Novos setores devem aquecer crédito no Rio Grande do Sul

Cenário macroeconômico indica que tomada de crédito para o desenvolvimento do setor produtivo não será afetada

Por Luciana Radicione

Percentual de famílias endividadas chegou a 77,7% em abril
Agronegócio, inovação, energia solar e crédito imobiliário são as grandes apostas das instituições bancárias para fomentar o crédito tanto para pessoas físicas como empresas no Rio Grande do Sul em 2022. Apesar do encarecimento do crédito puxado pela alta de Selic - e perspectiva de novos aumentos ao longo do próximo ano - os bancos estão otimistas com um maior volume de contratações, especialmente em segmentos com grande potencial de expansão - como o da energia solar, inovação e imobiliário.
Ao longo de toda a pandemia, o Banrisul manteve um olhar expressivo sobre os números de diversos segmentos produtivos para, então, focar sua estratégia em atender a demanda de setores conforme o desempenho apresentado durante a crise. "Com essas informações, realinhamos nosso movimento de crédito conforme o impacto sentido em cada um dos setores", afirma Osvaldo Lobo Pires, diretor de Crédito do Banrisul. Segundo ele, o agronegócio, junto com o setor metalmecânico, foram os que tiveram melhor performance em meio à crise em 2020 e 2021. Somente a carteira de crédito do agro deve encerrar o ano com um crescimento de até 40%, percentual que deve se manter em 2022, a contar pelo crescimento da participação do banco gaúcho nas operações do Plano Safra, atualmente com um share de 11% no Estado, com um volume de R$ 5,2 bilhões contratados.
Em todas as operações de crédito, o Banrisul acumula um crescimento de 50% ao longo do ano até setembro e, segundo Pires, há espaço para mais crescimento. Uma das apostas para 2022 é o crédito imobiliário e o banco se mostra preparado para ampliar sua carteira a partir de um atendimento diferenciado que reúne condições comerciais especiais e uma rede com grande força de vendas.
"Vemos um grande potencial de expansão dessa carteira em 2022 e buscamos no mínimo a terceira posição em concessões neste segmento para pessoas físicas e empresas", destacou o diretor de crédito do banco. Atualmente, o Banrisul é a quarta instituição em volume de contratações de crédito imobiliário no Rio Grande do Sul.
Outras duas prioridades do banco gaúcho que serão mantidas em 2022 são o foco em inovação e o compromisso em investir em práticas socioambientais. No quesito inovação, o banco mantém um 'guarda-chuva de iniciativas de grande repercussão no Estado, caso do BanriTech - ciclo de aceleração de startups já em sua segunda fase -, investimentos em famílias de fundos para atender empresas inovadoras (com aporte de R$ 30 a R$ 40 milhões por fundo para pequenas empresas inovadoras e gaúchas), patrocínio master do NAVI, hub de Inteligência Artificial do Tecnopuc e o projeto Caldeira, onde o Banrisul, através de seu presidente, é um dos sócios-fundadores.
O Sicredi, presente com agências em 94% dos municípios gaúchos, manteve um crescimento de 30% em sua carteira de crédito ao longo dos últimos 12 meses, um período bastante "intenso", define o vice-presidente de Crédito da Central Sicredi Sul/Sudeste, Márcio Port. O setor rural foi o que puxou o crescimento, especialmente pelo encarecimento dos insumos, fato que demandou maior volume de recursos para financiar a produção. Fora o agro, a busca por recursos por empresas também se manteve aquecida ao longo de 2021 - também na casa dos 30%. Como uma das instituições que operam o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o banco alcançou a soma de R$ 1,3 bilhão contratados somente no Rio Grande do Sul.
De acordo com Port, o que vem chamando a atenção nos últimos anos, e que se manteve em 2021 e deve crescer ainda mais em 2022 é a carteira de crédito voltada a projetos de energia solar, tanto para residências como para empresas. "Nos últimos três anos mantemos uma participação de 40% em toda a energia solar instalada no Estado, um protagonismo que vem se mantendo e a perspectiva é de expansão, mesmo com as novas normativas que foram anunciadas", anuncia Port. A carteira de energia solar apresenta crescimento de 70% sobre o ano anterior. Foram quase 20 mil operações com um valor médio de contratação da ordem de R$ 47 mil em 2021. "O custo da energia tradicional e a escassez hídrica mostram que o futuro não é positivo para a energia", destacou.

Bancos de fomento apostam em crescimento moderado no próximo ano

Os bancos de fomento, que operam diversas linhas em prol do setor produtivo gaúcho, também estão otimistas com o cenário para 2022, mesmo diante do encarecimento do crédito e das possíveis turbulências do ano eleitoral. A palavra-chave é crescimento moderado. "Estamos voltando à normalidade, mas isso não nos dá uma perspectiva de grandes crescimentos. Acredito que em 2022 teremos uma expansão moderada, em parte apoiada pela sustentação de investimentos já passados e de outra parte pelos investimentos de média e longa maturação que começarão a dar resultados", avalia a diretora-presidente do Badesul, Jeanette Halmenschlager Lontra.
Neste ano, até novembro, a instituição mantém um saldo de operações ativas de R$ 1,98 bilhão e 302 novas operações que somam R$ 379 milhões contratados. "Esses números são maiores em relação ao primeiro ano da pandemia e o crescimento deve se manter em 2022", afirma a executiva. O agronegócio representa a maior parte dos desembolsos, cerca de 30%, seguido pelas prefeituras municipais.
A inovação também faz parte dos desembolsos do Badesul, com crescente participação em fundos de investimentos especialmente para startups. Nos últimos 10 anos, o banco trouxe cinco fundos para o Estado e o quinto deve ser anunciado em breve. "Até agora foram R$ 31 milhões aplicados em 14 startups do Estado dos mais diversos segmentos", afirma Jeanette. Uma das prioridades para 2022 é seguir apoiando o setor de turismo por meio de parceria com o Ministério do Turismo que já permitiu trazer ao Estado R$ 100 milhões para alavancar o segmento altamente prejudicado pelas restrições da pandemia. "Conseguimos reter outros R$ 100 milhões via Progetur, pois trata-se de um setor que precisa de ajuda para se recompor e por ser um importante motor da economia gaúcha", destaca.
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) está encerrando o ano com alta importante no nível de fomento. Está próximo dos R$ 3,7 bilhões em operações autorizadas nos três estados da Região Sul - a meta era de R$ 3,25 bilhões no início do ano. "Isso mostra que estamos tendo um desempenho maior e isso se dá porque o banco está buscando um diálogo com os parceiros e a diversificação dos recursos", aponta a diretora Operacional do banco, Leany Lemos
O banco deve ultrapassar os R$ 3,8 bilhões em operações contratadas em 2021, com mais de 8 mil contratos. Deste total, mais de R$ 1,3 bilhão é de crédito para investimentos apenas no Rio Grande do Sul. "Os números são melhores, sem dúvida, comparados ao ano passado. Em termos de resultado operacional, em outubro já conseguimos superar a marca de todo o ano anterior. É muito provável que tenhamos um segundo melhor resultado nominal na história do banco", sustenta Leany.
Para 2022, o maior desafio é o aumento da taxa Selic, o que acaba desestimulando os investimentos. "Trata-se de um efeito sistêmico e o crédito acaba ficando muito caro. É um desafio agora no fechamento de 2021 e terá efeito no próximo ano. Mas podemos avaliar de forma muito positiva o desempenho do banco, num período de retomada e de otimismo, em especial pelo desempenho do agronegócio e que é muito forte na economia do Estado", afirma.
Com o crescimento da carteira, o BRDE fez mudanças em seus programas de desenvolvimento, com ajustes na matriz de programas e linhas de crédito. "Criamos programas de Sustentabilidade Ambiental, de Sustentabilidade Social, de Energias Renováveis. Vamos arrancar 2022 já com os novos programas consolidados", destacou a executiva.