Pandemia atrasa funcionamento do polo químico gaúcho

Expectativa era que atividades tivessem começado no ano passado

Por Jefferson Klein

Complexo em Montenegro tem área aproximada de 700 hectares
Com as operações previstas para começarem ainda em 2021, o Polo Integrado da Química RS em Montenegro, na divisa com Triunfo, teve seu cronograma impactado pela pandemia do coronavírus. O presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Rio Grande do Sul (Sindiquim), Newton Battastini, argumenta que as incertezas geradas pela Covid-19 atrapalharam o planejamento, mas a expectativa é que 2022, mesmo com os reflexos da variante Ômicron, marque o início da atuação de empresas dentro do complexo.
Battastini recorda que as companhias Sulboro, que atua no segmento de fertilizantes à base de boro, e a Hipermix, da área de cimento e argamassa, estão entre as já confirmadas para se instalar na estrutura. Ele afirma que há outros grupos interessados, contudo, por enquanto, prefere não revelar os nomes. De acordo com o presidente do Sindiquim, a estimativa é que o Polo Integrado da Química RS, que ocupa uma área de cerca de 700 hectares (o equivalente a aproximadamente 20 parques da Redenção, em Porto Alegre), possa atrair investimentos superiores a R$ 200 milhões.
O dirigente acrescenta que o novo Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem/RS), programa de incentivo do governo gaúcho que foi modernizado no ano passado, facilitará a atração de empreendimentos para o setor químico. “O Rio Grande do Sul acordou para novos investimentos”, sustenta Battastini.
Já o secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, Joel Maraschin, enfatiza que o complexo químico é um ambiente propício para a instalação de companhias. “Acreditamos muito que 2022 será um ano crucial para que o polo consiga efetivar essa atração de empresas”, comenta o dirigente.
Ele recorda que o governo do Estado tem a possibilidade de dar descontos pelos terrenos do polo (que são de sua propriedade) de até 90% do valor de mercado do hectare adquirido por um grupo do setor químico e para o segmento logístico de até 50%. O dirigente destaca que no ano passado foram feitas diversas apresentações do complexo químico gaúcho para câmaras de comércio, representações diplomáticas estrangeiras, entre outros agentes. O secretário adjunto adianta que a iniciativa também será divulgada em uma missão do governo estadual aos Estados Unidos, que deverá ocorrer na primeira quinzena de março.
Apesar do otimismo com o polo químico para este ano, Maraschin e Battastini admitem que o setor recebeu um duro golpe com a Medida Provisória (MP) 1095/21 do governo federal, editada no último dia de 2021, que definiu o fim do Regime Especial da Indústria Química (REIQ). Os dois enfatizam que essa decisão, se não for revertida, significará prejuízo para as empresas dessa cadeia. O REIQ é um mecanismo que previa, até dezembro, a redução de 2,92% do PIS/Cofins incidente sobre a compra de matérias-primas químicas básicas da primeira e da segunda geração, como nafta, eteno, butadieno, polietileno e polipropileno.
Sobre o término do incentivo, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul publicou nesta sexta-feira (14) carta em apoio à indústria química. Conforme o documento, a MP contraria decisão do Congresso nacional que, em julho de 2021, votou pela extinção gradual do incentivo em oito anos. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Edson Brum, afirma que a interrupção abrupta do REIQ tira competitividade da indústria brasileira como um todo, não apenas do setor químico e petroquímico.
No Rio Grande do Sul, as cadeias produtivas da química e do plástico geram mais de 46 mil empregos diretos em cerca de duas mil empresas, segundo a Associação Brasileira de Química (Abiquim). Um levantamento encomendado pela entidade à Fundação Getúlio Vargas (FGV) informa que a extinção do REIQ pode provocar o fechamento de 9,1 mil desses postos de trabalho no Estado e, no País, a estimativa é de que 85 mil empregos ficaram ameaçados.
O estudo também revela que, sem o regime especial, a perda de arrecadação nacional pode chegar a R$ 3,2 bilhões e provocar uma queda de R$ 5,5 bilhões anuais no PIB brasileiro ao inviabilizar unidades industriais. A expectativa dos agentes do setor e da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul é que o governo federal reveja sua posição sobre o Regime Especial da Indústria Química ou que a MP que acabou com o incentivo seja derrubada no Congresso.