Apesar de queda do petróleo, Sulpetro vê mercado de combustíveis ainda volátil

Por Jefferson Klein

João Carlos Dal'Aqua tomou posse ontem em seu segundo mandato
Mesmo com a diminuição do custo do petróleo no cenário internacional, é cedo para prever uma redução dos preços dos combustíveis no Brasil, avalia o presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Rio Grande do Sul (Sulpetro), João Carlos Dal’Aqua. O dirigente, que nesta terça-feira (15) assumiu o seu segundo mandato à frente do Sulpetro, para os anos de 2022 a 2026, reforça que o mercado continua volátil, dificultando qualquer prognóstico em curto prazo. 
Jornal do Comércio (JC) - A redução do preço do petróleo (nesta terça-feira o barril chegou a ser vendido um pouco abaixo de US$ 100 pela primeira vez no mês) abre margem para diminuições dos preços de combustíveis no Brasil e no Rio Grande do Sul?
João Carlos Dal’Aqua - Se a Petrobras seguir a linha dela e do mercado, ela dará um tempo para ver qual será a sinalização. Nós estamos naquela situação que colocaram o bode na sala e estão tirando, achando que está bom e não é assim. O barril a US$ 100 ainda é muito alto. Mas, acho que temos que acompanhar as flutuações, ter uma calibragem adequada para não se desestimular investimentos. Porém, o mercado está volátil, nem saímos da pandemia e o conflito (Rússia e Ucrânia) não sinaliza nada concreto. Então, acho que é esperar, mas os ventos nessa semana estão mais favoráveis do que foram na semana passada.
JC - Então, em princípio é cedo para apontar uma possível queda dos custos dos combustíveis?
Dal’Aqua - Acho que tudo é cedo, a não ser que tenhamos fatores políticos que influenciem. Se for uma questão só econômica é uma situação, mas tem que ver as pressões políticas, o ano eleitoral, essas coisas todas, que podem influir.
JC - Na sexta-feira (11), foi sancionado pela presidência da República o projeto que determina alíquota única de ICMS para os combustíveis (os valores aplicados para gasolina, etanol, diesel, biodiesel, GLP e GNV serão definidos pelo Conselho Nacional de Política Fazendária - Confaz). O que o senhor achou da iniciativa?
Dal’Aqua - Ele (presidente Jair Bolsonaro) está colocando a mão em um vespeiro, mas é muito importante que tenha colocado. É um assunto que há horas discutíamos muito seriamente: como é cobrado o ICMS. Nós não queremos que os estados quebrem, não é esse o foco, mas temos que adequar esse modelo.
JC - A medida é um avanço?
Dal’Aqua - Nós entendemos que sim, porque isso vai trazer segurança e vai inibir manobras tributárias que tumultuam o mercado. Temos que parar de ter uma alíquota diferente de Santa Catarina, onde alguém, ilegalmente, compra lá e descarrega aqui (no Rio Grande do Sul) tendo um benefício que prejudica o restante do mercado.
JC - Com as mudanças nos impostos, que também incluíram zerar o PIS/Cofins sobre o diesel, o presidente Bolsonaro disse que esperava uma redução de R$ 0,60 no litro desse combustível e que cobraria do Ministério de Minas e Energia explicações sobre o que já foi feito para notificar os postos que não diminuíram o preço. Como o senhor vê essa declaração?
Dal’Aqua - Eu vejo com cautela, porque hoje o que temos de realidade é uma obrigação de baixar o PIS/Cofins. As distribuidoras teriam que baixar isso para os postos, o que daria aproximadamente R$ 0,33 (por litro). Os postos estão recebendo (diesel) desde segunda-feira (14) com reduções, mas não ouvi falar de nenhum que tenha recebido na integralidade esses R$ 0,33. Os postos vão, certamente, se adequando, recebendo produto novo, fazendo um mix e vão operando nas novas condições.
JC - Dentro dessa lógica, é possível dizer que vai haver uma diminuição no custo na bomba com as mudanças dos impostos, mas não é possível afirmar de quanto será essa redução?
Dal’Aqua - Não, porque a gente compra de uma distribuidora e eu não sei qual a política de preços que essa distribuidora vai repassar. E nesses R$ 0,60 (de queda no diesel mencionada por Bolsonaro) já está incluindo o ICMS, que ainda é objeto de outras definições. Claro, o presidente tem os seus argumentos políticos, mas não é o posto que vai resolver isso sozinho, o revendedor está no final dessa cadeia econômica toda. Não estamos preocupados com notificações, porque, se vierem, vamos responder da maneira adequada. É do interesse do posto receber o combustível com preço mais baixo, porque vai estimular as vendas.
JC - Qual a sua avaliação sobre a política de preços de combustíveis da Petrobras, que defende a paridade com o mercado internacional?
Dal’Aqua - Preço caro é muito ruim, mas a falta de produto é muito pior. Alguma flutuação, acompanhamento, vai ter que ter sempre, para que não se desestimule o setor. Agora, claro que poderá ser discutido um fundo de amortização. Uma parte dos custos é nacional, então é possível avaliar um equilíbrio que não seja atrelado ao dólar e ao barril e se coloque um item de produção interna para amortizar (o custo do petróleo), mas não tem muito como fugir da flutuação, é uma commodity.