Corsan, um dos receios é quanto à prestação do serviço de saneamento com qualidade em locais em que a atividade é deficitária. “Fora que o governador disse que não ia fazer (a privatização), o que por si só já é um problema ético-político”, acrescenta. Cenci questiona que, se o governo pretende incluir os municípios como acionistas da Corsan, por que não decidiu adotar esse planejamento como prioritário, deixando a empresa ainda com um caráter público, em vez de passar o controle para a iniciativa privada.